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Túnis, uma cidade labiríntica de bazares coloridos


Para conhecer Túnis é preciso se perder —ou isso é ao menos inevitável. A Medina, parte antiga da cidade, é formada por ruelas que não parecem seguir uma lógica e nem o Google Maps ajuda por vezes.

Essa parte reúne uma arquitetura local própria, e há quem se aventure de moto ou mesmo de carro pela região. Ali também estão concentrados os souks, ou bazares, que vendem de tudo um pouco. Mas antes de nos aprofundarmos, vamos falar sobre nossa epopeia para ir até o hostel.


Informações práticas*:
  • Visto: não é necessário para brasileiros, pois o carimbo na entrada dá direito a permanecer por 90 dias
  • Do aeroporto até Túnis: não há ônibus, é preciso ir de táxi. A corrida até o centro custa, em média, 20 dinares tunisianos (R$ 35)
  • Hospedagem: Auberge El Medina, 75 dinares tunisianos a noite para o casal no quarto duplo privado c/ banheiro compartilhado (R$ 132) + taxa Hostelworld
  • Transporte público: melhor se deslocar a pé, pois a cidade é pequena, mas vale notar que as ruas da Medina não são recomendáveis para malas de rodinha
  • Dica: caso esteja sem internet, vale fazer o download do mapa no Google Maps para se deslocar mais facilmente pela Medina (ou tentar se perder menos)

* valores para novembro de 2022 para duas pessoas


Chegar a Túnis

Nossa chegada à Tunísia foi muito tranquila (tirando as muitas horas de voo pelo desvio que fizemos para economizar). No último trecho, de Paris para Túnis, fizemos uma viagem tranquila com a Transavia.

Vale a pena gastar um dedo de prosa sobre a companhia aérea. Fundada em 2007, hoje faz parte do grupo Air France/KLM e se denomina a empresa de pessoas simpáticas. Isso porque, nos anúncios, os comissários sempre fazem um gracinha (apenas em francês) como: “apertem os cintos para decolagem. É claro que o do avião, não o da sua calça”, ou “há mais de 50 maneiras de deixar seu marido/esposa, mas apenas quatro para sair deste avião”.

Passada a tensão comum na hora do pouso, vem a próxima: passar na fronteira. A Pati estava receosa, pois não viajamos com bilhete de saída, mas a preocupação foi à toa. O agente pegou nossos passaportes brasileiros —que não precisam de visto prévio, o carimbo na entrada vale por 90 dias—, registrou e carimbou. Quando chegamos à esteira, a mochila do Faraó já estava brincando de Pião da Casa Própria (girando por lá).

Entrada do aeroporto de Túnis

Chegar de um voo longo e ter sua bagagem te esperando é daquelas alegrias genuínas. Mas depois você precisa sair do aeroporto, e tristeza/tensão volta a se apoderar de seu corpo. Nem toda cidade tem uma ligação simples de transporte público para o centro, e este é o caso de Túnis.

A Pati tinha achado na internet duas opções de ônibus, mas não as encontramos lá. E olha que perguntamos, hein. Após muitas andanças, finalmente um funcionário do estacionamento falou que esses coletivos não existem e nos deu a dica de pedirmos um táxi. A sugestão dele foi para nos afastarmos do aeroporto, pois os motoristas dali costumam cobrar muito caro —quem é brasileiro já está acostumado, não?

O taxista que nos abordou não sabia onde ficava o hostel em que tínhamos uma reserva e perguntou para um segundo. Quando descobriu o endereço, nos pediu 20 dinares tunisianos (R$ 35). Como o funcionário do aeroporto nos tinha falado que deveria ser cobrado cerca de 7 dinares tunisianos para uns 7 km, propusemos 15, pois a corrida era de 12 km, segundo o Google Maps. O homem não topou.

Cabeças-duras, saímos do táxi e procuramos um segundo motorista, que aceitou os 15. No fim, ele tinha entendido que ficaríamos no hotel El Medina, e não hostel El Medina —aqui era necessário usar a palavra albergue, em francês, para diferenciar. Como dizem os sábios, combinado não sai caro, e o taxista nos levou até o endereço final. Só que não.


