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Interior da Argélia tem ruínas históricas, pontes e arquitetura francesa


Como era de se esperar da maior nação africana, e a 10ª na lista mundial, a Argélia é rica na diversidade de arquitetura, geografia, costumes e cultura. Pudemos ver essa variedade nos 12 dias em que viajamos pelo país.

Para rodar pelas estradas bem conservadas, o mais comum é usar táxi coletivo. Eles costumam dividir espaço com os ônibus nas rodoviárias, e o preço parece ser tabelado entre os motoristas. A desvantagem desse meio de transporte é que o carro só parte quando está com as sete vagas preenchidas. Também é possível viajar de ônibus —alguns dos veículos que utilizamos não era bem conservados— e de trem —ao contrário do nosso período na Tunísia, não aproveitamos esse modal.


Informações práticas*:
  • Média preço café da manhã: 115 dinares (R$ 4,60)
  • Média preço almoço: 600 dinares (R$ 25)
  • Média preço jantar: 250 dinares (R$ 10,50)
  • Média preço de hospedagem: 5.000 dinares (R$ 200)
  • Deslocamentos: ônibus, táxi compartilhado, metrô e carro
  • Dica: Vale fazer o download do mapa no Google Maps para se deslocar mais facilmente pelos pontos turísticos da cidade e dos idiomas árabe e português no Google Tradutor para facilitar na leitura dos menus
  • Visto: é preciso para entrar no país, mas o processo é simples. Saiba como solicitar
  • Idiomas: árabe (mais predominante) e francês

* valores para novembro de 2022 para duas pessoas


Annaba

Nossa primeira parada na Argélia foi Annaba, a 5ª maior cidade, no nordeste do país. Chegamos lá diretamente da Tunísia, e contamos aqui nosso perrengue na fronteira com um taxista confuso —para dizer o mínimo.

Assim que nos livramos do motorista e com alguns dinares argelinos no bolso, após inúmeras tentativas para sacar em caixas eletrônicos, saímos em busca de um hotel, prática que temos adotado em nossa viagem.

Estávamos cansados com toda a história da travessia, então ficamos felizes quando encontramos um quarto espaçoso com cama de casal e um grande banheiro por 3.500 dinares (R$ 140) —infelizmente não anotamos o nome do hotel, e ele não consta no Google. O prédio é bem localizado, próximo a uma praça e a várias cafeterias e lojas de roupas, gerando grande circulação de pessoas.

Annaba tem várias praças perto do centro histórico

O local, porém, não tinha café da manhã, o que foi rapidamente solucionado com as muitas boulangeries das redondezas. O pior mesmo era a falta de internet. E isso pesa para nós, já que atrapalha o contato com a família e as postagens diárias nas redes sociais.

No dia seguinte mudamos para o hotel Hoggar, a menos de 200 metros e na mesma rua do anterior. O quarto é mais caro (5.000 dinares; R$ 200) e menor, mas a hospedagem é mais moderna e oferece café da manhã e internet —não tão boa assim, mas o suficiente para avisarmos que estamos vivos.

Em Annaba, é forte a influência francesa na arquitetura

Como havíamos passado muito tempo em trânsito, tiramos o dia para caminhar por Annaba, percorrendo a Medina e também ruas movimentadas e muitos espaços verdes. Compreendendo melhor o dinheiro argelino —eles não dizem 10 mil dinares, e sim 1 milhão, entre outras peculariedades—, aproveitamos para fazer uma via crucis por caixas eletrônicos a pé.

No final do trajeto, chegamos à praia Rizzi Amor. Por ser sábado, o último dia do fim de semana muçulmano, as pessoas aproveitavam a orla para passear, namorar e entreter as crianças em brinquedos como cama elástica e cavalinhos de plástico.

O frio nos impossibilitou entrar na água na praia Rizzi Amor

Corredores que somos, vimos que o calçadão da orla favorece a prática esportiva, o que nos motivou a tirar o tênis da mochila na manhã seguinte e percorrer 4 km pela primeira vez em terras africanas. Kipchogue que se prepare quando chegarmos ao Quênia.

