Guiné-Bissau foi o primeiro país lusófono que visitamos em nossa viagem ao redor do mundo. Não tenho palavras para descrever a alegria de voltar a dominar o idioma local, já que no norte da África o que prevalece é o francês —exceto na Gâmbia, onde uma das línguas oficiais é o inglês.
Após percorrer uma longa e poeirenta estrada de terra, que passa pelo aeroporto (?!) e se conecta à principal avenida de Bissau, a minivan em que cruzamos a fronteira com o Senegal nos deixou na estação de veículos. A 7 km do centro da cidade.
Tentamos ir para o nosso hotel de transporte público, uma grande van, mas os veículos não passavam pela região do nosso destino, o que nos fez apelarmos para um táxi.
Informações práticas*:
- Média preço almoço: 3.000 XOF (R$ 26)
- Média preço jantar: 6.750 XOF (R$ 59)
- Média preço hospedagem: 18.000 XOF (R$ 158)
- Deslocamentos: minivan, balsa, barco
- Visto: é necessário para brasileiros, e tiramos o nosso em Ziguinchor
- Moeda: franco da África Ocidental (R$ 1 = 115 XOF)
- Dica: apesar de português ser um dos idiomas oficiais, é mais difícil no interior achar quem o fale
* valores para janeiro de 2023 para duas pessoas
Já alertados sobre o alto custo da capital, não foi um grande espanto pagarmos 21.000 XOF (R$ 184) no hotel Badinca, mesmo que o quarto não tivesse janela, e sim um vitral para deixar a luz entrar, e apenas uma tomada, o que nos obrigava a desligar o frigobar para carregar o celular. Na saída, outra surpresa.
Quando fizemos reserva por uma plataforma de hospedagens, vimos que o café da manhã não estava incluso no valor. Lá, porém, tinha um papel com regras da casa, em que deixava claro que havia a refeição. Perguntamos sobre o horário e o proprietário nos respondeu, sem falar nada mais. No dia seguinte, lá estavam nossas porções, embaladas.
Ao fazermos o check-out, o proprietário perguntou sobre o pagamento do café da manhã. Até achei que ele estava brincando, mas os 2.500 XOF (R$ 22) por pessoa não nos fizeram rir. Houve um intenso debate, com ele argumentando que a plataforma era clara sobre não ter a refeição, enquanto nós pontuávamos sobre o papel na parede e que, quando perguntado sobre o horário, ele não falou nada sobre valores. No fim, a contragosto, pagamos.

Como a vida nos ensinou, no primeiro dia em Bissau fomos à embaixada da Guiné para descobrirmos como tirar o visto, já que o prazo para ficar pronto pauta nossos passos seguintes. Para nossa alegria, pode ser feito tudo pela internet.
De lá, nos dirigimos ao porto, atrás de informações sobre quando partiria o barco para Bubaque, uma das muitas ilhas próximas à capital. Por sorte, sairia na manhã seguinte. Após cumprir com nossas tarefas, passeamos sem rumo pelas ruas pacatas do centro da cidade.
Ilha de Bubaque
A balsa sai às 12h30 de sexta-feira, do porto de Bissau, e deixa a ilha de Bubaque às 8h30 de domingo. Em dia com tempo bom, a viagem dura cerca de 4 horas e o bilhete custa, para os estrangeiros, 16.500 XOF (R$ 145) —há preços menores para os moradores.
No caminho para a ilha, vimos no aplicativo iOverlander —voltado a viajantes, com dicas de hospedagens, embaixadas e postos de fronteira— algumas opções de hotéis e optamos pelo Sal do Mar, com boas recomendações.
Assim que desembarcamos, rumamos para o local, mas, infelizmente, ele estava cheio. O proprietário, o espanhol Melchior, se mostrou muito simpático e nos avisou que haveria vaga a partir de domingo, após a balsa sair.
O hotel tem uma linda decoração, com redes e cadeiras ao ar livre e conchas no chão. Os quartos (17.500 XOF/R$ 154) têm pia e chuveiro, mas o vaso sanitário é compartilhado, pois é ecológico —após fazer cocô, devemos colocar serragem e terra.

