As fronteiras entre Senegal e Gâmbia possuem um movimento constante, tanto que não é difícil conseguir um transporte, ainda mais saindo pela manhã, em Dacar.
Isso porque o Gâmbia é um enclave no Senegal, e a maneira mais fácil de cruzar do norte para o sul é atravessando essa tripa de país, seja pela costa ou pela ponte Senegambia.
Como toda fronteira com essas características, há muitas pessoas transitando a pé por ali, desde cambistas e vendedores ambulantes, até quem passa pela região com frequência. Depois da fronteira de Rosso, entre Mauritânia e Senegal, estávamos meio receosos com o assédio, mas, apesar do movimento, as abordagens nada fugiam do normal.
Nosso estresse ficou por conta mesmo da exigência de visto para entrar no Gâmbia, mas vamos contar essa história do começo.
Transporte Dacar-Karang
Partimos para a fronteira a partir de Dacar, na Gare des Baux Maraîchers. Do nosso hostel, em Grande Yoff, para lá, pagamos 3.000 XOF (R$ 28), mas o taxista queria cobrar 5.000 XOF (R$ 47). Como tínhamos entendido, na hora de embarcar, 1.000 XOF (e ainda tentamos confirmar o valor, que equivale a R$ 9), tivemos que fazer uma pequena confusão para ele aceitar os 3.000 XOF, e essa foi a primeira emoção do dia, já às 7h.
Irritados com o taxista, já fomos entrando na Gare e ignorando quem vinha nos abordar para nos orientar. Como já tínhamos estado lá, sabíamos mais ou menos para que lado seguir e, quando avistamos um monte de carros sept-places, perguntamos qual deles iria para Karang, cidade na fronteira com o Gâmbia.

A viagem até lá durou pouco menos de 5 horas e nos custou 6.500 XOF (R$ 67) de passagem (1.000 XOF a mais do que havíamos visto no Only by Land) e 500 XOF (R$ 5) para as mochilas. O sept-places nos deixou em frente ao posto do lado senegalês.
Fronteira Karang-Barra
Carimbamos o passaporte brasileiro e partimos para o lado gambiano. E agora começa a segunda emoção do dia, que tornou essa a fronteira mais dramática até agora. Apresentamos nosso passaporte europeu na primeira etapa do controle, a que coleta digitais e foto, pois o visto não é exigido para países da União Europeia. Tudo certo.
Se você é descendente de poloneses e quer saber se é possível ter sua cidadania reconhecida e o passaporte europeu, o Eduardo Joelson faz esse serviço burocrático. Em 2019 o Faraó o contratou e conseguiu rapidamente a documentação. Caso você o procure por meio da gente, ganhamos 5% de comissão.
Na segunda etapa, em que anotam nossos dados em um caderno, tudo certo também. Chegou na terceira e última, aquela que carimba e libera, e o oficial barrou. “Onde está o carimbo de saída do Senegal?” Ao falarmos que estava no passaporte brasileiro, ele disse que só poderíamos entrar com ele, porque não é possível rastrear-nos se ficamos trocando de documento.
A questão aqui é que fizemos essa troca quando saímos do Brasil e entramos na Europa, quando saímos da Europa e entramos na Tunísia e quando saímos do Saara Ocidental/Marrocos e entramos na Mauritânia. Também havíamos lido que o Guilherme Canever havia entrado com o passaporte italiano, mas ali, segundo o oficial, não teria como, era preciso pagar o visto (depois descobrimos que o Canever entrara no Senegal já com o documento europeu).
Decidimos, então, voltar para o Senegal para entrar e sair com o passaporte europeu. Só que o oficial do Gâmbia nos levou até lá e entregou nossos documentos para seu colega senegalês, explicando a história (não exatamente como aconteceu, mas com os detalhes básicos corretos).
Apesar de terem nos falando que reconhecem nosso passaporte, que ele tem entrada liberada no Senegal também, decidiram por não carimbá-lo. Disseram que não tinha o registro de saída do Gâmbia (o que é o mesmo problema do lado de lá, apesar de negarem) e que nem sabiam da existência do documento até termos problema, mesmo que, novamente, o reconheçam.
Mas isso não foi fácil assim. Foram três horas esperando uma resposta do chefe de polícia, que nem fica ali. Chorei, me desesperei, irritei o policial porque insistia não entender por que não carimbavam se o reconheciam, mas não teve jeito. Carimbaram nossa entrada de volta no Senegal, no passaporte brasileiro.
Dica: Se você tiver o passaporte europeu e quiser usá-lo, é preciso entrar no Senegal já com ele
Tentamos pensar friamente no que fazer. Voltar para Dacar seriam mais 5 horas, e isso já era 15h. Chegaríamos à noite e sem hotel, cansados e frustrados. Partir para Ziguinchor, no sul do país, seriam, pelo menos, mais 7 horas, ainda parando para trocar o carro e tendo que atravessar o Gâmbia de qualquer forma —segundo o agente da fronteira, poderíamos pedir um visto de trânsito no passaporte europeu (por que lá pode e ali não, fica o questionamento). E isso tudo acarretaria também perder 47 euros (R$ 268) da reserva já feita em Banjul.
Bom, nos restou voltar para o Gâmbia, desta vez com o passaporte brasileiro, pagando o visto. Claro que, depois de ter irritado o policial senegalês, ele não queria mais dar carimbo nenhum. Ao parar 5 segundos para nos escutar e entender, fez a formalidade de saída, com muita má vontade.
Do lado gambiano, com o visto em mãos (mais informações abaixo), pegamos um ônibus para percorrer os 20 km que separam a fronteira do porto de Barra. Pagamos 25 dalasi (R$ 3) cada um, mais 25 dalasi para cada mochila.
Visto para o Gâmbia
Passado todo o estresse, o visto para o Gâmbia é bem tranquilo de tirar. Após o registro de digitais e foto e o preenchimento do caderno com nossas informações, o oficial preenche outro caderno, em outra sala.
As perguntas são bem básicas: profissão, para onde vão e qual hotel vão ficar. E isso é apenas formalidade, pois, diferentemente da Mauritânia, eles não ligam para conferir a reserva. Paga a taxa de 3.000 dalasi (que equivalem a cerca de US$ 50, mas pagamos 50 euros, R$ 285, pois não tínhamos a moeda americana), ele nos dá o recibo e nos libera.

