Se para entrar na Jordânia, a partir do Egito, pegamos um barco para cruzar o mar Vermelho —sem falar em algumas viagens de avião nas últimas travessias—, para cruzar a fronteira com a Arábia Saudita voltamos ao bom e velho deslocamento por terra, que tanto fizemos durante quase 13 meses de África. Desta vez, ainda batemos um recorde pessoal, pois nossa viagem durou 22 horas. E voltamos a enfrentar o problema de encontrar poucos relatos na internet a respeito dessa jornada.
Como tirar o visto da Arábia Saudita
O desafio começou para descobrir informações sobre o visto saudita. Como temos passaportes europeus —eu, o polonês, e a Pati, o italiano—, temos a opção de obter o eVisa e o Visa on Arrival —em outras palavras, o visto eletrônico e o na fronteira.
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Preenchemos o formulário on-line ainda em Aqaba, nossa primeira parada em solo jordaniano e, na hora de pagar, nosso cartão não foi aprovado. Ou melhor, seis cartões diferentes, de quatro bancos. Ao pesquisar a respeito, achamos informações desencontradas se o eVisa seria aceito ou não na fronteira terrestre. Assim, retomamos no Oriente Médio uma prática chata do período em solo africano: ir a uma embaixada para entender a burocracia.
A embaixada da Arábia Saudita em Amã é grande e funciona das 9h às 15h. Mas, se tratando de visto, só mesmo às 14h —descobrimos isso chegando lá às 11h. Pelo menos o funcionário que nos atendeu foi muito solícito e confirmou que italianos e poloneses —imaginamos que as demais nacionalidades europeias também— podem entrar, por terra, tanto com eVisa quanto com visa on arrival. E não, brasileiros não se enquadram nessa, infelizmente, e ainda precisam ir a uma representação saudita.
Uma coisa que a África nos ensinou é a sempre viajar com o visto garantido, para evitar tensões na fronteira: pedido de propina, sistema fora do ar, abandono pelo motorista do ônibus, etc. Com isso em mente, tentamos em Amã pagar o eVisa. Mais uma vez não deu certo. Ou era voltar à embaixada e enfrentar burocracia ou ir direto pra Arábia Saudita e torcer pra que desse tudo certo no posto oficial.
Decisão tomada sobre o visto, eis o próximo desafio: como ir de Amã a Riade? Informações em inglês, de um ano atrás, num fórum, diziam que há ônibus internacionais em Abdali. E não é que é verdade? Na primeira agência que encontramos, a Al Banawe, garantimos nosso veículo, que sai diariamente às 11h, por 30 JOD (R$ 229).
No dia da partida, um sábado, chegamos às 10h, como nos orientaram. Cerca de 30 minutos depois um funcionário nos levou a uma outra agência, alguns metros adiante, e lá esperamos até embarcar no ônibus. Pelo que entendemos, várias empresas vendem passagens de um único veículo. Pontualmente às 11h partimos, com mais três passageiros, e pegamos outros seis em uma parada ainda em Amã.
Fronteira Jordânia-Arábia Saudita
Chegamos à fronteira entre Jordânia e Arábia Saudita às 13h40 e, entre mímicas, demos ao funcionário do ônibus 10 JOD (R$ 81) por pessoa, que é a taxa de saída da Jordânia —em minutos ele nos trouxe o comprovante de pagamento. Enquanto isso, um oficial checava nossos passaportes, dentro do veículo.
Às 14h entramos no prédio da fronteira e entregamos os passaportes e os comprovantes de pagamento da taxa de saída, e ambos foram devidamente carimbados. Cerca de 20 minutos depois, o último oficial, dentro do ônibus, fez a derradeira checagem.
Chegamos ao posto saudita às 14h30 e, na fila do carimbo de entrada, avisamos que iríamos tirar o visa on arrival. Nos mandaram sentar e foi aí que começou a tensão. Vimos todos os demais passageiros obterem seus carimbos, enquanto esperávamos. Nisso, nossos passaportes foram levados para uma salinha —como as divisórias eram de vidro, nos sentimos num cinema, assistindo a um filme de suspense.
Um outro agente veio com a maquininha e nos cobrou o visto (SAR 480/R$ 642,50). Sim! É possível pagar o documento com cartão! Em várias vezes tivemos que pagar com a moeda local ou ter dólar em espécie, o que volta e meia nos obrigava a procurar casas de câmbio.
Pagar com cartão, porém, não significa que o processo será rápido. O funcionário demorou horrores para preencher a mão um caderno —parecia até que tínhamos voltado a algumas fronteiras africanas— e nos convocou para o guichê dos carimbos.
E aí foram mais incontáveis minutos para digitar nossos dados, registrar as digitais e tirar nossa foto. Isso tudo com o funcionário do ônibus ao lado, bufando frenquentemente. Nessa hora bateu o desespero e nos lembramos de quando fomos abandonados na fronteira entre África do Sul e Moçambique —o sistema tinha caído e tivemos que esperar para fazer o visa on arrival.
No fim, após 50 minutos, conseguimos nosso visto saudita. Aí é correr pro abraço, não? Entramos no ônibus pedindo desculpas a todo mundo, com nossa expressão corporal, andamos mais alguns metros e dá-lhe outra parada. Até agora não entendemos o motivo, mas tivemos que esperar em uma sala, sem nossas mochilas de ataque. Isso levou cerca de meia hora e, às 16h, finalmente passamos pela última checagem de passaporte, dentro do veículo.
Quilômetros depois, paramos num posto de gasolina. Enquanto mais passageiros subiam no ônibus, almoçamos e sacamos dinheiro. Tivemos ainda algumas paradas pela estrada até chegar à capital saudita, na manhã de domingo, às 9h10. E, assim, levamos 22 horas para percorrer 1.450 km, batendo nosso recorde pessoal de viagem num mesmo veículo.















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