Um dos tópicos no checklist de antes da viagem é contratar um seguro, com a esperança de que nunca se precise usá-lo. No meu caso, infelizmente, aconteceu. E ainda no primeiro dia de 2023, para abrir o ano com tudo.
Estávamos na praia em Cap Skirring, no sul do Senegal, esperando o começo da nossa primeira aula de surfe. Enquanto isso, aproveitávamos para tomar sol e banho de mar. Eu já saía da água, no meu segundo mergulho do ano, quando algo pegou meu pé. Saí mancando do mar, sangrando e com muita dor.
De cara achei que era um caranguejo. Faraó me carregou até a entrada da praia e para fora da areia fofa, e fomos andando até achar um carro que nos levasse para o hotel. Ferimento lavado, o sangue já havia parado, mas a dor continuava. Uma queimação que irradiava e algo como se fosse uma pressão no local. Eram dois cortes, mas só um doía ainda e estava arroxeado.
Acionamos o seguro da WorldNomads, mas, por ser primeiro dia do ano, não se sabia quanto tempo levaria para chegar o atendimento ao local. Estávamos em um vilarejo na beira da praia, a chance de demorar muito era grande, então Faraó foi, com uma foto do meu pé, à enfermaria do corpo de bombeiros, como indicou o dono do hotel, Thierry.
Voltou de lá dizendo que recomendaram ir para o hospital em Oussouye, uma cidade que não deve ter mais de 10 mil habitantes a 30 minutos dali. Thierry chamou um táxi que nos levou até lá e esperou para nos trazer de volta —a 15.000 XOF (R$ 133). Avisamos a WorldNomads que estávamos cancelando o pedido de atendimento, pois iríamos ao hospital. Eles pediram para guardar os recibos para solicitar reembolso mais tarde.
Eu nunca vi 20 minutos (pois a estrada estava vazia, e o motorista entendeu que era uma emergência) demorarem tanto para passar. Chegamos meio perdidos, mas entramos na enfermaria, me colocaram em uma maca, e a médica veio atender. Perguntou o que tinha acontecido, se eu tinha visto o bicho (obviamente que não) e aplicou paracetamol e mais um analgésico diretamente na veia. Tudo como manda o protocolo, com materiais descartáveis embalados individualmente.
Mas a dor não passava. Perguntaram se eu tinha a vacina contra tétano (cujo reforço eu tomei na minha visita ao ambulatório do viajante), mas mesmo assim tomei um soro antitetânico, além de corticoide. Também fizeram uma compressa com álcool gelado, tanto para ajudar na dor quanto para limitar a infecção, segundo explicaram.
Nesse meio tempo, veio outro médico, com uma camiseta do Samu Nacional —fiquei com a impressão de que ele era o chefe do plantão. Perguntou se eu não tinha voltado para ver o que tinha me mordido (ou cortado ou picado; não sei como definir), o que obviamente eu não tinha feito, pois só queria sair dali, e explicou que se tratava de algum animal peçonhento, que havia inoculado um veneno.
Será que o desespero bateu? Mas ele acrescentou que eu não deveria me preocupar, pois estava localizado no pé e eu não tinha outros sintomas, como febre, enjoo, taquicardia etc. A dor, muito lentamente, ia diminuindo, o que gerava crises de choro. Esse médico dizia para eu não chorar (e isso me irritava levemente), que não tinha o que fazer, pois não havia remédio para parar a dor instantaneamente.
Em meio a essa conversa, também explicou que existiam remédios para três níveis de dor: leve, média e extrema, mas que eles só possuíam para leve e média. Ainda bem que, mesmo devagar, a dor passou. Dei uns passinhos no corredor, e achamos que poderíamos ir embora, depois de quatro horas lá. Os médicos concordaram e fomos acertar a conta.
O soro antitetânico o Faraó já havia ido à farmácia comprar (3.840 XOF/R$ 34). Já o paracetamol e demais medicamentos, além do curativo para o pé e a compressa, utilizados com os equipamentos de lá, foram pagos na farmácia do local. O atendimento em si e o uso da maca não foram cobrados, e o total da conta do hospital ficou em 7.100 XOF (R$ 63). Para o tratamento em casa, eles recomendaram ibuprofeno e uma pomada bactericida, que custaram 1.800 XOF (R$ 16).
A volta foi bem mais tranquila, e a dor já quase havia completamente passado. Meu primo Eduardo Medeiros também auxiliou a distância (fica o agradecimento aqui), explicando depois para que era a pomada e recomendou trocar o curativo uma vez ao dia. Mais uma continha na farmácia para gaze e faixa, que custaram 2.100 XOF (R$ 18,50).
É agoniante precisar de ajuda em um país que não é o seu, no qual o idioma é diferente. Mas o hospital nada tinha de muito diferente de um posto no interior do Brasil, com seus déficits, porém com um atendimento padrão.
Reembolso da WorldNomads
Com os recibos em mãos, exceto o do carro, pois não havia, entramos no dia 3 de janeiro com o pedido de reembolso na WorldNomads. O preenchimento do formulário é simples e intuitivo, mas a confirmação chegou apenas no dia 9 de janeiro —a demora pode ter sido por ser a primeira semana do ano. No mesmo dia veio um outro email de documentação incompleta (já havia enviado pelo formulário o que me pediram, mas mandei novamente).
No dia 11 de janeiro veio um outro email informando que o processo havia sido enviado para a análise. E, sim, eles levaram mais de 30 dias. Apenas em 6 de fevereiro recebi uma mensagem falando sobre a inconsistência do pedido de reembolso e da documentação apresentada. Explico: o valor solicitado incluía gastos no hospital (com recibo) e na farmácia (sem recibo) como despesas médicas e o deslocamento de táxi e a noite a mais no hotel como despesas não médicas, estes também sem recibo.
Respondi, no dia 18 de fevereiro, explicando que nem tudo tem recibo no Senegal, e a farmácia e o táxi eram exemplos. Também acrescentei as motivações dos pedidos para o deslocamento e a hospedagem. No dia 24 de fevereiro veio o último email, confirmando o reembolso apenas do que havia recibo, ou seja, os gastos no hospital.
Segundo o funcionário, o deslocamento de táxi não tem cobertura do seguro —o que discordo, pois alguém se dirigiria até lá para me atender, então nada mais justo que o meu deslocamento também esteja coberto— e a noite a mais só se adequaria às regras se tivesse ordem médica por escrito dizendo que eu estava impedida de viajar. Já a farmácia de R$ 18 sem recibo, nada feito.
Apesar da demora, o processo é fácil e, para mim, o melhor é que essa última troca de mensagens era com uma pessoa, não emails automáticos. Isso faz diferença na questão de você estar explicando para alguém a sua situação e não receber de volta um texto padrão. Dos R$ 542,85 solicitados, voltaram R$ 116,44. Fica a dica, então, de pedir e insistir por todos os recibos.
Atualizado em 28 de fevereiro de 2023















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