Melchior também nos falou algo importante: é possível voltar a Bissau com um barco menor (3.500 XOF/R$ 32), na quarta, além de negociar com barqueiros que estejam fazendo a travessia. A partir disso, decidimos adiar nossa saída da ilha e, enquanto o Sal do Mar estava cheio, ficaríamos no Cruz Pontes, a metros dali. O quarto é grande, com banheiro privativo e café da manhã (18.000 XOF/R$ 158).
Mesmo hospedados em outro local, jantamos diariamente no empreendimento do espanhol, onde convivemos com vários estrangeiros, como um alemão que faz doutorado, uma polonesa que trabalha em Londres e um escritor londrino. Nos dias seguintes, chegariam ainda um biólogo das ilhas Canárias e uma holandesa mais velha, com muita história pra contar.
Acompanhados de alguns gringos, fomos à praia do Bruce, distante 12 km do centro de Bubaque. É possível chegar lá com uma bicicleta alugada, mas optamos por irmos em cinco em um tuk-tuk a 15.000 XOF (R$ 132) a corrida de ida e volta. Ainda bem, porque a estrada é tão esburacada que o veículo transitava mais pelo acostamento do que na via propriamente dita.
Com uma linda faixa de areia e mar azul e de poucas ondas, a praia de Bruce estava praticamente vazia no sábado, dia em que a ilha está mais cheia com os passageiros que chegaram na balsa do dia anterior. Aproveitando o local, apenas alguns estrangeiros. Há um hotel à beira-mar, com bar vendendo a cerveja a 1.000 XOF (R$ 9).
Bubaque é o ponto de partida para outras ilhas do arquipélago, e barcos oferecem passeios a partir de 72.5000 XOF (R$ 637). Também é possível negociar diretamente com os barqueiros e achar preços menores. No fim, não desbravamos os outros locais por causa dos valores fora do nosso orçamento.
Além disso, como alguns dias estavam nublados e com vento forte, preferimos aproveitar o aconchego da área comum do hotel para ler e ver Netflix. Quando o tempo melhorou, nadamos no mar em frente à hospedagem, totalmente sem ondas.

Para sair da ilha, pegamos o barco de quarta-feira, ao lado de muitos moradores. E também de dois porcos, dois bodes e uma galinha. Ao contrário da nossa viagem de ida, a da volta foi bastante emocionante, com mar revolto e pensamentos de “e se isso aqui virar? Eu consigo nadar até uma praia?”. No fim do trajeto, tirei esses pensamentos da cabeça, assim como algumas coisas do estômago.
Bissau
De volta à capital, nos hospedamos na Casa Cacheu (20.000 XOF/R$ 176), na mesma rua do local onde ficamos anteriormente. Desta vez, porém, o espaço valia a pena, com um quarto grande e um banheiro coletivo, mas, como só tínhamos nós de hóspedes, o dividíamos apenas com os funcionários.
Aparentemente, Nico, o proprietário, transformou a casa numa pensão, então a sala tinha, além de dois grandes e confortáveis sofás e TV, uma esteira ergométrica. Durante os dias, alguns pedreiros estavam reformando o espaço.

Infelizmente, há poucos atrativos turísticos na capital de Guiné-Bissau. A praça Che Guevara, por exemplo, é uma rotatória com uma coluna no meio, onde antes ficava o busto do guerrilheiro argentino.
A praça do Império, não muito longe dali, também é uma rotatória, mas maior, com bancos para sentar e ver a vida passar e onde pessoas fazem exercícios físicos. Como fica bem em frente ao Palácio da República, homens fardados, encapuzados e armados, fazem ronda, então não nos arriscamos em tirar fotos.
Na região do porto fica Bissau Velho, um bairro com poucas ruas e casas de arquitetura portuguesa, umas caindo aos pedaços e outras restauradas. Infelizmente, é uma região subaproveitada, já que a maioria dos prédios está fechado. Não foi difícil comparar com cidades brasileiras e seus centros históricos, como São Paulo e Florianópolis, em que foi feito um forte trabalho de revitalização. De alento, há um ótimo e barato café, o Sweet Cultumie’s —o expresso, coisa rara por onde passamos, custa 500 XOF (R$ 4,50).

Curiosidade infantil
Em nossas andanças por Bubaque, éramos constantemente acompanhados por crianças, ou lado a lado, ou a distância. Paramos em uma pracinha vazia para gravar um vídeo, quando uma menina, de cerca de oito anos, se aproximou e ficou assistindo. Depois, mais outras chegaram perto. Desacostumados a uma plateia, fomos embora, e a primeira garotinha nos seguiu por todo o trajeto.
Na praia próxima ao hotel, enquanto estávamos sentados na areia, três curiosos garotinhos com uniforme escolar vieram e começaram a passar a mão nas minhas tatuagens. Ainda bem que o britânico estava com a gente, pois ele começou a apostar corrida com os pequenos e os entreteve —eu e Pati temos zero aptidão com crianças.
Em outro momento, enquanto eu estava andando sozinho na rua, um menininho de não mais do que cinco anos veio ao meu lado e quis dar a mão. Como no Brasil uma situação similar é extremamente perigosa, eu evitei contato para que não achassem que eu estava querendo raptar a criança.






























Deixe um comentário