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Fronteira Guiné-Serra Leoa tem estrada boa, muitas barreiras e policial simpática


Se pensarmos que para entrar na Guiné foi necessária uma aventura em cima de uma moto no meio da floresta, sair do país foi uma relativa calmaria. Mas, ainda assim, tivemos nossos momentos de tensão.

Sites e livros de pessoas que viajam pelo oeste da África costumam recomendar chegar cedo às estações de onde partem os veículos que pegam a estrada, já que eles só saem quando estão lotados. Até então, sempre tivemos sorte e normalmente esperávamos cerca de 15 minutos —apenas quando entramos no Senegal é que tomamos um chá de cadeira de 1h30.

Infelizmente, não tivemos a mesma sorte desta vez. Chegamos às 10h na estação, após uma longa caminhada de 4 km. Para piorar a situação, o dinheiro que tínhamos não era o suficiente para as passagens, e eu tive que ir até o centro de Conacri, de moto, sacar mais. De volta ao local, pagamos os 160.000 francos guineanos (R$ 107) necessários, por cabeça, para viajar entre a capital guineana e Freetown, na Serra Leoa. Aí foi esperar.

Viajaríamos num six-places, quando dois passageiros se apertam no banco ao lado do motorista e outros quatro ficam no de trás, num carro em que, no Brasil, “apenas” cinco pessoas se acomodariam. Como estávamos em quatro, tínhamos que esperar e torcer pela vinda de outros dois. Isso em um banco de cimento que, depois descobrimos, era onde uma mulher venderia almoço.

Após uma eternidade, chegou uma pessoa. Aí aumentou mais ainda a tensão e ansiedade pelo sexto e último elemento de nossa trupe. Nossa alternativa seria pedir o dinheiro de volta e tentar no dia seguinte. Enquanto eu estava no centro em busca de um caixa eletrônico, uma van encheu e pegou estrada. Então, teríamos que sair mais cedo de casa num hipotético adiamento de viagem.

Como os postos de fronteira fecham às 18h, sabíamos que nosso prazo de partir estava se esgotando. Às 14h, então, começou a movimentação de troca de carro. Iríamos num menor e mais novo, com menos espaço no bagageiro. Com essa mudança, nos cobraram mais dinheiro para as mochilas. Mais uma vez a Pati negociadora entrou em ação e, após muita discussão, diminuíram o valor de 50.000 francos guineanos (R$ 30) para 30.000 francos guineanos (R$ 18), as duas bagagens.

Assim como na chegada à capital da Guiné, sair também demorou uma eternidade. Por causa dos muitos congestionamentos, o motorista apelou para atalhos em ruas de terra e esburacadas. Ainda bem que as estradas estavam em melhores condições e conseguimos viajar em alta velocidade, já que corríamos contra o tempo e o fechamento da fronteira.

No caminho, porém, foi necessário parar em muitas barreiras —uma corda com várias sacolas amarradas—, que mais pareciam gerenciadas pela população local do que por um agente da lei. Após pagar uma taxa, uma pessoa, normalmente sentada num banco, abaixava a corda para o carro seguir adiante.

Em duas barreiras, mais próximas à fronteira, policiais nos pediram os documentos. Em uma delas, inclusive, uma colega de viagem teve um acalorado arranca-rabo com um agente. Depois descobrimos que ela estava reclamando que não era função dele nos abordar, e sim falar apenas com o motorista.

Além dos passaportes, os policiais nos pediam o visto eletrônico, que havíamos imprimido, e certificados de vacinação contra a febre amarela e a Covid-19. Nem queremos imaginar o que teria acontecido caso não estivéssemos com eles em mãos.

A poucos quilômetros da fronteira com a Serra Leoa, nosso motorista parou na oficina mecânica de um vilarejo. A colega do arranca-rabo nos alertou incisivamente sobre a prática de suborno na hora de carimbar o nosso passaporte brasileiro, o que nos fez trocar dinheiro ali.

