A nossa travessia de fronteira entre a RD Congo e Angola foi em meio a muitas dúvidas se daria certo, já que, no nosso pedido de visto no site do governo angolano, selecionamos como entrada a fronteira de Luao (Pati) e o aeroporto 4 de Fevereiro, em Luanda (eu).
Ao pesquisar relatos de outros viajantes, no entanto, vimos que muitos entraram por outros locais, mesmo que essas opções não constassem no site. Assim, fomos até Matadi, do lado congolês, a fronteira de mais fácil acesso a partir de Kinshasa.
Algumas pessoas nos indicaram ir até a rue 7ème, em Limete, onde há várias empresas de ônibus que ligam as duas cidades. Mas, como não encontramos informações sobre horários na internet, fomos até lá no meio da manhã, confiantes de que haveria veículos saindo a qualquer hora do dia. Ledo engano.
Os ônibus partem cedo, entre 6h e 7h, e, depois disso, só às 14h. O problema é que a viagem dura cerca de 8 horas, e não queríamos chegar ao destino no fim da noite.
Um funcionário da Tomo Trans (empresa que parece ter bons veículos, de acordo com sua página no Facebook) nos indicou ir ao Rond-point Ngaba, região onde, aí sim, poderíamos encontrar ônibus saindo a qualquer hora. Após muita negociação, conseguimos um táxi que nos levasse até lá por US$ 5 (R$ 27,50).
No local, uma filial congolesa da paulistana rua 25 de Março, encontramos um miniônibus que partiria quando cheio, com passagem a 15.000 francos congoleses (no fim, eles nos cobraram US$ 15/R$ 82). O problema é que levou 1h20 para o veículo partir, e assim deixamos a capital da RD Congo às 11h20, com uma previsão de chegada não muito diferente da do ônibus confortável que sairia às 14h.
Kinshasa é uma das 3 maiores cidades africanas, e comprovamos isso pelo tanto de tempo que levamos para chegar à rodovia. Pesou também o fato do veículo não conseguir engatar grandes velocidades, mesmo na descida.
No caminho, ainda tivemos várias paradas, inclusive para cobrir as bagagens que estavam no teto no meio da chuva e em pedágios, onde o motorista deve descer do carro, pagar em uma máquina a vários metros da barreira para então entregar o recibo para o atendente. Sim, não faz sentido. Em uma dessas barreiras, um possível guarda nos tomou vários minutos para fazer várias perguntas sobre meu passaporte e o motivo da viagem.
Quando estávamos prester a chegar a Matadi, uma grande cidade de fronteira que fica a 350 km da capital, encontramos um enorme congestionamento, que nos tomou 1 hora. Assim, chegamos ao terminal de ônibus às 23h45, mais de 12 horas após nossa partida de Kinshasa.
Quando achávamos que os desafios do dia haviam acabado, descobrimos que teríamos um certo trabalho para encontrar uma hospedagem. Na primeira, nosso objetivo inicial, o funcionário falou que estava cheia, o que achamos ser mentira e preguiça dele de fazer nosso checkin. Na segunda, a mesma situação.
Apenas no hotel Ledya, nossa terceira tentativa, é que conseguimos um quarto. E a que preço, hein. A opção mais barata do local custava US$ 116 (R$ 643), com direito a apenas um café da manhã, mesmo que seja um casal fazendo checkin. Depois de muita negociação, já que iríamos usufruir apenas meia-diária, ganhamos um segundo desjejum e checkout às 12h, e não às 10h. Não, o combo quarto + café da manhã + Wi-Fi ruim não valiam o alto preço.
Fronteira RD Congo-Angola
Nossa ideia inicial era cruzar a fronteira via Matadi, mas, após ler alguns relatos recentes no aplicativo iOverlander, decidimos voltar um trecho da jornada, até Lufu, e entrar em Angola por ali. Pesou na nossa resolução o fato de muitos viajantes terem atravessado sem problemas a divisa com a autorização angolana.
Ainda ficamos um dia em Matadi, onde sacamos dinheiro e descansamos da longa viagem vindos de Kinshasa. Na segunda noite, nos hospedamos no auberge La Grace, a US$ 30 (R$ 161) a noite. Mais uma vez, não valeu a pena pagar tão caro, já que o banho foi de balde.
Na manhã seguinte, logo cedo, fomos até a região de Mvuadu, onde pegamos um táxi compartilhado até Lufu (10.000 francos congoleses/R$ 24). No carro, tivemos uma configuração inédita: motorista + 2 passageiros; 4 passageiros no banco de trás; 4 passageiros no porta-malas. No meio do caminho ainda surgiu outro componente, e uma pessoa de dentro do veículo seguiu viagem no teto. Segurança de trânsito mandou um abraço.
Após 2 horas e 95 km percorridos, chegamos à cidade da fronteira. Na nossa caminhada de cerca de 1 km até o posto oficial, aproveitamos para trocar dólares por kwanzas, a moeda angolana, a uma cotação melhor do que em Matadi.
No moderno posto policial, cheirando a tinta, esperamos 1 hora até o agente ir de um lado para o outro para conseguir nossos carimbos. Isso enquanto uma oficial mexia no celular, sem dar atenção aos viajantes que ali estavam.
Chegamos à ponte que separa os dois países em uma rápida caminhada e, no lado angolano, os agentes foram práticos e simpáticos. A burocracia, no entanto, não estava finalizada, já que o ponto final estava a 1 km dali. Lá, tomamos o conhecido chá de cadeira.
Tivemos que esperar cerca de 2 horas até que o oficial carimbasse nossa autorização de entrada, que imprimimos dias antes, e explicasse o restante da burocracia. Segundo o simpático agente, a demora foi porque ele teve de esperar que o escritório do aeroporto em Luanda aprovasse nossa entrada. E, assim que chegássemos à capital, teríamos que ir lá para obter o visto no passaporte (meu polonês e o italiano da Pati) e pagar a taxa. Enquanto isso, circularíamos pelo país com um papel A4 e um carimbo.
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Viagem por Angola
Com a nossa entrada em Angola autorizada, veio o desafio de chegar a Luanda. De acordo com o oficial da fronteira, poderíamos pegar um ônibus noturno —por cerca de 5.000 kwanzas (R$ 49)— ou um carro compartilhado —cerca de 10.000 kwanzas (R$ 98,50)—, o que ele não recomendou, já que éramos turistas que não conheciam o país.
Era meio-dia e, como gostamos de chegar de dia ao destino, buscamos um táxi compartilhado. No único local de onde saem os carros, no entanto, o preço ofertado era de 15.000 kwanzas (R$ 148) por pessoa, o que achamos inflacionado.
Após muita reclamação nossa e negociação, os homens que agenciam as corridas falaram de um Land Cruiser que chegaria em 1h30 e que cobraria os 10.000 kwanzas que estávamos dispostos a pagar. Nos restou esperar.
Ao fim do tempo estimado, descobrimos que o tal veículo não viria mais. Extremamente putos com a falta de aviso, nos dirigimos ao ônibus que faria a viagem noturna. Ele era bem mais barato, 5.500 kwanzas (R$ 54) por pessoa, mas chegaria apenas no dia seguinte.
Estávamos preenchendo o papel quando um dos agenciadores veio gritando, avisando que surgiu um carro e que cobraria o preço que queríamos. O funcionário da empresa não gostou muito, mas o deixamos e voltamos ao ponto dos carros.
O problema foi que o agenciador não acertou com o motorista o preço, e este não gostou do valor. Houve, então, mais uma rodada de reclamações nossas até o agenciador nos falar para colocar as mochilas no porta-malas. Mas ainda não havia a confirmação verbal do motorista.

