No início da 2ª temporada da nossa volta ao mundo, realizamos um sonho antigo de viajar pela Transiberiana, que depois se transformou na Transmongoliana. Mas, infelizmente, não chegamos ao ponto final: Pequim. Mongólia? China? O trem não era só na Rússia?
Há três rotas principais que cruzam grandes partes da Ásia. A mais consagrada é a Transiberiana, que liga Moscou a Vladivostok e corta o território russo de oeste a leste. Após percorrer um pedaço dela, é possível pegar ramificações para os países vizinhos. Na Transmanchuriana, o trem entra na China, em direção a Pequim. Já na Transmongoliana, o comboio cruza a Mongólia e finaliza a viagem na capital chinesa. Sim, é possível viajar por três nações de trem.
Se você tiver paciência, há um trem direto entre Moscou e Vladivostok, numa viagem que dura sete dias, com paradas de uma ou duas horas pelo caminho —a passagem custa a partir de 13.000 rublos/R$ 720. Também é possível dividir essa jornada e visitar cidades. Nossa experiência pela Transmongoliana durou 26 dias e circulamos por nove cidades: Moscou, Kazan, Ecaterimburgo, Novosibirsk, Krasnoyarsk, Irkutsk, Listvyanka (fizemos um bate e volta a partir de Irkutsk, de ônibus), Ulan-Ude e Ulan Bator. Gastamos 32.693,50 rublos (R$ 1.816) por pessoa.
Fizemos várias pesquisas no site da RZD, a companhia russa de trem, por passagens entre Moscou e as capitais vizinhas, e não achamos. Para chegar a Ulan Bator, é preciso comprar um comboio a partir de Irkutsk ou de Ulan-Ude (nosso caso). Atenção que, quando buscamos, só havia saídas às terças e sextas, e ainda assim é preciso ficar de olho na data, pois não tinha na véspera de 1º de maio, feriado pelo dia do trabalhador. As tentativas por bilhetes até Pequim também foram infrutíferas.
Por falar nisso, queríamos ter viajado até a capital chinesa, para completar a Transmongoliana, mas a burocracia do visto durou bem mais tempo do que tínhamos disponível no Brasil. Além do mais, pesquisas apontam que a fronteira terrestre entre China e Mongólia está fechada.
O que você precisa saber sobre a viagem de trem
Passagens
O site da RZD, a companhia russa de trem, é o rzd.ru, e em tempos normais pode-se comprar as passagens por ali. Como a Rússia está sob sanções, muitos sites de lá não funcionam no exterior, que é o caso da empresa ferroviária.
Assim, fizemos como os antigos e adquirimos nossas passagens diretamente na estação, pagando em dinheiro vivo —as sanções afetam o uso de cartões Visa e Mastercard.
Já sabíamos desse problema e, para contorná-lo, traçamos um roteiro da viagem, fizemos uma estimativa do quanto gastaríamos por dia e sacamos o dobro, para evitar contratempos. Afinal de contas, não sabíamos o preço das passagens, então elas poderiam estar muito acima do nosso orçamento diário.
Eu, Faraó, sei uma ou outra coisa de russo —com algumas pausas, estudei seis semestres, mas meu domínio do idioma está bem enferrujado—, e, para evitar desencontro de informações, adotava uma metodologia na compra da passagem.
No site, escolhia o trecho, o dia/horário e a cama que queria. Na sequência, tirava prints da tela do celular e mostrava isso para a funcionária do caixa. Volta e meia surgia uma pergunta por parte delas, e elas logo percebiam que estavam diante de um estrangeiro e que dali não sairia uma resposta contundente. Se você estiver com essas informações na mão, o passaporte e o dinheiro, será sucesso!
Embarque e desembarque
As estações de trem costumam ser um ambiente agradável, com cafeterias, продукты (mercadinhos que vendem vários itens essenciais pra viagem), bancos confortáveis e Wi-Fi. Só é preciso se acostumar com o raio-x na entrada do prédio.
