A fronteira entre o Saara Ocidental e a Mauritânia possui uma particularidade: é controlada pelo Marrocos, já que este ocupa um território reivindicado pelos saarauis, como já explicamos aqui.
Diferentemente de outras divisas, esta surpreendeu pela tranquilidade do entorno, tanto do lado controlado pelo Marrocos como pelo lado mauritano. Para sair do país, entregamos nosso passaporte europeu, com o qual estávamos viajando, e, ao entrar na nação vizinha, utilizamos o documento brasileiro.
A travessia
Nossa viagem começou em Dakhla, às 8h30, em frente à loja da Supratours (Boulevard Mohammed V, próximo ao restaurante Bahia). De lá, é possível pegar um transporte diretamente para Nouadhibou (no litoral norte mauritano) ou Nouakchott (capital). Eles operam em parceria com uma empresa do seu vizinho do sul, o que facilita bastante a travessia.
Compramos nossas passagens no dia anterior, já que o ônibus partia cedo e, até sairmos, a loja ainda não havia aberto. Foram 290 dirham (R$ 153) por pessoa até Nouadhibou, mais 5 dirham (R$ 2,60) da bagagem.

Dois detalhes importantes de ressaltar: foram duas paradas para controle de passaporte dos passageiros ao longo do caminho e o ônibus tem muita mosca e um cheirinho desagradável, mas nada que impeça de permanecer nele.
De volta, chegamos às 14h45 em Guerguerat, na fronteira, mas eles só abriam às 15h. Esperamos um pouco à sombra de um restaurante (ou seja, há alternativa caso não se leve lanche) e pontualmente às 15h nos dirigimos ao posto de controle.
Há uma fila que se forma e cada um que chega coloca o seu passaporte no fim do montinho criado em frente à janela do policial. Na saída, perguntaram profissão e para onde iria —ao que eu, automaticamente, respondi Mauritânia, em vez da cidade, como se houvesse outro lugar para ir a partir dali.
Além de mostrar o passaporte para entrar na área de fronteira e do controle para carimbo, há mais duas outras checagens até sair dali, sendo que em uma podem pedir para revistar a mochila ou não (no nosso caso, não pediram).
Oficialmente saídos do Saara Ocidental/Marrocos, entramos na terra de ninguém, um espaço de cerca de 2 km entre os dois postos de fronteira. As placas de “Cuidado! Minas” assustam, mas nos haviam falado sobre carros abandonados e um cenário à la “Mad Max”, e criar expectativa é complicado. Havia um pneu aqui e outro ali, mas nada demais.

Para atravessar esse trecho, entramos na van da parceira da Supratours na Mauritânia. O motorista confere o ticket e pega o passaporte, já que é ele quem entrega para o oficial que vai fazer a coleta de digitais e da foto. Apesar de não ser tumultuada, não poderia faltar na área do posto de fronteira ofertas para trocar dinheiro e comprar chip, o que recusamos.
Passados os trâmites burocráticos (mais informações abaixo), o motorista divide os que vão para Nouakchott e os que partem para Nouadhibou, nosso caso. Em pouco mais de uma hora, estávamos lá, totalizando o trajeto em 9h30min —só chegamos às 17h, como havíamos lido, porque o relógio adianta uma hora.
Mas atenção! A van não deixa no centro de Nouadhibou, e sim mais ao norte. Como nós e nosso mais novo amigo polonês, que estava no mesmo hotel que a gente, não havíamos trocado dinheiro na fronteira, caminhamos por 5 km. Havia algumas casas de câmbio no caminho, mas preferimos seguir direto e trocar perto do hotel.
Visto da Mauritânia
O visto para entrar na Mauritânia é do tipo que se tira na chegada ao país. Como já disse antes, o processo começa com a coleta das digitais e da foto, e nenhuma pergunta é feita neste momento. O agente já está com os nossos passaportes, recolhidos pelo motorista da van, bem como a taxa do visto de 55 euros (é bom viajar com a moeda europeia).

Depois, seguimos para outro prédio, de van ainda (não é um longo trajeto, é só a prática do local), onde é feita a entrevista. Em uma antessala, um policial pergunta qual o primeiro destino, onde vai ficar, quantas noites, para onde vai depois e um número de WhatsApp. Ele passa a informação sobre a estadia para um oficial em outra sala, para onde nos dirigimos depois.
Esse agente liga, então, para confirmar a informação sobre a reserva, então é bom ir com a primeira noite garantida. Assim que ele obtém a resposta (que, imaginamos, ter sido positiva), o policial carimba o passaporte, em cima do visto emitido entre o nosso deslocamento entre os dois postos.
Apesar de ter demorado um pouco para confirmar a nossa reserva, a emissão do visto ocorreu sem mais percalços. Os agentes são frios, mas nada além do normal para uma região fronteiriça —o da antessala até puxou papo enquanto aguardávamos a resposta sobre a questão do hotel.
A burocracia mauritana, no entanto, não se limita à sua fronteira. Para circular pelas estradas do país é preciso cópia do passaporte. Muitas cópias. Fizemos 15 com os dois passaportes na mesma folha, e a entrega delas vai depender do motorista. Se ele é mais safo, dá para evitar alguns postos. Se não, vai parar em todos os pontos e já entregar os papéis.
















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