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As pessoas e amizades que a estrada nos dá


Sabe aquele pensamento good vibes, meio hippie, de que, quando você está aberto ao mundo, coisas boas acontecem? Surgem pessoas legais, oportunidades incríveis e histórias engraçadas para contar no bar —ou num blog? Não é que é verdade?

Algo que eu ansiava nesta viagem era o tipo de gente que encontraria, as conexões que poderia formar da maneira mais inesperada. É por isso que eu estava tão feliz em, já na primeira cidade, me hospedar num hostel. São muitas lembranças boas dos albergues em que fiquei nos meus primeiros mochilões, na Europa e na América do Sul, em 2010 e 2011.

Agora, em Túnis, a configuração do prédio favorecia o entrosamento entre os hóspedes: em uma riad, há um grande salão central, margeado pelos quartos. Então, para sair do prédio, você obrigatoriamente passa por ali. Além disso, ali também era servido o café da manhã, no estilo self service —que os mochileiros adoram, já que comem como se fosse a única refeição do dia, e muitas vezes é.

Após dois dias de viagem de avião, começamos tímidos, sentados no nosso canto, nos deliciando com a infinidade de tâmaras e torradas. Uma senhora asiática, na faixa dos 70 anos, puxou assunto e logo nos mudamos para a grande mesa redonda, onde todos os viajantes desaguavam. As conversas matinais, regadas com uma grande garrafa térmica de café, foram prazerosas.

Descobrimos que Kyonghui, a matriarca dos viajantes, com cidadania coreana e americana, intercala meses percorrendo o mundo e meses em sua casa, no Texas. Dani, uma brasileira nipônica com cidadania italiana, saiu do país aos 18 anos e hoje, 7 anos depois, é professora de ioga.

No hostel em Túnis, encontramos gente da Espanha, dos EUA, do Marrocos, do Brasil e da Tunísia

Também conhecemos Achraf, um tunisiano beirando os 30 que foi a um festival de cinema na capital. Ele nos chamou para ir a sua casa, em Sfax, mais ao sul. Num primeiro momento, tínhamos pensado em conhecer o local, mas, após comentários de ser uma cidade industrial, desistimos. Com o convite, retomamos o roteiro original.

E foi ótimo ter contato com uma família da Tunísia! Lá, ouvimos tanto sobre a cultura e tradições do país quanto histórias deles, sem falar que nos esbaldamos em tanta comida.

A família de Achraf, que nos recebeu em Sfax

O hostel em Túnis também nos rendeu uma outra amizade especial: Carmén. Coincidentemente, nos hospedamos no mesmo local em Sousse, mais ao sul, e fomos juntos a El Djem, onde está um Coliseu tão marcante quanto o de Roma.

Ela nos convidou para ficarmos em sua casa em Málaga, mas, como nossa passagem pela Europa está prevista apenas na 3ª temporada, lá por 2025, achamos que seria algo muito longínquo. Não é que surgiu a oportunidade antes do previsto, semanas depois?

Precisamos fazer um pit stop entre Argélia e Marrocos, e aproveitamos o convite para ter três dias de muito conforto, com sofá e maratona de série na Netflix, um combo maravilhoso para descansar após vários dias de viagem.

Mal andamos por Málaga, mas ela já entrou na lista de lugares onde poderíamos morar. Deu calor no coração ver motoristas de carro convivendo harmoniosamente com pedestres, pessoas aos montes andando de patinete, gente praticando corrida, cafés com bocadillos… Só não curtimos a ideia de que os cinemas têm apenas filmes dublados.

Conexões locais

As andanças pela África também renderam encontros inusitados, como quando um policial dividiu com a gente o jantar feito por sua mãe. Só queríamos saber o caminho até o hostel, mas ele já enfiou pão em nossas mãos e nos convidou a comer, ali mesmo, em pé, um prato típico da Tunísia.

Também conhecemos assim, do nada, Sarra, uma jovem e simpática estudante de medicina. Ela estava no mesmo táxi compartilhado que a gente, em direção a Batna, e, no fim da viagem, puxou assunto. Ela acabou nos ajudando com o transporte público e inclusive pagou nossa passagem e nos comprou suco —só não pagou nosso táxi porque insistimos.

Sarra, a jovem que nos ajudou na chegada a Batna

Na nossa passagem pela Argélia, tivemos contato, mesmo que curto, com pessoas simpáticas e sempre dispostas a ajudar, e isso me alegrava muito, já que um dos meus objetivos da viagem era conhecer gente local. Quando chegamos ao Marrocos, acreditamos que seria assim. No entanto, uma série de situações nos deixou fechados para interações com os nativos. Eles puxavam assunto, mas logo percebíamos que era com algum interesse.

