A Namíbia estava na nossa lista de desejos há um bom tempo. Não só por causa das suas belezas naturais, mas também porque seria o primeiro de vários países com fácil entrada, seja por isentarem de visto, seja por apenas terem burocracia online. Neste caso, porém, tivemos nossa dose de emoção.
Chegamos a Santa Clara, a última cidade de Angola antes da fronteira, no fim da tarde, cansados após uma viagem de 13,5 horas —nosso objetivo inicial era pegar um ônibus noturno, mas a empresa nos fez mudar de veículo e horário. Lá, nos hospedamos no Cantinho da Tia Gia, com quarto amplo, banho quente e café da manhã a 14.000 kwanza (R$ 124).
Na manhã seguinte, rumamos para a fronteira. Antes, entretanto, enfrentamos o tradicional desafio de trocar dinheiro com cambistas. Abordamos e fomos abordados várias vezes, e em nenhuma delas conseguimos algo perto da cotação vista na internet. E, pela primeira vez nessa viagem pela África, tentaram nos passar a perna. Duas vezes!
O golpe funciona assim: após aceitar o valor de troca, o cambista conta as cédulas na sua frente e passa para você conferir se a quantia está certa. Aí ele pega novamente o dinheiro e reconta. O pulo do gato está quando ele te devolve as notas, pegando muito rapidamente algumas. Na primeira tentativa, a Pati viu. Na segunda, eu percebi. No fim, encontramos um jovem que aceitou uma cotação menos prejudicial para nós.
Fronteira Angola-Namíbia
Andamos pouco quilômetros pela rua principal de Santa Clara para chegar ao prédio da fronteira, bem sinalizado. Logo na entrada do local estão os dois guichês dos funcionários, que foram bem ágeis. Como há um grande tráfego de moradores locais, que levam um papel para ser (muitas vezes) carimbado, o jeito é esperar.
Assim que chegou a nossa vez, em poucos minutos a agente anotou nossos dados no computador e carimbou os passaportes. Ela inclusive comentou que ainda não havia visto um passaporte polonês (o meu, no caso) —a Pati estava com o italiano dela.
Se você é descendente de poloneses e quer saber se é possível ter sua cidadania reconhecida e o passaporte europeu, o Eduardo Joelson faz esse serviço burocrático. Em 2019 o Faraó o contratou e conseguiu rapidamente a documentação. Caso você o procure por meio da gente, ganhamos 5% de comissão.
Liberados, saímos do prédio e andamos 10 minutos até o guichê do lado da Namíbia. Lá, é necessário preencher um formulário com seus dados —nos deram a dica de colocar mais dias de permanência no país do que o que realmente está planejado, pois é grande a burocracia para estender a validade.
A tensão desta fronteira estava no fato de que eu, que estava viajando com o passaporte polonês, precisaria trocar pelo brasileiro. Motivo: o cidadão do Brasil tem entrada liberada na Namíbia, o famoso visa free, enquanto o da Polônia não. Assim, o agente teria de aceitar eu apresentar um documento enquanto o carimbo de saída do país anterior estaria no outro. Como vocês podem imaginar, o oficial encrencou com isso.
Ele me cobrou o carimbo de saída de Angola no passaporte brasileiro, e eu o avisei de que era o documento polonês que estava com o carimbo. Ele me falou que eu deveria voltar para o lado angolano e pedir para que carimbassem meu passaporte brasileiro. A questão é que há uma complexa burocracia para se entrar no país vizinho, que envolve um cadastro digital e cuja aprovação pode durar horas.
Insisti com o homem para que aceitasse meu passaporte brasileiro e ele me mandou preencher outro formulário, desta vez com os dados poloneses. Com o novo papel em mãos, ele prontamente anotou minhas informações no computador e carimbou meu passaporte. Mas, de repente, ele pediu o documento da Pati, que já estava carimbado, checou algo e levou meu passaporte para outra sala. Aí a tensão aumentou.
Já comecei a pensar em como poderia resolver a situação, se seria mais fácil tentar falar com algum chefe ali ou então voltar para Luanda e pedir o visto namibiano na embaixada.
Longos minutos depois, o agente voltou e me devolveu o passaporte, sem me cobrar nada por um visto, já que, como cidadão polonês, eu precisaria de um. Sem dar muito tempo para ele se arrepender, saímos o quanto antes dali.
Nossa principal hipótese era a de que o sujeito levou o caso para um superior e este, vendo que sou também cidadão brasileiro e isento de visto, não precisaria de nenhuma burocracia no passaporte polonês.
No dia seguinte, a funcionária do hostel em Windhoek, uma mulher cubana-namibiana, nos contou que a Namíbia não encrenca com quem tem dupla cidadania. Algo bem diferente do Gâmbia, que nos fez perder horas na fronteira com o Senegal por não aceitar nossos dois documentos.
Em Oshikango, a cidade namibiana da fronteira, compramos passagens da Macon (700 dólares namibianos/R$ 203,50), a mesma empresa de ônibus com a qual viajamos por Angola. O problema foi ter que esperar das 11h às 19h, até o veículo partir. Ao menos a viagem só teve uma parada de revista policial e chegamos à capital às 5h40.















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