Uma das grandes certezas de nossa viagem pela África era que em algum momento iríamos ser recompensados com as praias de Zanzibar, e esse era o nosso mantra durante os incontáveis perrengues nesses meses de estrada. Para dar mais gostinho de vitória, precisamos enfrentar alguns desafios dentro da própria Tanzânia, como golpes e mentiras, até chegar ao tão sonhado mar.
Informações práticas*:
- Média hospedagem: 108.400 xelins (R$ 224)
- Média almoço: 40.000 xelins (R$ 97)
- Média jantar: 17.500 xelins (R$ 36)
- Visto: é necessário para brasileiros, e pode ser tirado na fronteira ou eVisa
- Moeda: xelim tanzaniano (R$ 1 = 490 xelins)
- Dica: pesquise ou pergunte a pessoas confiáveis preços e como fazer para chegar a algum lugar, para evitar golpistas ou informações desencontradas.
* valores para setembro de 2023 para duas pessoas
A paradisíaca Zanzibar
Chegar a Zanzibar não é complicado, mas um pouco chato devido às inúmeras ofertas para ajudar a comprar os bilhetes por homens que ficam em frente às empresas no porto de Dar es Salaam. Informados, fomos atrás da empresa Flying Horses, com passagens a US$ 20, mas não a encontramos por lá. Assim, apelamos para a segunda opção, a Azam Marine, por US$ 35 (R$ 183) —é mais caro pagar em xelins ou com cartão, então gastamos algumas de nossas notas.
Há vários horários entre 7h e 16h, e embarcamos às 9h30 para uma travessia de uma hora e meia. Em todo o processo de embarque, observamos que há basicamente duas empresas que fazem o trajeto: Azam Marine e Zanzibar Fast Ferries. Como já falamos, devido ao movimento em frente, busque sempre as lojas oficiais para evitar ciladas.
O procedimento de embarque é bem simples e dá para tranquilamente chegar meia hora antes da partida. Na entrada (que fica ao lado da Azam Marine), um oficial checa os bilhetes e a identificação dos passageiros. Na sequência, registramos nossas bagagens, para depois passá-las por um raio-x (ninguém prestava muita a atenção nos itens, no entanto).
Superada essa etapa, há ainda uma verificação de passaporte em uma salinha –apenas estrangeiros vão para lá. Os dados são registrados em um computador, e o embarque é liberado. O último passo antes de entrar no navio é deixar as mochilas em uma das gaiolas destinas para as bagagens e gravar o número em que a sua foi guardada, para recuperar no desembarque.
Acostumados a passar muito calor e aperto, nem acreditamos no conforto do barco –bom, pagando US$ 35 (R$ 183) por pessoa tem que ser confortável mesmo. Os bancos, de couro, oferecem bastante espaço para as pernas em um ambiente climatizado e com vendedores de guloseimas e bebidas passando em um carrinho, bem ao estilo de aviões. Havia até uma rede Wi-Fi, mas preferimos ficar lendo.
Ao desembarcar, pegamos nossas mochilas e fomos apresentar os passaportes na imigração, onde precisamos preencher um formulário –Zanzibar é uma província semi-autônoma e possui até presidente próprio. Ganhamos inclusive um carimbo de entrada.
O lado de fora do porto de Zanzibar é igual ao de Dar es Salaam —ou seja, com muitas abordagens de taxistas e pessoas perguntando para onde vai para “ajudar” (mas não existe almoço grátis). Para chegar a Paje, onde reservamos um AirBnb (R$ 224 por noite) era preciso pegar dois dala dalas, um para sair de Stone Town e outro até a praia no leste da ilha.
Pedimos informações em um posto e um frentista nos indicou o caminho, além de falar o destino do primeiro transporte: Kwerekwe. Perto de lá, fomos abordados por um homem que fez questão de nos levar até o ônibus. Até tentamos nos desvencilhar ao embarcar falando direto com o cobrador, mas (acreditamos) um colega dele entrou atrás e meteu o golpe do preço da passagem —que contamos mais aqui, mas saibam que o justo é algo em torno de 500 xelins tanzanianos (R$ 1,20).
Descemos em Kwerekwe e já fomos indicados para o segundo dala dala, este um caminhãozinho com bancos e cobertura na caçamba, onde percorremos os 45 km muito apertados. O preço da tabela é 2.100 xelins (R$ 5), mas pagamos 2.500 xelins (R$ 6; uma taxa para turista, vamos dizer assim).
