A questão de grana em uma viagem é sempre complicada, e acredito pessoalmente que o bombardeamento de informações hoje em dia por vezes mais dificulta do que ajuda. Desde que batemos o martelo sobre a nossa jornada, decidimos pelo cartão do Sicoob.
O Sicoob é um banco-cooperativa, e seu cartão permite sacar dinheiro em diversos países. Em meu mochilão por Bolívia e Peru, utilizei o caixa eletrônico sem maiores problemas. O dólar cobrado é o comercial do dia anterior, e não há taxas de conversão ou saque, apenas o IOF de 6,38% —e isso só depois que se tornou obrigatório.
Com o passar do tempo, no entanto, começaram a surgir alternativas, como o C6 Bank e o Wise. O perfil @tabaratoviajar, comandado pela Tamires, fez um vídeo bem legal explicando a diferença entre os dois:
Nós optamos pelo Wise, pela possiblidade de abrir contas em diferentes moedas, já que vamos passar por diversos países. Ainda restavam, porém, algumas dúvidas de como o cartão iria funcionar naqueles locais onde não é possível ter dinheiro na moeda local. Assim, partimos com o cartão da Wise e o Sicoob para nossa viagem.
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Wise em libra e euro
Antes de chegarmos à Tunísia, nosso primeiro destino, passamos pelo Reino Unido e pela França, onde usamos normalmente o cartão com dinheiro nas respectivas moedas, inclusive sem problemas no metrô de Londres, em que é possível usar seu próprio cartão, sem comprar bilhete.
Wise sem conta na moeda local
Foi na Tunísia que enfrentamos maiores dificuldades com o Wise —na minha opinião, porque isso não fica claro nas informações do site, ainda que tenhamos lido muita coisa e isso pode ter se perdido.
Já no primeiro saque no valor de 100 dinares tunisianos (R$ 170) no aeroporto, o cartão do Faraó, que possuía saldo em real, não passou. Recorremos ao Sicoob, que funcionou sem problemas. No dia seguinte, já que o dinheiro se evaporou em menos de 12 horas, como contamos aqui, tentamos novamente em diferentes caixas eletrônicos, mais uma vez sem sucesso (e mais uma vez, o Sicoob nos salvou).
Ao abrir um chamado, veio a explicação: não adianta ter saldo em real, é preciso que seja em euro, dólar ou libra esterlina. Sim, paga-se duas conversões. Após, então, passar o dinheiro do real para euro, moeda que escolhemos, finalmente o cartão funcionou.
Mas atenção! Quando fui usar o meu cartão, que tinha 4 libras esterlinas e o restante em euro, ele puxou primeiro da libra para depois pegar do euro, o que deu uma leve dor de cabeça na hora de calcular quanto de taxa estamos de fato pagando —aqui é tudo com base na fórmula da planilha do Excel (ou Google Sheets, no caso).
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Taxas: Wise x Sicoob
Como falei antes, o Sicoob não cobra taxa de conversão nem de saque, além de usar a cotação do dólar comercial do dia anterior. O que é cobrado são os 6,38% de IOF obrigatórios. O Wise, por sua vez, cobra cada conversão, além de incidir uma taxa a partir do terceiro saque do mês (o que vai mudar a partir de janeiro de 2023, segundo email deles).
Afinal, qual vale mais a pena? O Wise. Ele quase sempre vence (atenção para o quase), mesmo com taxas que num primeiro momento assustam. Até agora, o maior valor que pagamos em taxa de saque foi de R$ 15,47, na Argélia, que é um país complicado para sacar dinheiro (explico mais abaixo). Ainda assim, a taxa chegou a 5,13%, considerando a tarifa da conversão de real para euro, de euro para dinar argelino e a da retirada, pois já era o terceiro do mês.
O único momento que a taxa do Wise parece ficar mais alta que a do Sicoob é quando há uma cobrança do próprio banco pelo saque. Como a mesma tarifa seria cobrada no cartão da cooperativa, o Wise continua valendo mais a pena.
Lembra do quase? Ele está aqui no texto porque nem tudo é percentual. O Wise permite abrir conta em dirham marroquino, mas não permite a conversão diretamente do real para a moeda africana, forçando mais uma vez que paguemos duas conversões. Por termos elegido o euro como moeda padrão, mesmo com a taxa mais baixa, a cotação entre real e dirham ficou mais desvantajosa do que a obtida pelo Sicoob, pois o dólar estava mais em conta.