Os telões com as informações do trem são práticos, pois mostram na sequência o número dele, a origem e o destino, a hora de chegada e a de saída e a plataforma. Assim, não se assuste se você fará apenas um trecho e seu comboio for Moscou-Vladivostok (em duas vezes viajamos na linha “original”).
Recomendamos chegar com ao menos 30 minutos de antecedência, pois normalmente são vários vagões. Então pode acontecer de você percorrer, pela plataforma, sete ou oito vagões até chegar ao seu. E é sempre necessário passar por uma checagem de passaporte antes de subir no trem. A depender da sua sorte, pode ter uma fila na sua frente. Depois da partida, o funcionário volta a fazer uma conferência dentro da cabine —logo, não guarde tão fundo seu documento.
Para desembarcar, os funcionários, normalmente cordiais, avisam cerca de 30 minutos antes do seu destino. Inclusive de madrugada. Assim, não se preocupe se você ainda está confuso com a mudança de fuso horário —do início ao fim da viagem, mudamos três vezes de horário.
Comodidades do trem
Os comboios oferecem normalmente três modalidades de vagão: 1ª classe, com duas camas por cabine; 2ª classe, mais conhecida por kupê, com dois beliches por cabine; 3ª classe, sem cabine, mas com uma configuração que dá a entender três beliches por setor.
Viajamos sempre no kupê e a cabine, confortável, aproveita bem o espaço. As camas de baixo ficam sobre um compartimento onde é possível guardar a bagagem. Entre elas, há uma mesa diante da janela. Em alguns trens essas camas também são sofás, e o encosto se transforma em colchão. Para quem fica nas camas de cima, é possível guardar a bagagem no espaço sobre o corredor, e o utilizamos bastante na viagem.
Normalmente há tomadas perto da mesa e encaixes USB em todas as camas, assim como lâmpada. Na maioria das vezes, havia na parte superior da cabine pequenos armários ou suportes, para que o viajante possa apoiar seus pertences. Há também escadas retráteis para alcançar as camas de cima, além de cabides para os casacos. Em algumas vezes vimos a sinalização de Wi-Fi, mas ele nunca funcionou.
No preço da passagem está incluído travesseiro e cobertor, além de um conjunto lacrado com lençol, fronha, capa de cobertor e toalha de rosto. Esses quatro itens devem sempre ser devolvidos aos funcionários antes do desembarque.
Os vagões possuem, no mínimo, dois banheiros, um em cada extremidade, que são limpos de hora em hora. Chegamos a ver —em apenas um comboio— chuveiro!
Em nenhuma de nossas viagens encontramos vagão-restaurante, mas pode-se comprar vários itens com os funcionários: bolacha, chips, chocolate, macarrão e purê de batata instantâneos, chá e café. Como os trens possuem caldeiras de água, você também pode levar seu próprio cup noodles. Algo que fizemos foi adquirir café no início da jornada e então reaproveitamos as canecas —que precisam ser devolvidas antes do desembarque— com os sachês de chá da nossa mochila.
Quer um roteiro completinho da Transiberiana? Assine nossa newsletter e receba todas as dicas na sua caixa de e-mail
Dicas que aprendemos
Organizamos nossa viagem para que todos os trechos fossem de madrugada, para economizarmos em hospedagem. Nem sempre dormimos bem, seja porque enfrentávamos muitas curvas, seja porque o sistema de ventilação não estava dos melhores.
Se o trecho escolhido é de muitas horas durante o dia, vale a pena gastar mais com camas de baixo. Quando comprávamos as de cima, não nos sentíamos à vontade em sentarmos nas dos outros, ao lado da mesa. Então ficávamos muitas horas deitados no alto, sem vista pra janela.
De Irkutsk a Ulan-Ude o trem circunda por um bom tempo o lago Baikal, o mais profundo do mundo. Fizemos esse trecho à noite e nos arrependemos assim que visitamos Listvyanka, uma das cidades à margem do lago. Dizem que a vista do trem é belíssima. Fica para uma próxima viagem pela Transiberiana.















Deixe um comentário