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Fronteira Moçambique-Zimbábue tem estrada ruim, pedido de propina e horas no ônibus


Viajar de carro pelo sul da África nos deixou mal-acostumados com travessias de fronteiras, já que conseguíamos ter um controle melhor do tempo na estrada e não tínhamos que dividir o percurso em inúmeros meios de transporte. Mas nosso mochilão voltou ao ritmo normal, e tivemos que retomar esse desafio necessário.

Estávamos na paradisíaca Tofo, no litoral de Moçambique, e o objetivo final era chegar ao Zimbábue. Poderíamos fazer o caminho “fácil” e retornar para Maputo e de lá voltar para a África do Sul, pois sabíamos de um ônibus que liga Joanesburgo à capital zimbabuana. De ônibus, leva-se 2 dias e meio: cerca de 9 horas na primeira etapa e 23 horas na segunda.

Optamos, então, por viajar até Chimoio, no centro de Moçambique, e de lá ir a Harare. Nesse trajeto, usamos duas chapas/vans, um táxi, dois ônibus e uma balsa —e ainda assim levamos menos tempo, um dia e meio. Haja disposição e paciência.

De Tofo a Chimoio

Saímos da litorânea Tofo às 8h05 em direção à vizinha Inhambane em uma chapa/van a 75 meticais (R$ 5,75) cada, com bagagem. Nos falaram que custa 25 meticais (R$ 2) por pessoa e que nos cobrariam, talvez, outros 25 pela mochila, mas o cobrador quis de cada um 150 meticais (R$ 11,50). Negociaríamos de qualquer forma, mas ajudou todos falarmos o mesmo idioma.

Mesmo que na van coubessem 18 passageiros apertados e sentados, mais algumas pessoas entraram e foram de pé mesmo, encurvadas por causa do teto baixo.

Em Inhambane, desembarcamos e caminhamos cerca de 2 km até o porto, de onde sai a balsa para cruzar a baía até Maxixe. Lá, ao menos, todo mundo paga os mesmo 20 meticais (R$ 1,50) —ainda desembolsamos mais 10 meticais (R$ 0,75) pela mochila.

Demos muita sorte pois chegamos às 9h30 ao cais em Maxixe e, perguntando na parada de ônibus logo ao lado, descobrimos que um veículo (2.300 meticais/R$ 176) partiria para Chimoio às 10h. Só precisaríamos esperar ao lado da estrada, já que o embarque/desembarque de passageiros seria rápido.

Na tradicional configuração de duas poltronas de cada lado, o ônibus circulava pela estrada como se não houvesse amanhã. Após passarmos Vilanculos, outro destino praiano altamente recomendado para nós, descobrimos o motivo: o caminho para o norte é extremamente ruim, com várias crateras que impossibilitam um tráfego decente.

Assim, levamos cerca de 11 horas e meia para percorrer aproximadamente 700 km —e pensar que faríamos esse trajeto em menos de 7 horas nas estradas do Brasil.

Para piorar nossa situação, a música alta imperou no veículo. Nem reclamamos dos ritmos que tocaram, pois várias canções nos agradaram. O problema mesmo era o volume, o que não nos deixava descansar ou ouvir podcast.

Como o cartão Visa/Wise não é bem aceito nos caixas eletrônicos de Moçambique —de 6 bancos, apenas no Access conseguimos fazer saques—, estávamos com pouco dinheiro em espécie. Assim, tivemos que apelar para um hotel chique em Chimoio que aceitasse cartão, o Amirana, com quarto a 6.480 meticais (R$ 519). Pois é, entrou para o top 3 de hospedagens mais caras, com preços bem acima do nosso orçamento.

Fronteira Moçambique-Zimbábue

Na manhã seguinte, após comer tudo o que era possível no café da manhã self-service, que muito nos lembrou o desjejum em hotéis brasileiros, caminhamos um bom pedaço até a parada de chapas, com destino à fronteiriça Machipanda. Por 200 meticais (R$ 15,50) cada, levamos cerca de 1 hora e meia, já que havia muito sobe e desce de passageiros no caminho.

Chegamos ressabiados ao prédio moçambicano, após ouvirmos muitas histórias de pedidos de propina. Assim, recebemos com grata surpresa o carimbo de saída em meio a poucas palavras do oficial.

Alegres e contentes, entregamos o passaporte para uma última conferência, do lado de fora do prédio. O agente, no entanto, encrencou com a falta de visto da Pati, mesmo que tenhamos explicado de várias maneiras que cidadãos italianos são isentos. Esse não é o caso dos poloneses, e por isso eu tinha um visto no meu documento —que levou cerca de 2 horas para ficar pronto, já que o sistema tinha caído quando entramos em Moçambique.

Ele pediu um refresco, mas nós, que somos contra pagar propina, negamos. Isso fez ele circular de um lado para o outro com o passaporte da Pati em mãos, enquanto perguntava para outros agentes que passavam ali se sabiam dessa isenção de visto. Vimos também ele conversar com uma família de sul-africanos que estava de carro e, com a mão dentro do veículo, receber algo, dobrar e colocar no bolso. O que será, não?

Provavelmente para colocar pressão, ele disse que ia perguntar para o chefe sobre o visto. Prontamente falei que deveria fazer isso mesmo, já que recebemos carimbos de entrada e saída e ninguém viu problema algum. Para nossa alegria, o chefe dele era o mesmo oficial que timbrou nosso passaporte.

O subalterno explicou a situação e o superior apenas disse “eles são isentos”. Ainda houve uma tentativa de o encrenqueiro continuar a conversa, mas o chefe logo cortou e repetiu que éramos isentos. Com sorriso no rosto, e tremendo de raiva, tirei das mãos do homem o passaporte da Pati e agradeci, tudo isso na frente do oficial mais graduado.


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Para chegar ao prédio do lado do Zimbábue, é necessário andar alguns metros sob um sol escaldante, mas foi bom para esfriar a cabeça. Lá, após preenchermos um formulário, a agente levou alguns minutos para entender nosso visto de entrada dupla, que havíamos feito quando visitamos a Victoria Falls.

Ela perguntou qual caminho fizemos após saírmos do Zimbábue e parecia traçar o mapa na cabeça enquanto a Pati explicava nosso trajeto entre viagem de carro e de ônibus pelos países do sul da África. Ainda assim levou vários minutos para nos cadastrar no computador. Até bateu aquele medo de “será que fizeram algo errado quando nos deram o visto na Victoria Falls?”.

No fim, a agente carimbou o passaporte, com alguns dados a mão, e nos liberou. Ainda precisamos passar por um raio-x em outro prédio. Lá, pelo menos, conseguimos negociar um táxi (US$ 5/R$ 27) para percorrer os cerca de 10 km até Mutare.

De Mutare a Harare

Falamos para o motorista que queríamos ir até Harare e ele nos deixou ao lado de um posto de gasolina, onde carros davam carona paga aos interessados. Após uns 30 minutos sob o sol forte, o ônibus até a capital fez sua rápida parada para o embarque dos passageiros.

Ao menos o preço do bilhete (US$ 10/R$ 53,50) era universal, sem distinção entre moradores e turistas. O veículo já estava cheio, e vários passageiros tiveram que viajar em pé. E, mantendo a linha do ônibus moçambicano do dia anterior, o som estava no talo.

Finalmente, após 5 horas, conseguimos superar os cerca de 260 km até Harare. Para coroar o dia cansativo, ainda caminhamos 5 km para chegar à nossa hospedagem, no subúrbio da capital.

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