Na Medina de Tétouan, um senhor começou a nos acompanhar e falar sobre as lojas, nos direcionando a uma área. Logo nos fechamos e caminhamos em outra direção. Após eu e a Pati conversarmos sobre a experiência, resolvemos ficar de boa caso isso acontecesse novamente, para ver aonde iria dar.

Nem uma hora depois outro senhor nos abordou e, quando soube que éramos brasileiros, passou a falar em portunhol. Nos disse que no terraço de sua cooperativa se poderia ver bem o alto da Medina. Depois, passou minutos desdobrando seus tapetes, nos mostrando item por item, e não gostou muito quando dissemos que nada levaríamos.

Por fim, nos levou a uma loja de produtos naturais e quis nos apresentar a Medina. Ele nos guiaria por locais que não chegaríamos naturalmente, já que teria que andar por passagens minúsculas, que só os nativos conhecem. Como brasileiros que somos, ressabiados com tantos golpes no nosso país, o sinal de alerta tocou alto. Falamos que voltaríamos para o hotel, fora da Medina, e ele nos pediu uma contribuição pelo passeio. Ali vimos que, diferentemente da Argélia, a simpatia tem seu preço.

Nossas andanças pelas outras cidades do Marrocos nos mostraram que é difícil confiar nas pessoas, com seus “conselhos desinteressados”. Em ao menos duas vezes jovens nos disseram que o caminho que escolhêramos estava fechado. Fechado ficamos nós a interações, a ponto de eu querer ficar menos nas Medinas, onde pulsa o coração da cidade, para não ter que aturar golpistas.

Depois de nossa passagem pela Mauritânia, onde apenas crianças pedindo dinheiro nos abordavam insistentemente, tivemos no Senegal um encontro muito legal com Mustafá, um professor de matemática.

Ele nos viu conversando em português e perguntou qual idioma era. A partir daí, nos sugeriu passeios por Dakar e saiu de seu caminho para nos levar a casas de câmbio e a um mercado de artesanato local.

Mustafá nos contou sobre sua família e as tradições senegalesas. Durante o tour, apontou as tendas onde compra frutas mais baratas e nos disse que também leva seus filhos ao mercado de roupas locais, para que deem valor à sua cultura.

Quando entramos na Gâmbia, porém, a situação mudou de figura. Não só na fronteira —que é bem comum, diga-se de passagem—, mas as pessoas sempre nos abordam para oferecer algo. Gritam, até do outro lado da rua, “hey, mister”. O pior é quando fazem aquele barulho que nós, brasileiros, usamos para chamar cachorro. Mesmo sabendo que é algo natural aqui, o sangue ferve na hora.

Nosso futuro?

Mas vamos voltar a falar de coisa boa? Mochileiros costumam criar boas conexões entre si, já que têm a mesma ideia de mundo. Afinal, é difícil uma pessoa fechada e conservadora se jogar na estrada, principalmente em regiões onde viajar é mais difícil, se compararmos com a Europa.

Mas nos surpreendemos ao criarmos uma boa relação com um grupo multinacional no nosso passeio pelo deserto marroquino. Afinal de contas, era uma expedição cara, com hospedagem em tendas de luxo e paradas para almoços superfaturados.

Nos três dias de passeio, estreitamos laços com três casais: um italiano, com a mesma idade que a gente, um britânico, na faixa dos 50 anos, e um casal formado por uma tailandesa, também com seus 50 anos, e um americano, duas décadas mais velho que ela.

Apesar da diferença de idade, a conexão foi imensa, a ponto de nos reunirmos após a expedição, em Marrakesh, para uma última refeição juntos, em que compartilhamos muitas histórias e ótimas gargalhadas.

O mais legal desse passeio, no entanto, foi praticamente vermos nosso futuro no casal britânico! Eles têm inúmeras histórias da estrada e já fizeram uma longa viagem pelo mundo e agora, tendo voltado à “vida normal”, aproveitam as férias para conhecerem novos destinos.

Além disso, compartilhamos muitas ideias, como a de não ter filhos, ela adora animais e trabalha com pet sitting, enquanto ele usa roupas de viagens antigas —alô, calça verde boliviana!— e tinha uma longa barba e dreads até recentemente. Com eles, tivemos um gostinho de como seremos em duas décadas.

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