Atravessar a fronteira entre Burundi e Ruanda é como passar um portal entre a África Ocidental e a Oriental. Enquanto o pequeno país em formato de coração nos exigiu bastante, como há tempos não sentíamos, no vizinho do norte contemplamos pela janela uma boa infraestrutura e até pudemos desfrutar de uma grande facilidade para o viajante: um visto triplo!
Apesar de o Burundi gerar muitas dificuldades para o estrangeiro —não encontramos lugar que aceite pagamento com cartão ou onde sacar com a bandeira Mastercard—, ele nos brindou com um ônibus direto entre capitais: de Bujumbura a Kigali.
Optamos pela Volcano, mas a empresa é um pouco lenta no atendimento via rede social. Assim, fomos ao Marché Sioni, ponto de venda e de partida dos veículos —e também um grande mercado—, para garantir presencialmente nossas passagens (55.000 francos do Burundi/R$ 81).
No dia seguinte, às 8h30, estávamos lá à espera do veículo, que partiu às 10h15, com muitas poltronas vagas. Durante a viagem, obviamente, ganhamos muitos companheiros.
Fronteira Burundi-Ruanda
Ao contrário do sul do Burundi, as estradas do norte são bem pavimentadas, com muitas curvas. Chegamos à fronteira com Ruanda às 13h15 e, enquanto aguardávamos na fila do passaporte, as bagagens foram tiradas do ônibus. Com carimbos de saída garantidos, tivemos que abrir nossas mochilas para inspeção. Assim, em cerca de 15 minutos estávamos liberados.
Com nossas mochilas nas costas, caminhamos alguns minutos até o lado ruandense, onde precisamos, novamente, abrir as bagagens para nova inspeção.
Até onde sabíamos, ali eles não toleram sacolas plásticas e, por isso, nos desfizemos da maior parte e as substituímos por sacos de papel, como os de padaria, e sacolas de TNT, que muitos estabelecimentos tanzanianos adotam. As que ficaram estavam no fundo da mochila, embaixo das roupas.
Os oficiais (um homem para mim e uma mulher para a Pati) nos pediram para tirar vários itens da bagagem, e o viajante sabe como é difícil montar esse Tetris. Para nossa surpresa, os agentes encrencaram com as sacolas de TNT e ignoraram as de plástico. Assim, tivemos que rapidamente reorganizar tudo sem esses itens.
Ainda bem que, meses atrás, compramos uma mochila ultracompacta, que no dia a dia ocupa o espaço de uma pequena necessaire, pensando justamente nessa fronteira.
O próximo passo foi obter nosso EAC visa, um visto que dá direito a 90 dias de trânsito entre Ruanda, Uganda e Quênia. Enquanto no primeiro país só é possível adquiri-lo ao chegar, o visa on arrival, nos outros dois é necessário pedir pela internet, o famoso eVisa.
Perguntamos para duas pessoas e elas nos indicaram entrar na fila com os demais viajantes e, após muita espera, descobrimos na nossa vez que era preciso ir à sala ao lado.
Lá, um solícito funcionário recolheu US$ 100 de cada —lembre-se que as notas precisam ser novas e em bom estado—, preencheu um formulário e levou um tempo tremendo para se acertar com a impressora para liberar os recibos. Enquanto ele se batia com a tecnologia, monitorávamos o ônibus para ele não nos deixar, como foi na fronteira entre África do Sul e Moçambique.
Finalmente com os recibos em mãos, voltamos àquela fila dos carimbos. E aí foi mais ansiedade diante da lentidão dos oficiais. Ao menos estava vazio e ficou um agente cuidando de cada um de nós. Mesmo assim, parecia uma corrida entre a tartaruga e o cágado.
Ainda não tinham finalizado o processo e nosso ônibus deu a partida. Saí correndo atrás dele e pedi para nos esperar, e o funcionário afirmou, em gestos, que deveríamos nos apressar, mas que nos esperaria do lado de fora da fronteira.
Depois de longos minutos, o agente me deu o carimbo de entrada e colou o visto, preenchido à mão, no passaporte. Meu documento polonês tem menos páginas disponíveis que o italiano da Pati, mas o homem me “ajudou” colando o visto no início, no lugar dedicado a entradas oficiais do meu país, e não de outras nações. Agora é torcer pra que isso não dê problema no futuro.
Por fim, após 1 hora, saí correndo desesperadamente com as mochilas para saber se o ônibus continuava à nossa espera, enquanto a Pati aguardava seu lento agente finalizar a burocracia.
Para aumentar a tensão, as curvas após as cancelas oficiais não permitiam uma visão ampla da estrada. Imagine a minha alegria ao encontrar o veículo ao longe!
O nervosismo, porém, também estava presente, pois a Pati ainda não havia chegado. Mas eis que surge uma figura por trás da curva, correndo, ansiosa por entrar no veículo. Não foi desta vez que seríamos abadonados novamente!
Esbaforidos e suando, nos instalamos em nossas poltronas. E aguardamos 20 minutos até o ônibus partir. Sim, também fizemos essa cara que você está fazendo.
A viagem seguiu tranquilamente e vimos uma estrada de ótima qualidade e várias construções em bom estado. Chegamos à tumultuada rodoviária de Kigali às 19h20, após 9 horas e 240 km.















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