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Fronteira entre Afeganistão e Tajiquistão teve revista minuciosa ao sair e zero pergunta para entrar


Ficamos tensos ou desconfortáveis em todos os dias no Afeganistão, e isso se estendeu até o último momento, quando cruzamos a fronteira com o Tajiquistão. O receio na saída, porém, se mostrou infundado, e a maior apreensão ficou a cargo das revistas minuciosas em nossas mochilas. Tudo bem diferente da entrada no novo país, nossa estreia na Ásia Central.

Há poucas informações atualizadas sobre como cruzar, de ônibus ou táxi, a fronteira de Shir Khan Bandar, então fomos descobrir na prática o processo. Já cientes de que pretendíamos fazer essa travessia, pedimos no Ministério da Informação e Cultura, em Cabul, o aval para circular tanto pela capital quanto pela província de Kunduz, a mais próxima ao vizinho.

Com a companhia de Amir, funcionário do Clock Tower Hotel, onde nos hospedamos, fui à Hazara-I-Baghal, um dia antes de nossa viagem, para comprar a passagem de ônibus. Diferentemente dos países do subcontinente indiano, na capital afegã há uma rodoviária.

Ahmad, o gerente do hotel, nos orientou para que eu esperasse no táxi enquanto Amir compraria a passagem, a fim de evitar preços inflacionados para estrangeiros. De qualquer forma, na Qudrat Transport era possível comprar bilhete a 600 Af (R$ 44,50) ou 900 Af (R$ 66,50), de acordo com o nível de conforto.

No dia da partida, chegamos à rodoviária às 16h, pois o veículo estava previsto para sair às 17h. Pudemos aguardar já dentro do ônibus, realmente bastante confortável. Enquanto a metade dos fundos era no esquema 2×2, a parte da frente era 2×1, com um largo corredor atapetado. Por causa disso, os passageiros eram obrigados a tirar os calçados para entrar, assim como em alguns transportes do Vietnã. Nesse corredor, inclusive, vimos algumas crianças e até um adulto se deitarem durante a viagem noturna.

Partimos às 18h e paramos algumas vezes durante a viagem, para comprar alimentos ou ir ao banheiro. Não houve nenhuma checagem de passaporte, como ocorreu na nossa entrada a partir do Paquistão.

Chegamos às 2h30 a Kunduz e logo uma horda de taxistas e motoristas de tuktuk nos abordaram para nos levar ao hotel, o que recusamos, já que em algumas horas iríamos para a fronteira. Vimos uma poltrona na frente da agência da Qudrat e logo nos aninhamos ali. Nem 10 minutos depois o funcionário abriu a porta e nos convidou, com mímicas, a esperarmos lá dentro, nos sofás. Obviamente, aproveitamos para dormir.

Às 4h30, já com dia claro, ele nos acordou e sugeriu, entre gestos e desenhos no papel, para que fôssemos à fronteira, que abriria apenas às 9h. Como leva cerca de uma hora até lá, explicamos a muito custo que pretendíamos esperar mais algumas horas até partirmos.

Por fim, às 6h, saímos do esconderijo e negociamos, a duras penas, com vários motoristas, que queriam cobrar preços inflacionados. Sabíamos que era possível pagar 200 Af (R$ 15,50) por pessoa, mas queriam cobrar, no mínimo, o dobro. Utilizamos a velha estratégia do “se não quer esse preço, vamos procurar quem queira” e encontramos um disposto a cobrar nossa proposta. E ainda viajamos só nós dois, sem passageiros extras.

Fronteira Afeganistão-Tajiquistão

Chegamos às 7h15 ao prédio da fronteira, onde uma família já aguardava a abertura do portão. Enquanto outras surgiam, com enormes malas, trocamos com um cambista nossas últimas notas de afeganis por somonis.

A adolescente de uma das famílias, muito simpática, conversou um pouco com a Pati e deixou escapar que estavam de mudança. Queríamos saber mais sobre os planos e a experiência dela como mulher e jovem no Afeganistão, mas ficamos receosos de que algum agente do Talibã visse nossa interação e, porventura, retaliasse o grupo por falarem com estrangeiros.

Entrada da fronteira afegã em Kunduz

O portão foi aberto mais cedo do que esperávamos, às 8h, e recebemos prioridade no processo, quando um oficial pediu para que eu abrisse as mochilas para revistar. A checagem não foi muito atenciosa e ele perguntou se eu tinha dólares. Quando falei dos US$ 100, pediu para ver. A Pati passou ilesa no processo, sem mexer na bagagem ou apresentar as notas de euros.

Mais adiante, entramos no prédio para os carimbos de saída, mas fomos separados de acordo com o gênero. Houve uma nova revista das mochilas, desta vez mais minuciosa. O oficial me pediu para abrir os organizadores de roupa e a nécessaire da máquina de barbear, além de checar a bolsinha dos remédios. Ainda assim, várias sacolas passaram ilesas, como as dos tênis de corrida, no fundo da bagagem.

O sujeito também pediu para ver as notas de dólares. Quando a Pati, após passar por uma revista superficial, se juntou a mim, lhe perguntaram sobre a moeda dos EUA e, ao dizer que só tinha euros, foi liberada, sem mostrar nada, apenas precisou informar a quantia (€ 420).

Uma ponte separa os prédios de imigração das duas nações, e há táxis que fazem esse traslado. Fomos a pé mesmo, já que não chega a 1 km. No lado tajique, o trâmite de entrada foi extremamente simples e ágil, já que quem tem passaporte brasileiro é isento de visto.

O oficial pegou o passaporte, indicou a câmera para tirar foto e carimbou, sem perguntas ou comentários. O grande clímax foi esperar, por alguns minutos, a máquina do raio-x funcionar. Para não dizer que teve emoção, surgiu um homem com um peixe enorme, e todos se aproximaram para tirar uma foto.

Liberados, saímos do prédio e enfrentamos outra negociação, agora pela van até a capital, Dushambe. O motorista com quem acertamos nos pressionou, afirmando que todas as famílias afegãs já tinham transporte acertado e que teríamos que esperar muito tempo para o veículo encher. O mantra que adotei no trekking do Acampamento-base do Everest, no Nepal, valeu para essa situação também: não tenho compromisso, então não preciso ter pressa.

Em cerca de 30 minutos, outros três viajantes surgiram e logo partimos. Ainda precisamos passar por duas rápidas checagens de passaporte dentro do complexo.

No fim, levamos três horas para percorrer os 180 km até a capital e, lá, embarcamos num táxi até o hotel. Surpreendentemente, o carro tinha taxímetro, algo inédito nessa viagem por Ásia e Oceania. Ou conseguimos transporte por algum aplicativo, ou negociamos com o motorista antes de embarcarmos. Sinal de que teríamos vida fácil nessa parte do continente.

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2 respostas para “Fronteira entre Afeganistão e Tajiquistão teve revista minuciosa ao sair e zero pergunta para entrar”.

  1. Avatar de Soraya Pamplona
    Soraya Pamplona

    Excelente texto! Vocês tem ideia do motivo de pedirem para ver somente os dólares?

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    1. Avatar de Patricia Pamplona e Wesley Faraó Klimpel
      Patricia Pamplona e Wesley Faraó Klimpel

      Que bom que gostou do texto! Eles ficam preocupados de as pessoas carregarem muito dinheiro, então se falamos que temos “só” US$ 100, eles querem ver e revistar para ver se não tem mais. Os euros, por ser um valor maior declarado (não estaríamos tentando esconder) e, provavelmente, por estar com a Pati, não quiseram saber. Mas isso é pura especulação.

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