Nosso objetivo, após o treino matinal, era visitar a Basílica de Santo Agostinho. Entretanto, como estamos num período de mudanças alimentares e adaptação aos temperos regionais, nossos intestinos estão trabalhando irregularmente, o que fez nossa tarde ser mais tranquila e ficarmos observando a vida local na praça em frente ao hotel.

Após vários dias falando francês com os tunisianos, acreditamos que teríamos a mesma facilidade na Argélia, já que ambos os países têm o idioma como uma das línguas oficiais. Não foi isso que aconteceu, e isso influenciou em nossa alimentação.

Em muitos restaurantes o menu estava só em árabe, e o atendente não conseguia nos explicar o que tinha no prato. Assim, comemos muito sanduíche de shawarma, sempre acompanhado de batata frita. Ao acaso, descobrimos um restaurante em que o gerente falava bem francês, o que nos possibilitou a primeira incursão na gastronomia argelina: o chakhchoukha, mininhoques acompanhados de frango, por 700 dinares (R$ 29).

O chakhchoukha, mininhoques com frango, foi nosso primeiro prato argelino

Para sair de Annaba, o recepcionista do hotel nos indicou pegar um táxi coletivo. Estávamos reticentes após nossa má experiência na fronteira, mas ele afirmou que os ônibus na região não são bons. Até tentamos descobrir informações sobre trens, mas o funcionário da estação não soube se comunicar em francês.

A estação de táxis coletivos fica próxima à rodoviária, então aproveitamos para perguntar sobre valores e horários —é o famoso “vai quê?”. O prédio é velho e mal cuidado, e alguns poucos ônibus estavam estacionados. Indagados, três homens nos explicaram, após um debate acalorado entre eles, qual lotação pegar para chegar à rodoviária nova. No fim, resolvemos viajar com um táxi coletivo, a 600 dinares (R$ 25) por pessoa.

Constantine

Após duas horas de estrada, chegamos ao terceiro maior município argelino, também conhecido como a cidade das pontes. E logo descobrimos o porquê da alcunha: as estruturas ligam duas grandes formações rochosas, onde os habitantes construíram suas casas. Assim, é necessário passar pelas pontes para transpor o vale.

Como a estação de táxis fica no pé das rochas, precisamos subir 4 km ladeira acima, com as mochilas nas costas. Aí começou nosso projeto bumbum na nuca verão 2024. No caminho, vimos como os franceses influenciaram a arquitetura local. Dias depois, nosso amigo argelino nos contou que os europeus invistiram bastante para esconder a herança otomana.

Constantine é conhecida como a cidade das pontes

A Pati já tinha feito uma pré-seleção de hotéis no centro da cidade, então tínhamos uma ideia de onde procurar. Após uma cotação em três locais —todos com recepção após lances de escada—, optamos pelo hotel El Maghreb. O quarto foi o maior que encontramos até agora, e o banheiro não deixava a desejar. O problema, mais uma vez, era a internet instável.

Depois de um breve descanso de tanto andar morro acima, pedimos indicação para a recepcionista de onde almoçar e ela, diante de nossas caras de estrangeiros abonados, sugeriu um local turístico. Tentamos olhar pelo lado bom, já que o cardápio era em francês e com muitas refeições tradicionais. A sorte, porém, não estava a nosso favor, e vários dos pratos já tinham acabado. No fim, comemos trida, uma massa com frango e um 1,5 L de água, por 800 dinares (R$ 33).

De barriga cheia, fomos desbravar Constantine. Em outras palavras, subir morro. Num dos pontos mais altos da cidade está o Monumento aos Mortos, dedicado às vítimas argelinas da Primeira Guerra Mundial. Para quem vai a pé montanha acima, é preciso disposição, mas a vista panorâmica da região vale muito a pena.

