Avistar a Table Mountain, em Cape Town, significou o fim de dois ciclos: uma viagem de carro por Namíbia, Botsuana e África do Sul e também a convivência com o mineiro Henrique, com quem dividimos veículo, quartos e incontáveis conversas.
Encontramos o brasileiro em Swakopmund, uma charmosa cidade no litoral da Namíbia, e lá planejamos uma longa jornada por vários países do sul e do leste da África. Quis o destino que o Mochileiro, a Defender com a qual o mineiro viaja desde 2016, tivesse alguns problemas mecânicos e por isso precisamos abrir mão de nossa jornada.
Em uma das inúmeras tardes no Slowtown, cafeteria que batemos cartão de segunda a sábado —domingo o local fechava e precisávamos descobrir alternativas gastronômicas—, surgiu a ideia de alugarmos um carro para conhecer alguns destinos no sul do continente. Em poucos minutos, a rota estava traçada.
Ainda em Swakopmund, compramos uma barraca para 3 pessoas e um saco de dormir para ele, já prevendo possíveis acampamentos nos próximos destinos. E, após 25 dias juntos na cidade litorânea, alternando entre dividir um quarto e um apartamento no agradável Desert Sky, partimos para a capital, Windhoek, retirar nossa caminhonete 4×4.
De lá, nos dirigimos ao Etosha, um parque nacional repleto de animais selvagens no norte da Namíbia, e de cara já utilizamos nossas aquisições, pois acampamos duas noites seguidas. Coubemos os 3 na barraca, sem apertos, mas foi necessário forrar o chão com uma manta a fim de suportar o frio da madrugada, além de nos cobrirmos com outra. Porém, nada podia ser feito contra o vento forte e as constantes lapadas na cara que a lona nos dava. De longe, foram as duas piores noites desta viagem de carro.
Nas demais, dividimos quartos em diferentes tipos de hospedagens —é muito comum por aqui quartos com cama de casal e uma de solteiro— e, vez ou outra, conseguíamos cômodos separados. Só em uma ocasião tínhamos a oportunidade de ficar separados e acabamos optando por permanecer no mesmo recinto: em um casarão centenário, em que o medo marcou presença a noite toda.





Além de guia de expedições para buscar auroras boreais na Islândia, Henrique é fotógrafo. E isso nos ajudou a tirar boas fotografias de animais selvagens, já que ele tinha o olhar mais apurado e embicava o carro da melhor maneira possível.
Outra qualidade do mineiro posta à prova foi na direção, pois enfrentamos algumas estradas de areia em que era necessário um certo grau de experiência.
E, como ele viaja o mundo de carro há alguns anos, possui bastante conhecimento de rodovias, a ponto de constantemente relembrar a teoria de que as estradas que formam os 2 catetos do triângulo são mais longas, porém de qualidade melhor do que a que seria a hipotenusa. Percebemos isso em vários momentos, principalmente quando fizemos um longo desvio em Botsuana para evitarmos uma extensa via que corta o Chobe e o Moremi, dois parques nacionais.
O bom de rodar com um apreciador de café é que paramos várias vezes a fim de preparar esse licor dos deuses ou então comprá-lo em postos de gasolina. Se em Botsuana a vontade era grande, já que não encontrávamos estabelecimentos com essa opção, na África do Sul nos deleitamos, pois grandes redes de cafeterias estavam espalhadas, principalmente no sudoeste do país. Foi bom percorrermos a Garden Route com poções mágicas vindas da Mugg & Bean, Seattle Coffee Co ou Vida e Caffè.

Encontramos Henrique após 7,5 meses de viagem pela costa oeste do continente, cansados de tantos perrengues, então foi bom compartilhar histórias com alguém que rodou por lá um pouco antes da pandemia de Covid se espalhar pelo mundo.
Nas conversas, vimos como estilos e momentos diferentes podem impactar nossas impressões de um destino. Caso da Mauritânia, país que o mineiro adorou desbravar de carro, por mais de 1 mês, e que nós achamos extremamente difícil de conhecer quando se está viajando com uma mochila nas costas.
No fim, foi uma experiência prazerosa se juntar a outro viajante por cerca de 40 dias e dividir experiências e risadas, principalmente num momento em que precisávamos recarregar as baterias para os próximos meses de África, mesmo que seja a travessia de uma rota mais amigável ao turista.















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