Contamos um pouco mais sobre os hábitos dos tunisianos neste texto aqui


Ele nos deixou até onde era permitido carro e, só com o mapa do Google, nos perdemos. Apelamos para três policiais, receosos de que nos respondessem que não eram guias. A primeira coisa que fizeram foi colocar pão em nossas mãos e nos oferecer um pouco do jantar, feito pela mãe de um deles.

No fim, ele nos acompanhou pelas ruelas da cidade velha, perguntando para as pessoas onde era o hostel. Sim, estávamos os três perdidos, mas ele fala fluentemente árabe. No caminho, muito Ronaldinho, cerveja e “adoro o Brasil”, provando que ser brasileiro ainda é vantajoso.

No hostel, conhecemos pessoas da Tunísia, Marrocos, Espanha, Coreia do Sul e Brasil

O Faraó estudou árabe por dois anos, mas o que seis meses sem praticar não fazem, né? O que restou é o bom e simpático “oi”, “obrigado” e “que a paz esteja com você”, expressão árabe típica de início de conversa —márhaba, xucrán e salamalêico, respectivamente, em alfabeto latino. Na Tunísia, ter noção de francês ajuda muito, pois é um dos idiomas oficiais.

A caçada pelo caixa eletrônico

Algo fundamental na chegada a um país é ter dinheiro na moeda local. Assim que desembarcamos no aeroporto, sacamos 100 dinares tunisianos (R$ 177), que evaporaram com o táxi, o pagamento do hostel e o nosso jantar. Não que esses tenham sido grandes gastos, mas ainda estávamos avaliando como rendia o dinheiro do país.

Ter dinheiro em espécie é essencial para o dia a dia na Tunísia. São poucos os lugares que aceitam cartão —devemos ter visto uma ou outra loja nos souks que aceitavam e não lembramos de restaurantes com placas das bandeiras.

É por isso que, na nossa primeira manhã, partimos em busca da arca perdida, ops, do caixa eletrônico. Antes de sair do hostel, fizemos a conta de quanto precisaríamos não só para Túnis, mas também para os demais passeios que pretendemos fazer no país, o que dava um valor considerável. Nos primeiros caixas que encontramos perto da hospedagem, o limite não cobria nem 50% disso. E olha que eles não foram facilmente localizados.

A Medina é formada por um labirinto de vielas

Estávamos hospedados no meio da Medina, e toda a volta depois do táxi para chegarmos ao hostel já tinha nos dado um gostinho de como seria andar por lá. Essa é a parte antiga da cidade, que parece mais um labirinto e que durante o dia ainda é ocupada pelos souks. Justamente por essas características, há bem menos caixas disponíveis do que na parte nova, além de o limite para saque ser mais baixo.

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Ou seja, depois de cerca de uma hora caminhando perdidos, decidimos ir para a parte nova da cidade, onde finalmente conseguimos sacar com um limite mais alto. Mas isso apenas com o cartão do Sicoob, que cobra IOF de 6,38%, pois o Wise, que não possui conta em dinar tunisiano, não funcionou mesmo havendo saldo em real —segundo o site deles, deveria funcionar. A questão é que é preciso haver saldo em euro ou dólar, por exemplo, mas só descobrimos isso após abrir um chamado.


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Passeios em Túnis

A parte mais turistável da capital tunisiana se concentra na Medina. Lá estão mesquitas, museus e a grande estrela, os souks. Visitamos a mesquita Elzzitouna, cujas entradas para o vão central ficam meio escondidas entre uma e outra loja. É a única parte na qual a visitação é permitida para não muçulmanos, já que a área de oração é exclusiva para eles, e é preciso que as mulheres cubram a cabeça.

Interior da mesquita Elzzitouna

Dos museus, ao contrário da nossa tradição, não podemos falar muito, porque acabamos por não visitá-los. Já os souks são muito interessantes para ver um pouco das pratarias, essências e roupas típicas vendidas —mas é claro que há muito “pega turista”. Um deles é a venda dos tradicionais chapéus vermelhos que, em Túnis, vimos menos de dez homens usando.

É preciso, no entanto, paciência para visitá-los. Os vendedores constantemente tentavam chamar a atenção da Pati com um “madame” para ver os produtos ali dispostos, além de abordagens no entorno da mesquita tentando levar para algum outro canto.

A Medina tem vários souks, os bazares

Outros passeios para fazer na região da capital, em direção ao norte, são Carthage, por suas ruínas romanas, e Sidi Bou Said, um famoso balneário. Decidimos, porém, seguir para o sul, e esses passeios talvez fiquem para o retorno.