Para voltar ao hotel, descemos o morro e cruzamos o rio pela ponte Sidi M’Cid. Aqui, o que é necessário é coragem, porque eita ponte alta! Pretendíamos ainda visitar o Palácio Ahmed Bey, mas demos de cara com a porta fechada. A cidade também abriga uma obra de Oscar Niemeyer, a Universidade Constantine, mas não a visitamos.

De noite, após descansar e tentar aproveitar a internet instável, partimos em busca do jantar. A região estava deserta e só encontramos lanchonetes pequenas, de bairro. Os atendentes não falavam francês, então apelamos para a tradicional mímica, e até teve garfo para provar a comida, que era muito boa, por sinal.

Prato que comemos após muita mímica, e que não sabemos os ingredientes

No dia seguinte, voltamos ao Palácio Ahmed Bey, a cinco minutos do hotel, e descobrimos que a porta que havíamos tentado antes era a dos fundos, enquanto a entrada principal era grande, com letreiro e tudo. O guia, estagiário, nos mostrou os quartos e corredores, e nos explicou que os azulejos foram importados de vários países e os murais eram representações por onde o importante advogado e administrador tinha passado em sua viagem de 15 meses pelo Oriente Médio.

Batna

De Constantine partimos em um táxi coletivo para o sul até Batna. No veículo conhecemos Sarra, uma estudante de medicina que nos mostrou o quão simpático é o povo argelino. Com um bom inglês e francês, ela nos ajudou em relação aos ônibus urbanos —inclusive pagou nossa passagem— e, quando viu que seria difícil chegar ao nosso destino, pediu um táxi via aplicativo. Se não tivessemos insistido em pagar, ela o teria feito.

Sarra, a jovem que nos ajudou na nossa chegada a Batna

Na cidade, nos hospedamos pela primeira vez usando o Couchsurfing, plataforma que conecta viajantes e anfitriões que têm um quarto ou um sofá disponíveis, sem cobrar nada por isso.

Zinou Yahoui é um guia turístico que atua por toda a Argélia, com viajantes solos ou em grupo. Ele atua em outras frentes também, como em sua loja de equipamentos esportivos e de aventura, além de ser presidente de um clube de motociclistas. Por coincidência, Zinou também hospedou o Guilherme Canever, autor de vários livros de viagem, em sua passagem pelo país.

Assim que chegamos a sua casa, ele nos levou para registrar nossa estadia na cidade, uma burocracia tradicional argelina. Não só hoteis precisam informar as autoridades, mas também quem aluga por Airbnb ou qualquer pessoa que receba estrangeiros. Finalizada a parte chata, Zinou nos levou pela cidade em seu carro, e constatamos quão caótico é o trânsito no país.

No dia seguinte, fomos os três para Timgad, local a 35 km de Batna que guarda ruínas do Império Romano. A cidade era tão grande que ficou conhecida como a segunda Roma. Falamos mais aqui sobre esse patrimônio mundial da Unesco.

Timgad, conhecida como a segunda Roma

Após o almoço, pegamos mais um tanto de estrada até o mausoléu do rei berbere Numida Medghcen, uma enorme construção de pedras que lembra uma oca brasileira. Infelizmente, é proibido entrar na estrutura porque já tiveram alguns desmoronamentos internos.

Em nosso terceiro dia em Batna, acompanhados de Zinou, visitamos a garganta de Tughanimine, uma das portas do Saara, e o desfiladeiro de Ghoufi, um enorme vale onde é possível ver casas antigas hoje inabitadas —apenas uma senhora ainda vive lá.

Durante a revolução, os franceses construíram no lugar um hotel para mostrar que não havia resistência. Para chegar ao local é necessário bom preparo físico, pois a rodovia fica no alto de uma montanha e a obra está no monte oposto. Levamos cerca de duas horas de carro para ir, e a caminhada no desfiladeiro durou por volta de 60 minutos.