Parada na oficina mecânica antes de cruzar a fronteira

Num último posto de controle antes da fronteira, o policial falou que tínhamos que ter carimbado nosso visto eletrônico, impresso, no Ministério de Relações Exteriores, em Conacri. Lá vem a propina, pensamos. Dissemos que não fomos orientados sobre isso e que, numa próxima visita ao país, iríamos ao local. Ok, pode passar.

Fronteira com a Serra Leoa

Chegamos, então, a um longo prédio horizontal, de apenas andar térreo. Fomos encaminhados a uma salinha escura e ali achávamos que viria o pedido de propina. Um funcionário guineano, após mexer em incontáveis folhas na impressora, nos deu o carimbo de saída. Eita. Simples assim? Vão nos cobrar no país vizinho, então.

Naquele mesmo prédio, nos orientaram a seguir por um longo corredor. Um jovem nos chamou e, enquanto fazia perguntas e puxava papo, outro homem anotava nossos dados num caderno. Descobrimos, então, que já estávamos do lado da Serra Leoa e aquela foi a entrevista sanitária.

Voltamos ao corredor e mais uma sala, agora com apenas um funcionário. Mais perguntas e mais dados anotados num caderno. E nada ainda de pedirem propina. Muito estranho, pensamos.

Fomos chamados para mais uma sala, bem mais escura que as demais. Desta vez, uma mulher, com chamativos óculos rosas. Ela foi logo abrindo as cortinas e nos fazendo perguntas.

Quando quis saber o que faríamos em Freetown, comentamos sobre a famosa praia No. 2. Pronto, ela mostrou a que veio: abriu um sorriso e, gesticulando, falou efusivamente “ow, beach number 2!”. Numa tacada só conquistamos seu coração e o carimbo de entrada.

Dias depois, em duas conversas diferentes com outros viajantes, eles nos contaram que também passaram por essa simpática funcionária. E não falaram nada sobre propina.

De volta à estrada e bem menos tensos por termos passado pelo posto de fronteira ainda aberto, apreciamos a boa estrada da Serra Leoa. E presenciamos algo que há tempos não víamos: pista dupla e pedágio. Três, para dizer a verdade. Mesmo assim ainda passamos por algumas barreiras de corda com sacolas. Em uma delas, inclusive, me pediram para abrir a mochila.

No fim das contas, levamos cerca de 7 horas para percorrer 300 km. Por causa da demora inicial em pegar a estrada, acabamos chegando a Freetown no meio da noite, algo que evitamos com todas as nossas forças. Normalmente estamos cansados após longas horas apertados num veículo e a oferta de transporte é bem menor, o que nos deixa a mercê de altas cobranças dos taxistas.

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3 respostas para “Fronteira Guiné-Serra Leoa tem estrada boa, muitas barreiras e policial simpática”.

  1. Avatar de Nina Rosa Lima Medeiros
    Nina Rosa Lima Medeiros

    Paty e Faraó. De longe aprecio de mais a determinação de vocês. São jovens e aventureiros, interessados em conhecer este nosso mundo com características tão diferenciadas. Daqui, fico na expectativa que a próxima etapa seja diferente, com situações mais fáceis de resolver. Sigam em frente com esta boa vontade. Quem morreu hoje foi a Glória Maria. Um grande abraço. Avante!

    Curtido por 1 pessoa

  2. Estou fazendo quase o mesmo itinerário que vocês, mas com um diferencial, a pé. O posto fronteiriço foi Pamelap? Obrigado

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    1. Avatar de Patricia Pamplona e Wesley Faraó Klimpel
      Patricia Pamplona e Wesley Faraó Klimpel

      Sim, foi Pamelap! Para nós foi bem tranquilo, mas lemos relatos recentes que falam de uma primeira checagem após esse posto em que há um policial bem corrupto que tenta encrencar com a documentação.

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