Depois de 1 hora de desconforto, finalmente descemos em Paje. Nosso Airbnb ficava ao lado de um hotel, mas em uma área mais residencial, a dez minutos da praia. Escolhemos o lugar a dedo, pensando no conforto de Wi-Fi, cozinha própria e piscina. Tanto é que dividimos nossos dias entre as águas azul-turquesa do mar e azul-piscina, bem, da piscina.
E sim, Zanzibar é tudo que se vê nas fotos! Claro que há detalhes —tanto positivos quanto negativos— que só percebemos lá. A começar pelo mar em si, pois é como se fosse uma grande piscina até se chegar de fato à quebra das ondas. Calculamos algo em torno de 1 km, mas não chegamos até esta parte.
Além disso, a maré muda muito. Chegamos a ficar com a água na altura do pescoço a poucos metros da areia, mas também andamos 500 metros para o mar chegar ao quadril. A temperatura da água, porém, é sempre a mesma: fresca para morna.
Outra característica que não mudou em nenhum dia que passamos lá foi a presença do vento. Até por isso, Paje é um dos lugares para a prática de kitesurf, e há várias pessoas cruzando em cima das pranchas por lá. Também são numerosos os quiosques oferecendo equipamento e/ou aulas. Em um dos que vimos, o pacote mais barato saía a 140 euros para 3 horas de aula.
A beira da praia é ainda cheia de cafés e restaurantes, mas, obviamente, eles são mais caros. Fomos ao Mr. Kahawa, que fornece Wi-Fi e mesas para trabalhar, além de bons pratos. Na chegada, comemos camarão com cerveja e um suco a R$ 115,91. Outro lugar que experimentamos foi o Zanzibarista, também com conexão e espaço para trabalhar. Ah, e os dois têm várias tomadas, mas o segundo conquistou nosso coração por essa área de trabalho ter uma vista melhor para o mar.






Para aproveitar tudo isso, porém, é preciso primeiro passar por um vilarejo bem local. Isso não seria digno de nota, não fosse o detalhe que 99% da população de Zanzibar é islâmica, então não é o que estamos acostumados a ver à beira da praia no Brasil, nem é recomendável andar só de biquini e shorts ou sem camisa, por exemplo. Depois, ao chegar à praia, há os muitos “maasais”, integrantes de um grupo étnico da região, e as aspas aqui vão pela desconfiança de integrarem de fato esse grupo.
Eles abordam querendo levar para ver a loja ou até a tribo, mas não aceitam não de primeira. Ficam ali tentando vencer no papo ou no cansaço. De início, Faraó, como sempre, tentou ser simpático, mas o maasai em questão não nos deixava em paz. Passamos, então, a ignorá-los. Surtiu efeito e pudemos curtir as areias brancas de Paje.
Para além da praia e dos restaurantes, a região do centrinho de Paje é bem servida de mercadinhos, farmácia, padaria (um dos melhores pães que comemos na África!), caixas eletrônicos e ao menos uma agência de câmbio. Boa parte dos locais aceita cartão e alguns cobram aquela taxa básica de 5% que vimos por toda a Tanzânia.
Mas Zanzibar não é só praia! A ilha de 85 km de comprimento por 39 km de largura (para comparação, Florianópolis, no sul do Brasil, tem 55 km por 18 km) tem uma natureza exuberante, que vimos ao cruzarmos de oeste para leste, e Stone Town, cidade antiga que é Patrimônio Mundial da Unesco. Há museus, como da Escravatura e a casa onde Freddy Mercury morou (sim, o vocalista do Queen nasceu lá!), e várias lojas e cafés perdidos pelas vielas que lembram as medinas do norte africano.
A ilha, aliás, possui uma rica história. Por dois séculos ela foi governada pelos portugueses, quando o sultanato de Omã tomou o lugar, em 1698, inclusive tranferindo a capital de Muscat para Stone Town, o que explica a religião e cultura muçulmana no local. No fim do século 19 os britânicos assumiram o controle de Zanzibar e, em 1964, a ilha conquistou sua independência para, na sequência, formar com Tanganyika a nação da Tanzânia.
Uma pena que não exploramos uma parte desta história em Stone Town, pois fizemos uma passagem expressa por lá antes de zarparmos para Dar es Salaam. De novo, fomos com a Azam Marine, no barco de 12h30. Diferentemente da vinda, pagamos os US$ 35 (R$ 183) no cartão, sem taxa. Também descobrimos que há um ônibus direto de Stone Town para Paje, que pegamos no sentido contrário. Sai do mesmo local daquele para Kwerekwe e é o de número 340. Pagamos 2.000 xelins tanzanianos (R$ 4,80) pela passagem.






