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Fronteira Camarões-Congo: com pouca informação, levamos 3 dias para viajar entre as capitais


Nestes seis meses de viagem pela África, completados recentemente, passamos por diversas fronteiras, mas ajudava muito ter que percorrer países pequenos para viajar entre grandes cidades. Desta vez, porém, para ir de Iaundê, no Camarões, até Brazzaville, no Congo, foram necessários três dias seguidos de estrada, sem falar que são poucas as informações na internet, mesmo em francês ou inglês.

Há inúmeras empresas de ônibus em Iaundê, mas a maioria leva passageiros para Douala, a capital econômica, e para cidades do litoral ou do norte, perto da fronteira com a Nigéria. São poucas as que viajam para o leste, em direção ao Congo.

Demos sorte de um taxista nos alertar que o melhor a fazer seria ir até Sangmelima ou Djoum, de onde poderíamos pegar um carro até a fronteira. A Rapido Voyages, uma pequena agência escondida na região de Mvan, onde se concentram a maioria das empresas de ônibus, viaja até a segunda cidade, e a passagem custa 3.500 XAF (R$ 30).

Nossa van levou até um freezer em cima

A funcionária nos avisou que deveríamos estar na garagem até as 7h, para esperarmos a van encher. Nosso despertador começou a funcionar às 4h30 naquele dia, e mesmo assim chegamos às 7h15 no local. No fim, saímos de Iaundê às 9h40 e desembarcamos em Djoum, 275 km depois, às 14h.

Já sabíamos que seguir viagem de lá seria desafiador, pois não há muita demanda até a fronteiriça Ntam. Um agenciador, figura comum nessas concentrações de carros, nos cobrou 9.000 XAF (R$ 78) o assento num veículo. Tentamos baixar o preço, mas ele argumentou que eram sete barreiras policiais e em todas o motorista teria que pagar 2.000 XAF (R$ 17) por estar conduzindo estrangeiros.

Dinheiro dado, agora teríamos que aguardar mais interessados para a próxima cidade, a 200 km dali. O agenciador, obviamente, sugeriu que, se pagássemos mais um assento, partiríamos prontamente. Após muita discussão e espera por um carro que nunca veio, duas horas depois embarcamos em um veículo com outros três passageiros adultos e duas crianças. E, no caminho, o motorista ainda colocou mais uma mulher com seu filho pequeno. Saímos às 16h20 e chegamos às 19h20.

Não paramos nas sete barreiras que o agenciador falara, mas em duas a situação foi chata, para não dizer tensa. Na primeira, o oficial pediu 5.000 XAF (R$ 43) de cada, ao que incisivamente respondi “Nunca pagamos taxa aqui no Camarões, por que agora?”. Surpreso, ele sussurrou algo para o motorista e, se saiu dinheiro dali, não sabemos.

Na outra, o agente encrencou comigo. Ficou repetindo “polonês” —como o passaporte brasileiro já encheu, adotamos o europeu (italiano da Pati e meu polonês) a partir do Camarões— e pediu só para mim o comprovante de vacinação contra a Covid e a febre amarela.

Não contente, quis ver o que eu levava na mochila, um terror para quem deixa tudo encaixadinho e, de repente, precisa ficar abrindo sacola atrás de sacola. Enquanto lhe mostrava minha máquina de cortar cabelo ou a bolsinha dos remédios, ele perguntou se eu tinha cocaína, ao que prontamente respondi “não”. Ele não acreditou muito, porque ainda soltou um “tem certeza?”. Pronto. Eu, que viajei tanto de ônibus pelo Mato Grosso do Sul, ia ter problemas com drogas longe de casa. Depois dessa tensão toda, partimos, e sem nada implantado na minha bagagem.

Em Ntam, nos hospedamos na penúltima vaga de um hotel barato, em que o quarto de 3.000 XAF (R$ 26) dava direito a cama, mosquiteiro, pequeno móvel de cabeceira e barata. O banheiro era compartilhado, do lado de fora, e sem chuveiro. A nossa sorte é que estava chovendo bastante naqueles dias, e três grandes barris acumulavam água da chuva para o banho de balde e para a privada. Na hora de escovar os dentes, apelamos para água mineral.

Fronteira Camarões-Congo

Na manhã seguinte, fomos a pé até a fronteira. Na única casinha do local, dois simpáticos funcionários anotaram nossos dados e carimbaram o passaporte. Eles encanaram com o visto da República Democrática do Congo, a RD Congo, para dali alguns dias, e nos surpreendeu isso, já que nosso visto para o Congo valia por 15 dias. E, como é praxe entre oficiais e homens, me perguntaram se eu conhecia o grande futebolista do meu país, Robert Lewandowski. Muda o passaporte, mas o papo é sempre o mesmo.


