A travessia de fronteira Tajiquistão–Uzbequistão nos lembrou das viagens entre países na África, pois tivemos que negociar com motoristas que tentavam nos convencer a embarcar em seus carros compartilhados até o prédio de imigração. Pelo menos foi menos conturbado do que as tratativas, aos gritos, para sair do Paquistão em direção ao Afeganistão.
Queríamos viajar pela Ásia Central apenas de trem, já que a região, que fez parte da União Soviética, tem uma boa malha ferroviária. A linha entre Dushambe e Tashkent, porém, é bastante limitada, com uma única opção às segundas-feiras. Chegamos à capital tajique no domingo, e nosso cronograma apertado impossibilitou aguardarmos uma semana pelo comboio.
Desse modo, repetimos a tradicional forma de viajar entre países, negociando um transporte em cada lado. Em Dushambe, pegamos um táxi (com taxímetro) até Chorbogh, de onde partem os carros compartilhados.
Assim que chegamos, nos ofereceram vários destinos e, quando falamos que queríamos ir à fronteira, iniciou-se a negociação de fato. Já sabíamos que o valor normal é de 150 somonis (R$ 81,50) por pessoa, e ofereceram o dobro disso. Irredutíveis, conseguimos pagar o preço comum.
Tivemos que esperar uma hora até o carro encher com outros quatro passageiros, e dois deles, senhores na faixa dos 80 anos, citaram parte da seleção brasileira de 1970 quando dissemos nossa origem. Em uma das paradas no caminho, até pagaram minha entrada no banheiro. Levamos 4 h, entre as montanhas tajiques, para chegarmos ao prédio da imigração.

Fronteira Tajiquistão-Uzbequistão
No lado tajique, assim como na entrada no país, o oficial nada perguntou. Apenas carimbou os passaportes brasileiros e liberou a passagem. Nem parece que faz fronteira com o conturbado Afeganistão.
Foi esse país, entretanto, que nos gerou questionamentos no lado uzbeque. Antes, porém, testemunhamos o oficial ficar em dúvida sobre a isenção de visto para brasileiros, uma política comum nessa região asiática. Ele precisou fazer algumas ligações até nos deixar entrar no complexo.
No prédio de imigração em si, fomos atendidos por diferentes agentes. Enquanto o da Pati perguntou de qual cidade era e comentou que o Brasil fica longe da Índia —ele deve ter visto os carimbos indianos—, o meu encucou com o visto do Afeganistão. A ponto de carimbar o passaporte e ainda assim ir falar com o superior.
Liberados, fomos ao raio-x, onde estava o funcionário mais graduado. Quando passou minha mochila, ele perguntou o que era um item sinalizado. Já é difícil lembrar o que carregamos nesse grande quebra-cabeças, e fica pior ao ver numa tela de computador com tons de azul. Foram segundos de tensão, entre revisar a memória e torcer para não ter que retirar tudo de dentro, até identificar que aquilo era a corda de exercícios, que comprei ainda na Austrália. Após fazer mímicas para explicar, ele se mostrou levemente satisfeito.
Levemente? Sim, porque aí começaram os questionamentos sobre o Afeganistão. Com uma agente atuando como intérprete, perguntaram quando estivemos no país, por onde passamos depois de lá e se ainda voltaríamos. Cada resposta gerava uma nova dúvida. Só se mostraram satisfeitos quando falamos que entramos no Paquistão por via aérea. Parece que estavam querendo saber a última vez em que passamos por uma fiscalização mais rigorosa.
Liberados, saímos do prédio e encaramos os vários motoristas oferecendo transporte até Sakarmanda, a terceira maior cidade uzbeque. As marshrutkas, uma vanzinha bem comum no país, cobram 20 mil soms (R$ 9,50) por pessoa, e taxistas pediram 200 mil soms (R$ 94,50) a corrida.
O motorista da van, dando uma de espertinho, quis 50 mil soms (R$ 23,50) para cada. Ao falarmos que sabíamos o valor real, ele baixou para o preço oficial. Estávamos entrando no veículo quando surgiu um taxista oferecendo a corrida por 50 mil soms. Topamos pagar um pouco a mais pelo conforto.
No caminho, o sujeito falou que poderia nos deixar no hotel por mais 20 mil soms, mas negamos a oferta. Ele, entretanto, pediu o endereço e nos levou até lá. Quando desembarcamos, pediu a quantia a mais, o que nos recusamos, já que havíamos dito não. Não importa o idioma, é preciso sempre fazer mímica para evitar possíveis constrangimentos ou falhas de comunicação.















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