A gota d’água foi quando, ao tentarmos acertar onde ele nos deixaria, o ambicioso homem querer cobrar outros 5.000 kwanzas de cada um para servir de táxi e nos levar ao hotel. Assim, ele receberia o valor que queria desde o início.
Essa conversa toda levou quase 1 hora e, como já estávamos cansados de todo o vai e vem deles, desfizemos a negociação e pegamos nossas mochilas. Não sem antes quase entrar na porrada com o agente, que não queria nos deixar recuperar a bagagem.
Com a mochila nas costas, voltamos ao ônibus e, com as passagens em mãos, aguardamos a saída. Durante a viagem noturna, paramos ao menos em 6 barreiras, onde todos tinham que descer e mostrar o documento. Apenas na última, no meio da madrugada, o policial perguntou, após devolver nossos passaportes, se não teríamos algo para dar. Educados, dissemos que não.

Já no fim da viagem, a cerca de 20 km do nosso destino e ainda na estrada, um pneu furou. Demos sorte e grudamos em um passageiro que agilizou um táxi para a área urbana. De lá, pegamos outras duas conduções até chegar ao nosso hotel. No fim, o ônibus levou 12 horas para percorrer cerca de 540 km.
Essa e outras jornadas de ônibus em Angola geraram vários causos de viagem.















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