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Nosso intuito era andar 2 km até o lado congolês, mas um policial arranjou uma carona pra gente. No carro, descobrimos que o motorista atua como taxista e que poderíamos ir até Ouésso, uma grande cidade a 335 km dali, por 15.000 XAF (R$ 131) o assento, ou até Brazzaville, a 1.115 km, por 350.000 XAF (R$ 3.060) a corrida. Rimos da segunda proposta e topamos a primeira.

Na borda do Congo, tivemos que passar por quatro lugares: carimbo de passaporte, apresentação do comprovante de vacinação contra febre amarela e Covid-19, e duas para anotar nossos dados. Tudo muito simples e sem pedidos de propina.

Quando tudo estava ok, os taxistas da fronteira falaram que não poderíamos ir com o homem que nos levara até ali, já que ele não era um trabalhador local. O preço seria o mesmo, mas teríamos que pagar pelas outras quatro vagas do carro para partir logo, e não tinha nenhum sinal de que outros passageiros surgiriam. No fim das contas, seguimos viagem com o motorista original.

Na primeira barreira policial, o motorista nos alertou a dar 1.000 XAF (R$ 8,50) para um oficial e 2.000 XAF (R$ 17) para o outro, e lhe respondemos que não costumamos pagar propina. Afinal de contas, o visto já custou muito caro. O primeiro ainda pediu dinheiro pro café, o que foi negado, e o segundo não cobrou nada, e ainda deu dica de preço pro ônibus entre Ouésso e Brazzaville.

Na cidadezinha mais próxima, nosso motorista encheu o carro com outros três passageiros e seguimos viagem apertados no banco de trás. Como um deles estava com os documentos irregulares, cada parada policial era uma negociação de quanto pagar.

Parada em que o motorista encontrou outros passageiros

Após 5 horas de estrada, chegamos às 14h a Ouésso, uma grande cidade em outro trecho de fronteira com o Congo. E já garantimos nosso ônibus da Océan du Nord até a capital para o dia seguinte, por 10.000 XAF (R$ 87,50) a poltrona.

Na cidade, ficamos no Hotel Onanga, um prédio com inúmeros cômodos e inclusive restaurante e piscina. O quarto duplo custa 40.000 XAF (R$ 349), mas negociamos por 30.000 XAF (R$ 262), sem o café da manhã. Deveríamos até pagar mais barato, já que no nosso quarto não funcionavam as tomadas, o Wi-Fi, a TV e o controle do ar-condicionado.

3º dia de estrada

O 3º dia de viagem começou cedo, já que o funcionário da empresa de ônibus nos disse para estarmos lá às 5h30, 50 minutos antes da saída. Surpreendendo um total de zero pessoas, partimos atrasados, mas só um pouco, às 6h40.

O veículo tem uma configuração diferente dos que circulam pelo Brasil, com 3 apertados assentos de um lado e 2 do outro. Assim que saímos, como estávamos sem nosso 3º companheiro, aproveitamos para ficar um em cada ponta e deixar vago o lugar do meio. No decorrer da viagem, os novos passageiros evitavam se sentar ali, e isso acabou irritando algumas pessoas. Em dado momento, um homem que embarcara ainda em Ouésso pediu para ocupar a vaga e assim ficamos um bom pedaço do caminho espremidos.

O ônibus tinha entretenimento de bordo

Tivemos que descer em três barreiras, uma delas em frente ao Parque Nacional d’Odzala-Kokoua, onde é possível avistar gorilas e outros animais selvagens em caros passeios guiados (a um preço bem salgado). Nas outras duas paradas, tivemos nossos dados anotados. Em uma delas, o oficial encrencou com um camaronês, que reclamava do valor cobrado.

Pelo que vimos nessas andanças pela África Ocidental e Central, viajantes de países vizinhos pagam pequenas taxas nas barreiras policiais. Se isso é institucionalizado ou não, não sabemos.

Viajamos cerca de 830 km entre Ouésso e Brazzaville, cruzando um grande trecho do Congo, em um pouco mais de 13 horas, chegando à capital às 20h.

Até então, só havíamos viajado dois dias consecutivos —entre Libéria e Costa do Marfim fizemos uma parada estratégica em Man, para descansar e aproveitar a cidade—, e esses três dias de estrada foram nosso novo recorde. A partir de agora, como os países são maiores, teremos que estudar melhor o mapa para não ficar tanto tempo assim dentro de um veículo. Espero que, ao menos, passemos a ter mais conforto, ou então menos música alta.

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