O sucesso de viajar entre Brunei e Malásia, na ilha de Bornéu, que envolveu dois ônibus e dois barcos num mesmo dia, nos fez acreditar que teríamos o mesmo êxito na fronteira do território continental malásio com a Tailândia. Pretendíamos pegar três ônibus e uma van, mas, como dizem, “a vida não está nem aí para o seu planejamento”. Pelo menos pisar em solo tailandês, que não exige visto de brasileiros, foi mais fácil do que o esperado.
De Kuala Lumpur, a capital malásia, queríamos chegar a Koh Phangan, famosa ilha tailandesa. A estratégia mais direta é pegar um trem até Padang Besar, cruzar a fronteira, pular em outro comboio, para Surat Thani, e então um ônibus até o porto de Don Sak, de onde sai o ferry para o ponto final. Uma viagem de cerca de 970 km.
O problema é que as passagens dos dois trens estavam esgotadas nas datas que queríamos. Talvez tenha sido um impacto do feriado hindu de Diwali, de cinco dias, já que quase 7% da população malásia é formada por descendentes de indianos.
Tivemos, então, que adaptar o roteiro e dividi-lo. Na Malásia, pegaríamos um ônibus até Kangar e um segundo, de linha, até Padang Besar. Após a fronteira, seria uma van até Hat Yai, de onde viajaríamos de ônibus para Surat Thani, e a partir daí seguiríamos o plano original para chegar ao ferry e a Koh Phangan. Mas nem isso deu certo.
Começamos a jornada com o ônibus de Kuala Lumpur a Kangar, às 7h25, pela Cosmic Express (RM 70/R$ 92,50 a passagem). A alta demanda do trem refletiu também ali, pois não conseguimos nos sentar juntos, de tanto interesse que havia pelo trecho.
O primeiro problema do dia surgiu com a chegada tardia do ônibus e, em vez de pararmos no destino às 14h30, vimos a placa de Kangar apenas às 15h45. Agora era esperar o T11, ônibus de linha que nos levaria à fronteira, previsto para as 16h30.

Após quase duas horas de espera, alguns jovens nos avisaram que os veículos estavam deixando de operar, o que implicava no nosso. Eles sugeriam recorrer a outro, que iria para um destino diferente, ou pegar no dia seguinte. Como essa não era uma opção para nós, recorremos ao Grab, o Uber do Sudeste Asiático. Se estávamos prevendo gastar cerca de RM 15 (R$ 20), desembolsamos RM 98 (R$ 131) pela corrida de 34 km.
Fronteira Malásia-Tailândia
Em cerca de 40 minutos chegamos à fronteira e a conferência dos passaportes do Brasil pelos oficiais malásios foi ágil. Após uma caminhada de cerca de 1 km até o lado tailandês, chegou a hora da verdade.
Sabíamos de relatos de agentes implicando com brasileiros, inclusive com o certificado de vacinação contra a febre amarela. Como tivemos problemas envolvendo o documento ao entrar na Malásia, fomos ao consulado em Kuala Lumpur e, após contarmos sobre nosso sufoco, ganhamos uma impressão colorida e carimbada, numa tentativa de evitar novas adversidades.
No guichê, nos mandaram entrar numa sala, onde o agente pediu os passaportes e uma reserva de hospedagem. Falamos que não sabíamos ainda em qual cidade dormiríamos, mas, diante da exigência dele, fizemos rapidamente o pedido de um hotel em Hat Yai. Pelo horário, seria difícil conseguirmos um transporte até Surat Thani ainda naquele dia, como queríamos.
Mostramos ao oficial a reserva, ele nos cadastrou no sistema, carimbou os passaportes e pronto. Sem pedidos de vacinação. Vai entender.
Na saída do prédio, além de táxis, há uma tenda que vende passagens de van até Hat Yai. A atendente não falava nada de inglês e recorreu a um cliente, que serviu de intérprete. Por uma grande sorte do destino, os dois bilhetes custavam ฿ 160, ou exatamente a quantia que tinha sobrado da Malásia: RM 22 (R$ 31).
A espera foi pouca e logo subimos na van, chegando às 18h30 a Hat Yai (a Tailândia está uma hora atrás da Malásia). Agora, nos faltavam um ônibus para Surat Thani, algum transporte até o porto de Don Sak e o ferry para Koh Phangan. Cansados, nem cogitamos recorrer a uma viagem noturna. Decidimos, inclusive, por comprar uma passagem casada (฿ 740/R$ 128 por pessoa) e ter tudo facilitado: um ônibus até o porto + a balsa para a ilha.
Na manhã seguinte, fomos à rodoviária, de onde partiu a van às 8h45. A viagem durou cerca de cinco horas e, assim que descemos do veículo, ganhamos do motorista os bilhetes do ferry. Às 14h45, passamos a navegar até Koh Phangan, onde desembarcamos às 17h10. Agora, era pegar um dos táxis tailandeses, uma camionete em que os passageiros ficam na carroceria, para o hotel, em Haad Rin. Enfim começava o nosso sonho tailandês.















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