África ou Europa? Argel nos dá essa sensação boa parte do tempo pelo qual estamos passeando pelas ruas da capital da Argélia. Se por um lado os prédios possuem uma fachada típica francesa, com pequenas sacadas e suportes adornados e extremamente bem preservada na orla, por outro quanto mais se entra no coração da cidade, mais degradadas ficam as construções.
Se há cafés com mesas na calçada e patisseries a torto e a direito, eles estão intercalados por restaurantes com peças de shawarma. E se há um belo jardim botânico bem verdejante, nas partes menos favorecidas, em especial na kasbah, o lixo se acumula a olhos vistos.
Nessa mistura —que não é do Brasil com Egito, mas do árabe com francês—, Argel se constitui de maneira diferente do interior do país, sendo bem mais cosmopolita e ocidental que as demais cidades que visitamos. Inclusive, há mais francófonos na capital.
Informações práticas*:
- Visto: é preciso para ingressar no país, mas o processo é simples. Saiba como solicitar
- Idiomas: árabe e francês
- Do aeroporto para Argel: ligação por trem a 80 dinares (R$ 3,30). Os horários estão disponíveis aqui
- Hospedagem: Hotel Sami, 5.500 dinares argelinos (R$ 234) a noite para o casal no quarto duplo privado c/ banheiro completo, TV, Wifi e café da manhã
- Transporte público: há uma linha de metrô a 50 dinares argelinos (R$ 2) o bilhete, além de ônibus e tram
- Dica: perto da estação Agha, de onde sai o trem para o aeroporto, há várias opções de hotéis, todos com faixa de preço parecida. Também vale fazer o download do mapa no Google Maps para se deslocar mais facilmente pelos pontos turísticos da cidade
* valores para novembro de 2022 para duas pessoas
Passeios
As atrações turísticas de Argel não são muitas, e com disposição para caminhar (ou mesmo utilizando a linha de metrô da cidade) é possível fazer tudo no mesmo dia —mas recomendo ficar ao menos dois, para poder curtir um pouco mais o clima nas ruas da cidade. A orla faz parte da área bem conservada da cidade e pode ser um passeio gostoso, além de ser propícia para dar um corridinha, o que fizemos.
Um dos atrativos é a igreja Nossa Senhora da África (Notre Dame d’Afrique), uma das poucas católicas no país muçulmano. É bonita por fora e interessante por dentro. Além da nossa senhora negra, traz no altar a frase: “Nossa Senhora da África, rogai por nós e pelos muçulmanos”. As paredes, por sua vez, são formadas por placas de “reconhecimento”, instaladas a pedido de diversas pessoas. Como fica no alto, a visita oferece ainda a oportunidade de apreciar a vista de Argel com o azul do mar Mediterrâneo.

Outro passeio interessante é pela kasbah, a parte antiga da capital argelina. Mais uma vez, é preciso disposição, já que há incontáveis subidas e degraus. O cenário nos fez lembrar as favelas brasileiras, não só por ser íngreme, mas também pelo estado de conservação das casas e do lixo espalhado. Claramente, esse setor da cidade não recebe a mesma atenção do setor público. Em comparação, na orla, há aqueles carros de limpeza de rua vistos na Europa.
No meio da kasbah há ainda pelo menos dois museus, que optamos por não visitar. Um deles é Museu Ali la Pointe e o outro, Museu Nacional de Artes e Tradições Populares.

Optamos por conhecer o Museu Nacional do Bardo (200 dinares argelinos, R$ 8,50, a entrada), que, além de abrigar uma coleção de objetos da África Subsaariana, é um palácio muito bem conservado. Há diferentes alas, com tapetes de encher os olhos e quartos com paredes e tetos coloridos.
Ainda não cansou de subir e descer? O Monumento aos Mártires está no topo de um dos (muitos) morros da cidade e homenageia os combatentes argelinos na revolução pela independência. Infelizmente, só é possível apreciá-lo de fora, ainda que seja bem de perto, pois o centro é guardado por militares argelinos (aliás, eles estão por toda parte).
Embaixo do monumento, há um museu e, na mesma região, outro, o do Museu do Exército Popular, além de uma extensa praça. Foi lá também que encontrei o imã de geladeira da Argélia para minha coleção. Ao longo de nossa passagem pelo país, não vimos lojas de souvenires com itens do tipo —apenas uma barraca em uma feira em Constantine. Em Argel, antes de lá, encontramos uma loja, mas não eram muito bonitos, além de os de cerâmica serem mais caros.
De volta ao passeio, do monumento é possível pegar um bondinho a 20 dinares argelinos (R$ 0,85) para o Jardim Botânico Hamma (descobrimos isso só quando chegamos lá embaixo). A entrada é paga e custa 150 dinares argelinos (R$ 6,40), mas é um passeio agradável de se fazer. Há mesas para piqueniques e diversos bancos espalhados sob as árvores.