No desfiladeiro de Ghoufi está um hotel construído por franceses, hoje abandonado

Vimos pouca presença francesa na arquitetura em Batna e, segundo nosso anfitrião, como a cidade não tinha muita herança otomana, os europeus deram pouca atenção aos prédios. Visitamos o teatro do município e, como Zinou é bem relacionado, fizemos um tour no interior e, ao fim, acompanhamos o ensaio de uma peça. As falas eram em árabe, mas as emoções foram poliglotas.

Ghardaia

Viajamos para Ghardaia, a 600 km de Batna, em um ônibus noturno. Deveríamos chegar ao nosso destino às 6h, mas o coletivo parou às 4h em uma outra cidade para fazer baldeação. O problema é que não souberam nos informar sobre isso e, assim que descemos do primeiro veículo, o segundo partiu. Para trás ficamos nós e três argelinos.

A confusão ficou completa quando um taxista que não falava francês nos infernizou para que fôssemos com ele. Ainda com a experiência negativa na fronteira em nossa memória, Pati fincou o pé e disse que não se moveria dali até entender o que estava acontecendo.

Recorreu, então, ao motorista do ônibus para saber o que fazer. Ele levou o grupo para uma sala da rodoviária onde deveríamos esperar, por duas horas, a chegada de outro veículo para então seguirmos viagem.

Tínhamos pesquisado que em Ghardaia há um albergue da juventude e, assim que chegamos à rodoviária da cidade, partimos para lá. Infelizmente não havia mais vagas, o que gerou um debate acalorado entre o casal para saber os próximos passos. Após recobrarmos as energias com café e pain au chocolat, avaliamos que o melhor era andar 4 km até o centro da cidade, onde encontraríamos opções de hospedagem.

O quarto no hotel Atlantide custou 3.000 dinares (R$ 198) e tinha, além de três camas de solteiro, um espaço para a privada e outro para a ducha, duas pias e uma ampla sacada. O tempo quente e o espaço ao ar livre nos inspiraram a lavar um tanto de roupas.

Enquanto procurávamos hospedagem, de manhã, vimos muita gente nas calçadas e um mercado a céu aberto bem movimentado. Depois do banho, no início da tarde, o cenário tinha mudado completamente. Por ser sexta-feira, o primeiro dia do fim de semana muçulmano, os fiéis se dedicam às orações e ao descanso. Assim, percorremos as ruas desertas da parte histórica sem encontrar uma viva alma. Achamos apenas um restaurante aberto, onde tivemos nossa primeira experiência gastronômica negativa.

Ghardaia estava deserta na sexta-feira, dia de descanso dos muçulmanos

Como os moradores estavam reclusos e sem muito o que fazer na região, dedicamos o resto do dia a ficar no hotel. De noite, ao procurar comida, descobrimos que existe sanduíche de fígado, para desgosto da Pati.

Se na sexta-feira Ghardaia estava deserta, no sábado fervia. Para visitar a parte histórica é obrigatório estar acompanhado de um guia, e quem nos levou foi Bakir, um senhor bem-humorado que falava inglês, além de árabe e francês.

Durante o passeio, ele nos apresentou a configuração de uma casa tradicional, dividida em térreo, com um quarto e dois cômodos para a ducha e para a privada; subsolo; e 1º andar, a céu aberto, com outros quartos para os dias quentes e um cômodo especial, acima da rua, de onde é possível ver quem bate à porta através de um buraco no chão.

Visitamos também a mesquita e um espaço com vários itens antigos do dia a dia dos moradores. O guia também nos explicou que a solidariedade permeia até hoje o convívio das pessoas e que jovens ficam à disposição de madrugada para ajudar os vizinhos, caso precisem ir ao médico, por exemplo.

O que nos chamou a atenção, durante o passeio, foi ver mulheres usando uma túnica toda branca, com apenas um olho à mostra, traje tradicional da região.

Moradora de Ghardaia com trajes tradicionais

Como iríamos viajar a Argel num ônibus noturno, fomos para a rodoviária algumas horas antes da partida. A estrutura deixa muito a desejar quanto a conforto e variedade gastronômica, mas o tempo de espera fez render a leitura. Em breve contaremos sobre nossos dias na capital argelina.

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