Fronteira sul: Jiboro-Seleti
Sair do Gâmbia foi bem mais fácil do que entrar, mas acho que isso vale para a nossa experiência particular. Estávamos em Serekunda, cidade colada em Banjul, e nossa intenção era ir para Brikama e, de lá, pegar um transporte para Jiboro.
Do hotel até Westfield, uma rotatória de onde é possível pegar um carro para diversos lugares, subimos em um táxi informal (porém muito comum) que nos sugeriu ir até a garagem para pegar um similar ao sept-places diretamente até Jiboro. Ele nos levou até lá por 100 dalasi (R$ 9), o que foi superfaturado, mas ele foi nosso guia e garantiu nossa vaga e um desconto para levar as mochilas.

Pagamos mais 100 dalasi (R$ 9) cada um e 62,50 dalasi (R$ 5,50) para levar as mochilas em uma viagem de cerca de 1h20. O carro nos esperou em todas as formalidades de fronteira e nos deixou na estação de sept-places do lado senegalês.
Não há grandes registros para a burocracia de saída do Gâmbia, além de nos perguntarem para onde iríamos, quanto tempo ficaríamos e para onde iríamos depois, o que normalmente ocorre na entrada de um país.
Já na entrada do Senegal, que era para ser tranquila, um pequeno susto. Primeiramente, um agente da alfândega anota nossos dados em um caderno para depois, um pouco mais para frente, vir o controle de entrada em si.
O oficial olhou nossos passaportes brasileiros, buscou uma folha e perguntou por que não tínhamos visto. Respondi que não precisávamos, e ele retrucou que somente passaporte diplomático era isento. Apontei, então, o carimbo de entrada em Rosso, ele deu mais uma folheada, anotou as informações em um caderno e nos liberou. Ufa!
Na estação de sept-places, nada fora do normal. Pagamos 2.500 XOF (R$ 26) cada um para uma vaga até Ziguinchor, e o motorista queria nos cobrar 1.500 XOF (R$ 15,50) por cada mochila. Negociamos, falamos que pagamos 500 XOF (R$ 5) em Dacar, e ele baixou para 1.000 XOF (R$ 10) —o que ainda achamos caro. Depois vimos que todo mundo dá aquela choradinha para baixar o preço nessa hora. E assim nossa jornada terminou duas horas depois, em Ziguinchor.
















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