De maneira prática:
Taxas do Wise (conversão real > euro > dirham + taxa de saque + taxa de banco): 5,79% versus Taxas do Sicoob (taxa de banco + IOF): 7,09%
Cotação Wise: R$ 1 compra 1,73 dirham versus Cotação Sicoob: R$ 1 compra 1,83 dirham
Ao questionarmos não ser possível fazer diretamente a conversão do real para o dirham marroquino, o Wise não explicou o porquê, mas sugeriu que deixássemos um pouco em euro e um pouco em dólar para que, na hora da utilização, valha a melhor taxa de conversão. Isso feito, ele ainda assim puxou do euro, mas sem a taxa de saque, pois havia mudado o mês. No fim, a cotação ficou R$ 1 para 1,90 dirham, pois o euro também estava mais baixo.
Resumindo: é preciso muita atenção às cotações e às tantas moedas ditas disponíveis pelo Wise.
Limites
Algo que não havíamos atentado até esse início da viagem é quanto ao limite do Wise, então já deixamos a dica aqui se você for embarcar com um cartão do tipo. Há valores pré-definidos para as diferentes formas de usar o cartão —aproximação, chip e senha, saque etc.
Além do limite diário, existe aquele por uso, e o pré-definido é baixo, ainda mais quando tentamos aproveitar o máximo possível o saque feito, para evitar as taxas a partir de duas utilizações. Para as retiradas, o valor é de R$ 1.000, mas alterá-lo é bem fácil. No próprio aplicativo, é só ir em Gerenciar no menu inferior, acessar Limites da conta, escolher a opção que desejar alterar e clicar no botão que muda para o valor máximo (há só essas duas opções, pré-definido ou máximo).
O caso da Argélia
Passamos um pouco de sufoco na Argélia para conseguir sacar dinheiro, e isso nada tem a ver com Wise ou Sicoob, mas sim com o funcionamento dos bancos no país do norte africano.
Como não temos viajado com dinheiro em espécie, contamos com os caixas eletrônicos para sacar. Ao cruzar a fronteira da Tunísia, possuíamos 80 dinares do país, ou seja, 5.000 dinares argelinos, o que não era nem o suficiente para pagar o táxi até Annaba (ficaram faltando 1.000 dinares).
Ao chegar à cidade à beira do Mediterrâneo, passamos em quatro caixas diferentes —o do Correio local e o dos bancos do Exterior da Argélia, de Desenvolvimento Local e Société Générale (este de origem francesa). Nos três primeiros, o cartão não era aceito, nem Wise, nem Sicoob. No último, dava um erro na tela e não sacava.
Nossa salvação foi o Gulf Bank, que cobra, porém, uma taxa de 2% a cada saque. No dia seguinte, tentamos ainda o Crédito Popular da Argélia, o Banco Nacional da Argélia e o Fundo Nacional de Poupança e Previdência, além de outra agência do Société Générale, ainda sem sucesso.
A questão é que esses caixas eletrônicos aceitam apenas os cartões emitidos no próprio país, com a bandeira CB (carte bancaire) e a do Correio. Mais tarde, já em Argel, conseguimos sacar no Banco do Exterior da Argélia, já que a agência possuía um caixa para as bandeiras Mastercard e Visa. Também na capital havia outros bancos com essas bandeiras, inclusive o francês BNP Paribas, mas que ou não aceitavam o nosso cartão ou não concluíam a operação.
Assim, tivemos mais outro aprendizado para lidar com o nosso dinheiro: ter uma reserva em moeda estrangeira, em espécie. Isso vale principalmente para as travessias de fronteira, para não sermos pegos de calça curta, mas também para países em que pode ser mais complicado utilizar o caixa eletrônico.
Por fim, além dos cartões para débito e saque (e da reserva em espécie que vamos adquirir), também viajamos com três cartões de crédito, cada um com um limite diferente, sendo dois Mastercard e um Visa. Mas esses são apenas no caso de alguma emergência que exija esse tipo de cartão ou uma quantia mais alta da que dispomos no momento.
Atualizado em 9 de dezembro de 2022















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