A fronteira entre Tanzânia e Burundi é bem fácil de ser transposta, e o desafio mesmo é o trajeto até lá, ainda mais se você está vindo da maior cidade tanzaniana, Dar es Salaam, ou de Zanzibar, ambas na costa. Nós levamos dois dias para atravessar o país e ainda precisamos ficar um terceiro na capital, Dodoma, pois não havia vaga no ônibus. Esse trabalho todo até nos lembrou da vez que levamos três dias para ir de Yaoundé (Camarões) a Brazzaville (Congo).
A primeira empreitada veio ainda em Dar es Salaam: para comprar as passagens (30.000 xelins/R$ 60,50 por pessoa) da Shabiby para Dodoma, pelo site, só era possível pagar por meio das versões africanas do Pix.
Por sorte, um dos funcionários do Rainbow Hotel, onde estávamos hospedados, fez todo o trâmite. E, assim como todas as vezes em que usamos uma maquininha de cartão no país, precisamos pagar uma taxa, de 2.000 xelins (R$ 4) por bilhete.
Com as passagens impressas, seguimos no dia seguinte para a agência da Shabiby, mas, chegando lá, descobrimos que os ônibus partem da rodoviária Magufuli –algo não tão óbvio em se tratando de África. Ainda bem que fizemos tudo com tempo, já que levamos cerca de 30 minutos de Uber no primeiro trajeto e outros 20 minutos no segundo, de tuktuk –ajudou o motorista ser agilizado/imprudente.
Para nossa surpresa, o ônibus, com poltronas confortáveis e ar-condicionado, saiu com apenas 10 minutos de atraso. Além de que o volume da música estava a uma altura respeitável. Ao todo, levamos 9 horas para percorrer os 450 km entre a maior cidade tanzaniana e a capital.
Queríamos partir no dia seguinte para Kigoma, no extremo oeste, mas já não tinha passagem disponível no site da Saratoga. Até tentamos comprar os bilhetes pessoalmente na rodoviária, o que foi infrutífero, pois o guichê estava vazio –assim como os de outras empresas. Desistimos após 30 minutos de espera e apostamos nossas fichas na venda online. Desta vez, para nossa alegria, conseguimos pagar com cartão (68.250 xelins/R$ 136).
Na manhã seguinte, estávamos na rodoviária às 8h esperando o ônibus das 9h. Vários chegaram, de diversas empresas, mas nada do nosso. Perguntamos a uma mãe com dois garotos sobre o veículo e ela nos orientou a esperar. Inclusive nos adotou e falou para alguns funcionários sobre nosso objetivo, para que outros se tornassem responsáveis por nós também. Por fim, às 10h nossa carruagem fez uma rápida parada ali e logo partimos.

Assim como o ônibus da Shabiby, o da Saratoga também era confortável. Este, entretanto, tinha até serviço de bordo (pedaço de bolo, refrigerante e água). O ponto negativo ficou por conta da demora em ligar o ar-condicionado, e só o fizeram após um debate acalorado entre a Pati e um passageiro.
No fim, enfrentamos 12 h e 45 min para vencer os 780 km entre Dodoma e Kigoma. Havia um longo trecho de asfalto ruim e, apesar disso e daquela 1 hora de atraso, ainda chegamos 15 minutos antes do horário estipulado.
Fronteira Tanzânia-Burundi
Nossa ideia original era tirar o visto de Burundi na fronteira. Alguns dias antes, entretanto, lemos que há um consulado em Kigoma onde o processo é bem rápido. Assim, às 9h estávamos lá para garantir nossa entrada no próximo país.
Com o documento em mãos, o funcionário nos indicou ir de carro até a fronteira. Somos adeptos de táxis compartilhados, mas um outro burundês disse que todo o trajeto entre Kigoma e Bujumbura, a capital econômica do Burundi, leva cerca de 9 horas. Assim, negociamos um táxi particular (50.000 xelins/R$ 102,50) para Nyarabanda, e levamos 1 hora para percorrer cerca de 60 km.
Durante nossos 10 minutos no prédio tanzaniano, um oficial nos indicou vários parques nacionais para uma próxima visita enquanto outro agente checava os passaportes e procurava brechas para os carimbos de saída. Não há alegria maior para um viajante!
Até o prédio burundês é preciso vencer cerca de 1,5 km de boa estrada na terra de ninguém e, para nossa sorte, nessa direção era ladeira abaixo. Se fosse morro acima, teríamos substituído a caminhada por um táxi ou moto –há várias pessoas ofertando corrida.
A primeira parada é no posto de saúde, onde mostramos nossos comprovantes de vacinação contra febre amarela e tivemos nossas temperaturas medidas. Num prédio vizinho, um oficial conferiu nossos vistos e anotou os dados em um caderno –África Ocidental, você voltou?
Enquanto isso, um outro homem em pé, de bermuda, fez várias perguntas e comentários, no estilo “por que um polonês fala francês?” e “casou com uma mulher jovem, hein”. Irritado e acreditando ser um taxista ou qualquer outro enxerido, pensei em responder desaforadamente. Me lembrei, porém, que em várias fronteiras da costa oeste há chefes que trabalham –ou apenas ficam nos prédios oficiais– com roupas civis. O que importa é que garantimos em cerca de 20 minutos nossos carimbos de entrada.
Do lado de fora, há a tradicional abordagem de troca de moedas e de taxistas. Pelos relatos no iOverlander, um aplicativo colaborativo de viajantes, sabíamos que a cotação era favorável a quem chega com moeda estrangeira, pois o franco do Burundi é bem desvalorizado. Após negociações com cambistas e com motoristas de táxi, conseguimos um veículo até Mabanda (10.000 francos/R$ 13,50).
Lá, compramos passagens de um micro-ônibus (13.500 francos/R$ 18,50) até Bujumbura, com saída marcada para dali 2 horas. Às 13h30, nosso veículo partiu e, após muito sobe e desce de passageiros e vários trechos de asfalto ruim (ou mesmo sem asfalto), chegamos à capital econômica do Burundi às 19h. E olha que eram apenas 150 km. Ao menos tínhamos como vista o lago Tanganyika, o 6º mais largo do mundo e o 2º do continente africano.
Viagem de trem ou de avião
Durante nosso planejamento e com a triste memória de como foi viajar da fronteira com o Maláui até a costa leste, avaliamos duas alternativas para cruzar a Tanzânia. Uma delas é por trem entre Dar es Salaam e Kigoma, mas o veículo não parte todo dia e não queríamos esperar.
Outra opção seria viajar de avião entre Zanzibar ou Dar es Salaam até Bujumbura. Achamos passagens a US$ 199 (R$ 1.015) –o que daria US$ 398 (R$ 2.030) pro casal– e, fazendo estimativas, imaginamos que gastaríamos metade por terra. Agora, com a planilha de gastos atualizada, vimos que foi isso mesmo.
Os três dias de estrada mais o que a gente precisou ficar em Dodoma à espera de um ônibus nos custaram US$ 241,50 (R$ 1.235). Caso conseguíssemos viajar direto, teríamos desembolsado US$ 186,50 (R$ 953).















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