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Transporte na cidade
Argel possui uma linha de metrô, mas muito bem cuidada e que liga os principais pontos da capital, ainda que não chegue tão perto da Nossa Senhora da África. Cada bilhete custa 50 dinares argelinos (R$ 2). Há também ônibus, na maioria em mau estado de conservação, e um bonde.
Já para o aeroporto, o trajeto é bem simples. Da estação Agha, no centro, sai um trem que para em apenas outros dois pontos: El Harrach e Bab Ezzouar. Ou seja, em 30 minutos chega-se ao principal ponto de entrada e saída do país, ao custo de 80 dinares argelinos (R$ 3,30). Só é importante saber que a estação fica a cerca de cinco minutos de caminhada do terminal internacional, então é bom planejar os horários.

Onde comer
Mesmo tendo ficado três dias na cidade, não variamos muito de restaurante. Os almoços foram sanduíches de shawarma e os jantares, todos no mesmo local. Mas recomendamos a visita neste último, o Pizza 2 Pizza, praticamente em frente ao hotel.
O dono não é muito de puxar conversa e parece sempre meio apressado, porém é muito receptivo, como a maioria dos argelinos, além de oferecer uma boa comida. Ao saber que era nossa última noite no país, nos ofereceu o jantar: coxa de frango assada no forno, arroz e fritas, muito bem temperados e saborosos.
Outra característica da cidade, como já falei antes, são as patisseries —mas nem todas servem quitutes tão gostosos assim. Por isso, recomendo a que fica logo antes do Hotel Britannique, subindo a rua pela contramão. É bem movimentada e tem bastante variedade, para todos os gostos: salgados folhados, cookies, bolos e aqueles doces que enchem os olhos.
Também vale experimentar a tâmara argelina, que nos disseram ser uma das melhores. Deixamos para o final, mas realmente vale a pena. É doce, porém sem ser enjoativa como a que comemos na Tunísia. Pela cidade, há diversas lojas e feiras que vendem a fruta in natura.
Sobre sair da Argélia
Você já deve ter lido por aqui sobre a nossa estressante entrada na Argélia (se não leu, volte dois textos). Pois é, sair do país também não foi o mamão com açúcar que se pode imaginar, mesmo sendo pelo aeroporto. A questão começa com o número de barreiras para conseguir sentar no seu assento no avião.
Há um raio-x na entrada do terminal, uma checagem na entrada da área de embarque (quando fornecem um documento para preencher), o controle do passaporte, raio-x para a área de embarque, a alfândega, a entrada no finger (não a da companhia aérea, outra) e uma revista das bagagens. Tudo isso é feito por policiais, não por terceirizados do aeroporto, como vemos no Brasil, além de haver mais um na porta do avião e diversos espalhados pelo saguão.

Mais especificamente no controle de passaporte, passamos por um momento de leve estresse. Tivemos de passar separados (até aí, tudo bem), mas ficamos de cinco a dez minutos esperando nosso documento ser checado. Para mim, perguntaram a profissão, mas para o Faraó quiseram saber onde ele se hospedou, ao que ele respondeu o hotel de Argel, e qual o endereço —“Argel”, era o que ele sabia dizer. Não entendemos bem o porquê desse rigor, ainda mais porque estávamos saindo do país.
Pessoalmente, acho uma pena imporem essas dificuldades ou mesmo um medo (que, claro, tem a ver com a gente também), apesar de o processo de visto ser simples, como já explicamos por aqui. A Argélia é um país com lugares incríveis para conhecer e um povo muito receptivo e caloroso e com um potencial turístico enorme. Quem sabe num futuro isso não mude para melhor, não é mesmo?










































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