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Fronteira Gabão-Camarões tem burocracia e inúmeras barreiras


Cruzar a fronteira entre Gabão e Camarões exige bastante paciência, porque a dinâmica dos carimbos é bem diferente do que vimos na África Ocidental. A maratona das barreiras, infelizmente, é semelhante.

Nosso roteiro original era viajar de norte a sul pelo lado esquerdo do continente, mas a infrutífera tentativa de obter o visto nigeriano nos fez adaptar os planos. Assim, estávamos em Libreville, capital gabonesa, e subimos para o território camaronês.

Pegamos uma van no PK8, lugar de onde partem os veículos, e pagamos 18.000 XAF (R$ 157) por pessoa para Bitam, a cidade mais próxima à fronteira com Camarões. Há várias aglomerações de carros, então é preciso ter perseverança para encontrar a que tem o destino desejado.

Esperamos 50 minutos até a van encher e, cerca de 2 horas depois, fizemos nossa primeira parada em uma vila por problemas mecânicos. Em 20 minutos voltamos à estrada.

A van que partiu de Libreville e parou duas vezes na estrada por problemas

O grande problema surgiu 30 minutos depois, no meio do nada, quando o veículo parou e não voltou mais a funcionar. Ficamos quase duas horas à espera de ajuda, sob um calor escaldante. Até que surgiu uma salvadora van e eu e a Pati fomos transferidos para ela —como tinha apenas duas vagas, os motoristas optaram por colocar os únicos dois brancos, deixando os demais 13 passageiros para uma futura solução.

Oficialmente, só havia um assento, e o segundo surgiria 40 minutos depois, quando uma mulher desceria em seu destino final. Até lá, me acomodei como pude no colo da Pati.

As tortuosas estradas que cruzam o Gabão têm vários buracos, e o motorista parecia não se importar muito com as curvas, dirigindo em alta velocidade. Para incentivá-lo na direção perigosa, a música estava no talo. Também não ajudava o fato de uma passageira reclamar/gritar bastante sobre as atitudes do motorista.

A segunda van que pegamos para cruzar o Gabão

Ao nos aproximar de Oyem, a maior cidade no norte gabonês, passamos a encontrar barreiras policiais, onde tínhamos que apresentar o passaporte. Aparentemente, os oficiais sempre procuravam o visto, que deixou de ser exigido cerca de 2 meses antes.

Entre Oyem e Bitam, já de noite, tivemos que escutar de um policial que cada pessoa deveria ficar em seu continente, e não viajar para outros lugares. Até o motorista ficou consternado com isso.

Após 11 horas, chegamos a Bitam às 19h e nos hospedamos no Hotel des Voyageurs por 14.000 XAF (R$ 122) o quarto duplo, com banheiro privativo, água quente, ar-condicionado e ótimo Wi-Fi.

Fronteira Gabão-Camarões

Na manhã seguinte, após o café da manhã numa tradicional barraca de rua, com sanduíche de diferentes carnes e Nescafé a 1.000 XAF (R$ 9) o combo, pegamos um táxi até a fronteira. Por assento, pagamos 2.000 XAF (R$ 17,50), o dobro do que é cobrado de um gabonês. Motivo? A viagem demora mais, já que o estrangeiro precisa descer em toda barreira policial.

Na terceira barreira descobrimos que o carimbo de saída é dado em Bitam, e não na fronteira, como é feito na África Ocidental. Assim, tivemos que voltar à cidade atrás dessa burocracia.

Lá, após tirarmos fotocópias do passaporte, esperamos duas horas até o funcionário que carimba chegar. Sim, aparentemente, apenas uma pessoa pode manusear o carimbo.

Ao menos, graças a todo esse desencontro de informações, fomos capazes de responder ao agente por qual fronteira passaríamos. De Bitam é possível entrar no Camarões por dois lugares, e o Google Maps nos indica Eboro, enquanto o motorista nos levou para Kye-Ossi. Nem quero imaginar como seria chegar com o carimbo de uma em outra.

