Dacar é um centro urbano fervilhante. Chegamos em um sábado à noite, quase uma da manhã, e a capital do Senegal não dava sinais de parar tão cedo —inclusive, pegamos um engarrafamento.
Com praias, monumentos e restaurantes, a cidade reúne de tudo um pouco para todos os gostos, desde que o visitante curta um calor de 30ºC em pleno inverno e não se importe com ruas de areia e poluição dos carros.
Informações práticas*:
- Visto: não é necessário para brasileiros, pois o carimbo na entrada dá direito a permanecer por 90 dias
- Chegada e saída: a Gare des Baux Maraîchers reúne vans e sept-places (carros que levam sete passageiros) que vêm de Rosso, na fronteira com a Mauritânia, e partem para Karang, na fronteira com o Gâmbia
- Hospedagem: Dakar International House, 15 mil FCFA a noite para o casal no quarto duplo privado c/ banheiro privado (R$ 138)
- Transporte público: é difícil obter informações para pegar ônibus, cuja tarifa é cobrada de acordo com a distância, e a maioria diz para usar o táxi
- Dica: fique atento ao preço que o taxista fala. Uma viagem até a Gare des Baux Maraîchers custa cerca de 3.000 FCFA (R$ 28) de/para Scat Urbam (região do hostel), mas tentaram cobrar 5.000 FCFA (R$ 52)
* valores para dezembro de 2022 para duas pessoas
O que fazer em Dacar
Nossa passagem pela capital senegalesa se dividiu entre fazer corres burocráticos, como visitas para nos informar e retirar vistos, e aproveitar os atrativos que a cidade oferece.
Da parte mais chata, caso você também queira aproveitar a passagem por Dacar para os vistos, há diversas embaixadas, mas é preciso sempre olhar o endereço no site das representações diplomáticas. Assim como em Nouakchott, fomos parar longe da embaixada da Libéria, que havia se mudado. Outra em que demos com a cara na porta foi a da Guiné-Bissau.
Aos atrativos. A maioria se concentra na parte sul da cidade, então vale buscar uma hospedagem por esta região. A que ficamos, apesar de ser bem em conta, ficava em Grand Yoff, para o norte, então pegamos um ônibus já que a distância era grande.
Não é fácil andar de transporte coletivo em Dacar, mas também não é impossível. Ajuda muito saber a região à qual se quer ir, ou alguma próxima, e usar as principais vias. Há transportes suplementares também, mas esses não possuem numeração como os ônibus. E como o trânsito da cidade é caótico, considere pelo menos uma hora para cruzar de norte a sul.

Nosso roteiro começou pela Mesquita Masalik Al-Jinan, tida como a maior da África Ocidental. É realmente enorme e, pelo lado de fora, muito bonita —os dois estavam com shorts, então não pudemos entrar. Dali, passamos pelo obelisco, cuja praça estava fechada, e pela Mesquita Central de Dacar, ofuscada pela outra e sem visitação permitida.
Em seguida, fomos visitar o Museu das Civilizações Negras, que fica na mesma área do Grande Teatro Nacional (que é gigante).
O museu é grande e começa com uma exposição sobre a origem do ser humano, valorizando várias descobertas e metodologias (como matemática e medicina do trabalho) que eram aplicadas na África. Já o segundo andar é dedicado para artefatos africanos (os que não foram roubados pelos europeus) e obras de arte contemporâneas.

Nosso caminho seguiu pela Gare Ferroviaire de Dacar, que, infelizmente, só liga a capital com a região metropolitana. Parece que pegaram um pedaço da Europa e colocaram ali, tanto pela arquitetura do prédio quanto pelo entorno, bem cimentado, limpo e com lixeiras —artefato raro por essas bandas (ainda assim, o lixo fica acumulado apenas em algumas áreas).
A presença europeia continua na Place de l’Independance, que reúne a Câmara de Comércio, bancos e grandes empresas. Fomos para lá também para trocar os ouguiya que ainda nos acompanhavam da Mauritânia, pois lemos que era uma boa região.
Enquanto procurávamos a tal da rue Thiong, onde se concentram as casas de câmbio (os bancos não trocam ouguiya por FCFA), um homem passava por nós e perguntou que língua falávamos. Era Mustafá, um professor de matemática que acabara de terminar seu turno em uma escola da região.
Com toda a simpatia do mundo (que venceu nossa resistência de achar que era um golpe), nos acompanhou até a rue Thiong, no ponto onde pipocam as casas de câmbio. Recomendou uma, que não fez um preço bom, e acabamos fechando negócio na do lado. Se na fronteira cada ouguiya valia 16,50 FCFA, conseguimos apenas por 14 FCFA, depois de muito choro, por ali.
Enquanto nos esperava, comprou um chá de amêndoas muito bom e nos contou sobre sua família ao nos mostrar a região. Sua mulher trabalha na embaixada britânica como faxineira e ganha o dobro do que ele, que tem BAC+4 (ou seja, graduação e um ano de mestrado) —mas ela fala melhor inglês. A família se completa com uma filha de 15 anos e gêmeos de 10.
Se por um lado seu pai possuía cinco mulheres e ele, por conta disso, para mais de 30 irmãos e meio-irmãos, sua mulher falou que, se ele arranjar outra, vai dar em morte.
Com ele, passamos por um mercado de frutas frequentado pela população local e terminamos na área do Mercado Sandaga, outra das atrações do Senegal. São várias lojas vendendo roupas e artesanatos locais, mas Mustafá nos levou em um que ele disse ser fornecedor para outras regiões. Também contou que visita o lugar com seus filhos para que eles tenham contato com a cultura local.
Não salvamos o endereço do local, mas uma visita lá foi o suficiente para saber que eles vão colocar o preço lá em cima e negociar até você levar algo, semelhante ao Marrocos, então é melhor ir preparado.
Na região há ainda a Catedral Nossa Senhora das Vitórias, que não chama muito a atenção, e o Palácio Presidencial, que não tínhamos mais energia para ir depois de muito caminhar entre embaixadas e pontos turísticos.