Onde comer

Come-se muito e muito bem em Túnis. As porções são bem servidas, e as comidas, com seus temperos e preparações diferentes, deixam sua marca em quem está acostumado à gastronomia brasileira.

O primeiro prato que comemos no país foi aquele oferecido por um policial assim que chegamos. Naquela confusão, nem conseguimos entender do que se tratava. Só dois dias depois descobrimos, ao acaso, ser um ojja, prato típico tunisiano. É um ensopado com várias especiarias, apimentado —a Pati que o diga— e com algum tipo de carne, acompanhado de pão. A do policial vinha com uma espécie de almôndega, enquanto a que comemos no restaurante era com merguez, uma linguiça local, por 7 dinares tunisianos (R$ 12) —ainda ganhamos uma sopa de entrada de brinde, também apimentada.

O ojja, prato típico tunisiano, serve tranquilamente duas pessoas

Outro prato típico que provamos foi o cuscuz, que vem com carne ensopada e legumes, por 10 dinares tunisianos (R$ 18) —experimentamos o com carne bovina e o com carne de coelho. Como estamos com um orçamento controlado, fugimos dos restaurantes na região mais turística, onde vimos o cuscuz por 16 dinares (R$ 28).

O cuscuz é normalmente servido com carne

Entre os lanches, comemos makloub, um prato que lembra o beirute servido no Brasil, recheado com chawarma e acompanhado de fritas, por 5 dinares tunisianos (R$ 9). E como era bem servido, hein. Outro que provamos foi o mlewi, uma espécie de kebab, preparado com os ingredientes que o cliente quiser, como presunto, queijo, ovos e salada, por 4 dinares tunisianos (R$ 7).

O makloub lembra o beirute vendido no Brasil

Algo que aprendemos nas primeiras 24 horas em Túnis é que os pratos são bem servidos. Já tínhamos percebido isso com o makloub, e o cuscuz foi a cereja do bolo, após nossa dificuldade em limpar o prato. A partir de então adotamos a prática de dividirmos a refeição —ninguém gosta de se perder de barriga cheia, né?


Restaurantes:
  • Para provar o makloub, Bent l’bey: 25 rue Essaida Ajoula
  • Para o cuscuz, Mohamed Abid Sfaxien: rue du Caire
  • Para o ojja, Mido: 38 rue Said Abou Baker

Costumes

Apesar de a Tunísia ter uma população majoritariamente muçulmana, a capital traz uma boa mistura com a cultura ocidental. É comum ver grupos de jovens em que algumas estão de hijab e outras, sem véus ou qualquer vestimenta típica.

Logo, não é exigido para as mulheres se cobrirem, exceto se forem visitar as mesquitas. Ainda assim, é raro vê-las, mesmo as turistas, com shorts ou blusas de alça. Encontramos algumas poucas com esse tipo de roupa ou com vestidos acima do joelho, por isso a Pati preferiu adotar a calça legging e camisetas —uma delas um cropped, mas que mostrava pouco da barriga.

E mesmo com um estilo mais comedido, os homens e algumas mulheres costumam ficar encarando, talvez mais pelo diferente, já que Faraó também era alvo dos olhares. Outra coisa que nos causou estranheza foi que, em boa parte dos salões de chá e cafés (que também funcionavam como restaurantes), apenas homens ocupavam as mesas. Assim, optamos por ir a lugares onde havia mulheres também.

Por fim, outra precaução foi com relação à troca de afeto em lugar público, o que não é bem visto —e não estamos falando de ficar trocando beijos. É raro ver casais de mãos dadas e mais ainda abraçados, então sempre ficávamos lado a lado, mas sem se encostar.

Atualizado em 21 de novembro de 2022

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2 respostas para “Túnis, uma cidade labiríntica de bazares coloridos”.

  1. Avatar de Adriano Medeiros
    Adriano Medeiros

    Show de bola!! Curti junto com vocês a Tunísia !!! Boa viagem

    Curtido por 1 pessoa

  2. Avatar de Maria Lúcia Juncklaus
    Maria Lúcia Juncklaus

    Ótimo começo meninos! Sou amiga de seus pais Patrícia e estou acompanhando a jornada de vocês. Adoro viajar e me aventurar. Boa sorte !

    Curtido por 1 pessoa

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