Do lado gabonês, passamos por três guichês diferentes e apenas no último o oficial, ao ver nossos passaportes brasileiros, nos falou que o visto deixou de ser exigido. Isso mesmo: depois de duas semanas no país e inúmeros encontros com policiais, só o último mostrou conhecer a nova regra.

Essa fronteira contou com uma tensão a mais, já que trocaríamos nossos passaportes. Como estamos com páginas no documento brasileiro insuficientes para os próximos vistosCongo exige o visto camaronês para nos dar o seu visto, assim como a República Democrática do Congo exige o do Congo—, obtemos a autorização camaronesa no passaporte europeu —enquanto a Pati tem cidadania italiana, eu tenho a polonesa. E, da última vez que tentamos fazer essa troca numa fronteira, entre Senegal e Gâmbia, houve uma grande briga e mesmo assim não conseguimos.


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Na primeira barraca camaronesa, os agentes de saúde pediram os comprovantes de vacinação contra febre amarela e Covid-19, assim como uma ajuda de custo, já que fazia muito calor ali. Realmente, estava bem quente, mas educadamente negamos a propina.

Na segunda, duas oficiais pediram o passaporte e, ao entregarmos o europeu com os vistos, uma delas perguntou sobre o carimbo de saída do Gabão. Explicamos a situação e, após muita conversa, por vezes exaltada, entendemos que ali precisávamos mostrar o documento brasileiro com o carimbo gabonês. O passaporte com visto camaronês deveria ser apresentado apenas em outro lugar. Antes de sairmos, ela pediu dinheiro, o que mais uma vez negamos.

A passos dali, em outra barraca, dois agentes voltaram a pedir os documentos e, após entregarmos o passaporte brasileiro, anotaram nossos dados em um caderno e nos liberaram. Sem pedir nada em troca.

De lá até Kye-Ossi, fomos de táxi, que Pascal, o motorista que nos levou de um canto a outro no lado gabonês, arranjou para nós. Na cidade, o taxista foi com a gente até o prédio onde deveríamos carimbar o passaporte. Explicamos a situação e a oficial, muito calmamente, aceitou nosso documento europeu e prontamente o carimbou.

Com toda a burocracia resolvida, o taxista nos levou até a garagem de onde partem os veículos. E só aí negociamos o valor. Ele pediu 5.000 XAF (R$ 43,50), mas conseguimos baixar para 2.000 XAF (R$ 17,50).

Lá, garantimos nossos lugares (6.000 XAF/R$ 52,50 o assento) num huit-places, um carro em que viajam o motorista e um passageiro à frente, outros 4 no banco do meio e mais 3 no dos fundos. Pelo bem de nosso conforto, partimos com “apenas” 6 passageiros (1 + 3 + 2).

Mal havíamos começado a viagem e o motorista descobriu que um dos passageiros estava irregular no país. Ele então cobrou a mais para molhar a mão dos policiais nas barreiras e, assim, evitar uma rígida fiscalização. Um idoso missionário, que viajou no banco da frente, ajudou nessa missão.

A ideia deu certo nas primeiras barreiras, até encontrarmos um oficial que fez cumprir a lei. Após uma hora parados e muitas idas e vindas do homem sem documentação, do motorista, do missionário e ainda de outro passageiro, a situação foi resolvida. Nem me pergunte como, já que adotamos a política de não intervir em problemas envolvendo a polícia. Pela primeira vez não fomos nós os responsáveis pela crise diplomática.

Passamos ainda por outras inúmeras barreiras e pedágios, e o missionário por vezes mostrou sua carteirinha de religioso para agilizar a burocracia. Apesar disso e da direção acelerada do motorista, ainda levamos 5h40 até chegar a Yaoundé, a capital política do Camarões e nosso destino final.

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