Viajar pela Tunísia exige empenho. Os trens, no nosso ponto de vista, são mais confiáveis, ainda que as informações nem sempre estejam completas no site da companhia estatal que gerencia o sistema. Apesar de antigos, obedecem a uma regra de horários, e mesmo assim estão sujeitos a cancelamentos e atrasos —como aconteceu na Alemanha no último verão europeu.
Para nós, os trens funcionaram porque viajamos pela costa, onde estão concentrados os trilhos. Para o interior, infelizmente, as ferrovias raramente são uma opção. As alternativas, então, são os ônibus, que não possuem muita informação disponível online, e os louages, vans compartilhadas que são mais rápidas, porém dependem de lotação completa para sair.
Nosso roteiro incluiu Sousse, El Djem, Sfax e Djerba, e usamos os três modais ao longo da viagem.
Informações práticas*:
- Média preço café da manhã: 6 dinares (R$ 11)
- Média preço almoço: 10,50 dinares (R$ 18,50)
- Média preço jantar: 8 dinares (R$ 14)
- Média preço de hospedagem: 37,50 dinares (R$ 66)
- Deslocamentos: trem, táxi compartilhado, balsa, louage e ônibus
- Visto: não é necessário para brasileiros, pois o carimbo na entrada dá direito a permanecer por 90 dias
* valores para novembro de 2022 para duas pessoas
Sousse
Chegamos à terceira maior cidade da Tunísia de trem, ou era pra ser. Nossa primeira experiência com esse modal foi conturbada. Escolhemos a saída das 15h15 por 8,1 dinares (R$ 14), para chegarmos por volta das 17h15. A linha, no entanto, foi cancelada, e acabamos viajando com o trem expresso das 16h20.
O que ninguém nos contou —ou pode ter contado, só que em árabe— é que o trem expresso não iria até Sousse, e que custava 3,5 dinares (R$ 6) a mais. Só descobrimos isso quando o funcionário da companhia passou cobrando a diferença, e aí estávamos no meio do nada. Era pagar ou saltar.
Um árabe, com quem estávamos conversando desde a saída de Túnis, discutiu aos gritos com o funcionário (e depois com mais outros dois que se juntaram), mas não adiantou. A Pati também tentou argumentar, em francês, que não escolhemos aquele trem, e ainda teríamos que pagar a mais porque não iria diretamente até nosso destino. Depois do funcionário reclamar (ou xingar) em árabe, nos demos por vencidos.
Fora esse percalço, a viagem foi tranquila. Pelo fato dos trens na Tunísia serem da década de 1950 (época da independência), eles não são velozes, mas cumprem seu objetivo de nos levar do ponto A ao B —já é uma opção a mais do que nós, brasileiros, possuímos. E, como desembarcamos em outra estação, tivemos nosso primeiro contato com uma van/táxi compartilhado, a 0,75 dinares (R$ 1,30), até Sousse.

Na cidade, ficamos no hotel Paris, com um quarto com cama de casal e pia a 43,5 dinares (R$ 77) —o toalete e o chuveiro eram compartilhados. A hospedagem fica dentro da Medina e próximo a uma área mais turística, o que facilitou os nossos passeios.
A região recebe muitos visitantes, e vários restaurantes tinham menus em árabe, francês e russo. No domingo em que estivemos na cidade, a avenida beira-mar, que fica próxima à Medina, estava fechada para carros. Mas, diferentemente do Brasil, as pessoas não estavam aproveitando.
Além do habitual passeio pelos souks, bazares que também vimos na capital, visitamos o ribat, uma fortaleza construída no século 9 pelos romanos para proteger a cidade. Além de descobrir um pouco mais da história local, é possível ver Sousse do alto, ao subir a torre. Há também o museu arqueológico, com diversos mosaicos, e as mesquitas.

El Djem
A menos de uma hora de trem de Sousse fica El Djem, uma pequena cidade que guarda um grande monumento: o anfiteatro, um irmão gêmeo do coliseu de Roma, só que sem hordas de turistas.

A construção histórica está bem conservada e pode ser apreciada de diferentes ângulos, desde a arena até as arquibancadas e inclusive a parte subterrânea. No seu auge, recebia até 30 mil pessoas e atraía moradores das cidades vizinhas também.
Só faltou Russel Crowe, ator de “Gladiador”, estar lá para nos guiar.
Os 12 dinares (R$ 21) que pagamos para entrar no anfiteatro também dá direito a visitar o Museu Arqueológico, a 10 minutos de caminhada. Lá, inúmeros mosaicos mostram como essa arte era bem difundida na região.

