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Do falso restaurante chinês à cabra, histórias pitorescas da Mauritânia


A entrada por terra na Mauritânia, vindo do Saara Ocidental, começa pela terra de ninguém, que além da paisagem distópica de muita areia e uns pneus velhos, tem um campo minado. Isso já dá um gosto do que vem por aí.

Da divisa até Nouadhibou foi rapidinho, chegamos em uma hora, mas caminhamos mais uns 50 minutos até chegar ao hotel (não tínhamos um tostão de ouguiya, moeda local). Ou seja, estávamos cansados. Faraó foi trocar dinheiro e observou haver uma forte presença chinesa na cidade, com muitos restaurantes típicos da Terra do Sol Nascente.

Depois viemos a saber que é devido a parcerias comerciais, parte do projeto de expansão chinesa na África. A Mauritânia possui muitas reservas de minérios e Nouadhibou é o porto de saída. Ou seja, várias empresas chinesas instaladas nesta área.

Entrada de empresa chinesa no porto de Nouadhibou

Nas ruas, porém, não se vê muitos chineses, o que eu acho particularmente peculiar. Vê-se mulheres e homens com trajes típicos mauritanos, que incluem vestidos e véus para elas (mas diferentes dos islâmicos que estamos acostumados a ver, apesar de a Mauritânia ser um país muçulmano também) e túnica para eles, chamada de boubou (fala-se bubú). Mas também há, e não é raro, camiseta e calça jeans.

De volta à nossa chegada, Faraó voltou falando que estava surpreso com a quantidade de restaurante chinês por ali. Havia um, não-oriental, entre o nosso hotel e outro mais caro, e um outro asiático um pouco depois. “Ah, vamos no chinês mesmo, porque esse mais perto deve ser mais caro”, falei para ele, que concordou. Ainda decidimos ir junto do nosso mais novo amigo, o polonês Jersey, que atravessou a fronteira com a gente.

A placa estava meio apagada, mas estava escrito “restaurant chinois” abaixo de algo em mandarim. Diz o Google ser Dunhuang, nome de uma cidade na China. Entramos, e o clima era de tudo, menos de um restaurante.

Passamos o portão vermelho, que estava aberto, e parecia a entrada de uma casa. À esquerda, o vão que seria a garagem, uma porta aberta em frente e, à direita dela, um segurança sentado em uma cadeira.

A porta de entrada levava a um corredor. A esquerda, a primeira entrada era uma sala com bar, mesas, luz de balada e música muito alta. Seguindo pelo corredor, à direita, várias entradas para salas particulares. Uma mesa estava ocupada, com dois homens comendo algo parecido a amendoim e com uma garrafa de Johnny Walker Red Label. Vazia.

Estranho. A Mauritânia é um país islâmico, e não é fácil encontrar bebida assim. Dois homens e uma garrafa de whisky vazia… e não era nem dez da noite. Talvez fosse nosso sinal para sair dali, mas eu, pelo menos, ainda não tinha processado todas as informações do lugar.

Vem a garçonete —havia duas do lado de cá do balcão e uma do lado de dentro— e eu pergunto o que tem para comer. Ela olha para nós três, sorri e diz: “querida, aqui é um bar”. Não sei na Polônia, mas no Brasil isso tem outro nome.

Mas e a cabra?

Essa história é sensível —estejam avisados. A relação dos africanos, nos países que visitamos até aqui, com os animais é bem diferente daquela que temos no Brasil. Um animal sempre tem um propósito: ou é comida ou é transporte.

Na Tunísia e na Argélia, vimos muitos gatos, mas sempre de rua. Algumas pessoas até possuem cachorros, mas normalmente é para segurança do imóvel. No Marrocos, os camelos-árabes (ou dromedários) viram atração turística, mas com origem no seu uso pela população local: levar pessoas ou cargas. Isso sem falar nas carroças puxadas por cavalos ou burros que vimos em diferentes locais.

Isso sem falar nas cabras aqui e acolá nas ruas de Mauritânia, Senegal e Gâmbia, sempre em um bando de umas quatro ou cinco. Já vimos com os pés amarrados e sendo arrastadas pelas ruas, mas nada superou a situação pela qual passamos em Nouakchott.

Voltávamos da Garage Rosso, de onde partem as vans para a fronteira com o Senegal, onde reservamos nossa passagem para o dia seguinte. Normalmente, optamos por nos deslocarmos a pé, mas desta vez eram 6 km de distância com um único propósito, então optamos pelo táxi.

Os táxis não são identificados. Carros, normalmente antigos, passam buzinando para avisar que aceitam passageiros. Paramos um desse e entramos no banco de trás, pois o banco da frente estava ocupado, mas poucos metros depois, esvaziou.

Cerca de um quilômetro mais para frente, o táxi para a pedido de um homem com sua cabra. De qualquer jeito, ele pega o animal pelos pés e coloca no porta-malas. E fecha. Eu só pensando se estava com calor no banco de trás, não quero nem imaginar o bicho fechado ali.

Seguimos viagem e, de repente, a cabra solta um “bééééé”. Assusto, olho para trás, e o motorista fala, rindo: “Sorry, this is Africa! Hahahah”. Sorriso amarelo e continuamos até o nosso ponto. O táxi seguiu com a cabra no porta-malas não sei por mais quanto tempo.

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2 respostas para “Do falso restaurante chinês à cabra, histórias pitorescas da Mauritânia”.

  1. Avatar de Nina Rosa Lima Medeiros
    Nina Rosa Lima Medeiros

    Bah! Pat, cada história diferente. kkkkkkkk E a viagem continua, sempre com novidades. Aguardo as próximas. Beijos. Fiquem bem.

    Curtido por 1 pessoa

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