O que fazer na Tanzânia continental
Assim como o Brasil não é só Rio de Janeiro ou São Paulo, mesmo que alguns moradores dessas cidades acreditem nisso, a Tanzânia não é só Zanzibar. Nós, porém, fizemos como alguns turistas em solo tupiniquim e concentramos nossa estadia na ilha paradisíaca.
Ainda que tenhamos passado por algumas cidades tanzanianas, foi mais uma visita rápida, enquanto estávamos a caminho de alguma fronteira.
Mbeya foi nossa primeira parada, quando viemos do Maláui. Chegamos ao 5º maior município do país com intenção de, no dia seguinte, partir para Dar es Salaam, a antiga capital e maior cidade tanzaniana e do leste do continente.
Por sorte, o Mbeya Hotel, onde ficamos (100.000 xelins/R$ 202,50), tinha restaurante e bom atendimento, além de um quarto confortável e aceitar cartão —ali, descobrimos o costume tanzaniano de cobrar 5% (quase) toda vez em que usar uma maquininha.
Com cerca de 8 milhões de habitantes, Dar es Salaam nos surpreendeu. Circulamos por uma via que a corta de oeste a leste, com um ótimo asfalto e canaletas e terminais de ônibus, que muito lembram Curitiba. E os motoristas respeitavam as inúmeras faixas de pedestres dessa avenida.
No centro, mais perto do mar, as ruas ficam mais caóticas, mas nada fora do comum. E ali a presença de muçulmanos e indianos já deu um spoiler de como seria Zanzibar.
Escolhemos o Rainbow Hotel (US$ 41,50/R$ 206) justamente por ser perto do porto e irmos a pé comprar o bilhete do ferry e embarcarmos. A equipe, bem solícita, entendeu nosso contratempo com o ônibus —contamos mais aqui— e não descontou a reserva da noite anterior, cobrando o mesmo preço, com desconto, para aquele dia. Sem falar que o restaurante tem uma boa e ágil oferta gastronômica.
Na região há vários ATMs, inclusive do nosso querido Ecobank, que não costuma cobrar taxa de saque.
Tivemos duas rápidas passagens por Dar es Salaam, uma antes de ir para Zanzibar e outra após dias deliciosos de praia e descanso. Voltamos à realidade da nossa jornada pelo continente com uma jornada para o oeste do país, em direção ao Burundi.
Ficamos novamente no Rainbow Hotel e, mais uma vez, a equipe se mostrou bastante prestativa ao nos ajudar a comprar a passagem de ônibus para a capital, Dodoma. O site da Shabiby permite pagamento apenas por variáveis africanas do Pix e não por cartão, que é a opção com que contamos.
Há museus e restaurantes em Dar es Salaam, mas não exploramos a parte turística pois nosso cronograma estava apertado.
São cerca de 8 horas de viagem a Dodoma, e infelizmente só conseguimos passagem no ônibus das 13h, o que nos fez chegar à capital de noite.





Nosso objetivo era seguir viagem para Kigoma, no extremo oeste da Tanzânia, já no dia seguinte, mas não tinha mais assentos disponíveis no ônibus da Saratoga. Assim, ficamos 24 horas a mais em Dodoma.
A cidade é a capital do país desde 1973, mas só em 2023 ela se tornou de fato a sede do governo, quando o Estado transferiu o poder político para lá. Mesmo assim, tudo que é embaixada e banco continuam em Dar es Salaam.
Plana e com poucos prédios, Dodoma, a 4ª maior cidade tanzaniana, parece ter bastante espaço para a construção de novas estruturas governamentais.
Lá, ficamos no Eastern City Hotel (78.000 xelins/R$ 160), um empreendimento inaugurado em fevereiro deste ano. Afastado do centro, mas próximo à rodoviária, conta com restaurante e quarto com escrivaninha e poltrona, além de um bom Wi-Fi, combo perfeito para trabalhar. Infelizmente, há quedas de energia.
A Tanzânia possui muitos atrativos turísticos, e os mais conhecidos são o Parque Nacional Serengeti, que dizem ter inspirado “O Rei Leão”, com inúmeros animais selvagens, e o Kilimanjaro, o ponto mais alto da África. Ambos, na fronteira com o Quênia, podem ser visitados com várias empresas de turismo. Há também a opção de passar horas ou dias com os maasai, um dos grupos étnicos africanos mais conhecidos.
Como são 22 parques nacionais espalhados pelo país, há diversas opções de passeios para todos os bolsos e gostos. Vale a pena fazer uma boa pesquisa antes de visitar a Tanzânia, além de reservar vários dias, para aproveitar ao máximo as belezas dessa nação.















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