Sfax
Mais uma vez optamos pelo trem para ir de El Djem a Sfax. Apesar de um atraso de quase meia hora, a viagem ocorreu sem maiores problemas. A segunda maior cidade da Tunísia não estava em nosso roteiro, por ser menos turística e mais industrial, mas a incluímos após Achraf, um jovem tunisiano que conhecemos no albergue em Túnis, nos convidar para ficar em sua casa.
Um dos objetivos da nossa viagem é ter essa flexibilidade de adaptar o roteiro. O outro, mergulhar na cultura local, apesar do rápido tempo que passamos nos países, desfrutando de convites como esse feito por Achraf.

Ele nos buscou na estação de trem, o que facilitou muito a nossa chegada, e nos apresentou a seus pais, bancários aposentados, e seu irmão, que está terminando o doutorado em machine learning. Em sua casa pudemos degustar de comida e cerveja tunisianas, assim como aprendemos mais sobre os costumes do país em volta da mesa de jantar ou na sala de estar.
De Sfax é possível ir de balsa (1 dinar/R$ 1,70) até Kerkennah, uma ilha menos turística, mas com um mar bem azul. Como recebe poucos estrangeiros, as informações sobre preço e horário, no porto, estão apenas em árabe.

Assim que aportamos lá, pegamos um ônibus (1 dinar/R$ 1,70) que circula pela rua principal que corta o local. Descemos próximo ao acesso à zona turística, e caminhamos cerca de 40 minutos até a orla. A praia, porém, é lodosa, e não muito agradável para tomar banho de mar. Como chegamos muito cedo, não almoçamos por lá, mas o passeio vale pela vista.
Djerba
Djerba, uma ilha bastante turística próximo a Gabès, entrou e saiu do nosso roteiro algumas vezes. Mas, quando não conseguimos entrar no mar em Kerkennah, tomamos a decisão de visitar a cidade no dia seguinte. E, para isso, fizemos nossa estreia num louage —iríamos viajar de ônibus, mas a linha foi cancelada.

O louage é bem comum em vários países africanos, e as estações tunisianas costumam ficar próximas às estações de ônibus. A van custou 22,65 dinares (R$ 40) e levou 5 horas até nosso destino, 1h30 a menos que o ônibus.
Apesar dos muitos resorts, ficamos num albergue que está fora do radar dos aplicativos. Então fizemos como os antigos e fomos até lá para saber se tinha vaga. E, apesar de ser uma hospedagem comumente usado por jovens, quem nos recebeu foi um idoso muito idoso. Tivemos dificuldade de comunicação para saber o preço, mas o gerente logo chegou e solucionou essa dúvida: 8 dinares (R$ 13) por pessoa em um quarto privado com pia e chuveiro (tudo bem que a água era fria e a internet não funcionava lá).
Mesmo a ilha sendo turística, a informação para se deslocar de ônibus não é tão facilmente acessível. Depois de perguntar para quatro pessoas, descobrimos a linha que nos levava até a praia. Mas já era fim de tarde e deixamos o passeio para o dia seguinte.
O trajeto de 10 km que separa o hostel da praia é tranquilamente cumprido em 15 minutos de ônibus (1 dinar/R$ 1,70). Após uma caminhada de 5 minutos, estávamos na beira da praia, curtindo a água cristalina e um solzinho de outono tunisiano.
A região das praias é onde ficam concentrados os resorts e os restaurantes mais caros. Em El Jazira, a praia onde estávamos, havia um restaurante na beira do mar cujos pratos estavam com preço médio um pouco acima do que visto no centro da cidade. E é menos bem servido, mas mesmo assim dividimos um prato de peixe (21,50 dinares/R$ 35). Por ser baixa temporada, havia poucos turistas, mas vimos estrangeiros caminhando pela praia.

Diferentemente de outras cidades tunisianas, Djerba tem menos lixo nas ruas e é mais bem sinalizada, mas isso é reflexo da conferência da francofonia, que irá reunir líderes de países que falam francês nos dias 19 e 20 de novembro —muitas das placas possuíam o logo do evento, por exemplo.

























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