Ilha de Gorée e praias
Um dos passeios que, infelizmente, não conseguimos fazer em Dacar foi a ilha de Gorée. Ficamos quatro dias na capital do Senegal, o que seria mais do que suficiente, mas os corres burocráticos e a travessia exaustiva da Mauritânia para lá acabaram tomando nosso tempo. Mas não podíamos deixar de mencionar.
Patrimônio da Unesco, a ilha abriga a Casa dos Escravos. Assim define o organismo da ONU: “[O local] é testemunha para uma experiência sem precedentes na história da humanidade. De fato, para a consciência universal, essa ‘ilha da memória’ é símbolo do comércio de escravos com sua comitiva de sofrimento, lágrimas e morte”.
A ilha virou um marco no mercado escravagista por sua posição estratégica, sendo ponto central entre norte e sul, além de oferecer um porto seguro. Segundo Guilherme Canever, no livro “Destinos Invisíveis”, a região é “pitoresca e muito tranquila. Tem belos casarões, ruas estreitas, buganvilias e barcos coloridos.”
Hoje, sua visita é possível a partir do porto de Dacar, ao lado da Gare Ferroviaire. É preciso pagar 500 FCFA (R$ 4,41) de tarifa para visitar a ilha, mais 5.200 FCFA (R$ 45,83) do ferry.
Além de Gorée, há diversas praias espalhadas por Dacar. Nós optamos para ir à praia do Virage (na foto que está no início deste texto), mais perto de nosso hotel e da embaixada da Libéria, onde precisávamos recuperar os passaportes com o visto.
Há hotéis na região, inclusive à beira da praia, e restaurantes, e vimos também o aquecimento para uma aula de surfe, mas é possível aproveitar o local sem gastar nada. Só é preciso paciência, porque, assim como no Brasil, há tanto os funcionários dos restaurantes tentando levar você para lá como vendedores ambulantes abordando para mostrar seus produtos.
Cafés e restaurantes
A colonização francesa dá suas caras novamente nas muitas unidades da rede Brioche Dorée espalhadas pela cidade, servindo tanto itens de padaria e confeitaria como de restaurante a um preço acessível —almoçamos ou jantamos algumas vezes nelas. Há também cafés com as iguarias típicas do país europeu.

As opções para comer também incluem muitos restaurantes, sendo que os da região onde estão concentrados os pontos turísticos são mais caros. Por isso, destacamos o Le Xalam, quase em frente à embaixada da Libéria. Dividimos um quilo de ovelha acebolada na brasa (o dono disse que essa era a porção para uma pessoa e realmente vimos um homem pedindo), o que foi acima do nosso orçamento, mas considerando o tamanho, possuía um bom custo benefício.
Cada quilo sai por 8.000 FCFA (R$ 70,50), mas é possível pedir meio quilo. Há diferentes acompanhamentos e pedimos o cuscuz, que vem seco mesmo, mas fica uma delícia com o molho da carne.
Hospedagem
Apesar de um pouco distante do centro turístico, o Dacar International House oferece um bom custo-benefício. Os quartos duplos privados com banheiro custam 15.000 FCFA (R$ 132,20) com janela para o corredor ou 20.000 FCFA (R$ 176,27) com varanda para a rua, com café da manhã incluído.
Há uma questão, porém. É preciso se preparar para uma equipe não muito simpática e prestativa. Chegamos de madrugada, e os dois que estavam na recepção foram ótimos. Como não tínhamos todo o dinheiro, deixamos para pagar no dia seguinte, e eles ficaram com um de nossos passaportes como garantia —normal.
Na manhã seguinte, já era outra dupla. A mulher perguntou três vezes qual o valor e tinha dificuldades em acessar o sistema para verificar a reserva. Nos disse para sentar ali na recepção para esperar o café da manhã, mas sem dar mais informações. Ao perguntarmos sobre ônibus, disse que não sabia porque só anda de táxi. Ou seja, não dá para contar muito com o pessoal.


























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