Viajar por vários meses cansa, ainda mais na desafiadora África. Após tantos percursos apertados em carros/vans, negociando preços e sem saber quando chegaríamos ao nosso destino, nos presenteamos com alguns trajetos de avião —antes disso, havíamos voado apenas uma vez no continente, do Benim ao Gabão, quando a Nigéria recusou nosso visto. Pesa o fato de que fomos para Madagascar, uma ilha onde só se chega desta forma.
Segundo nossas pesquisas, o voo mais barato para chegar a Antananarivo é a partir da África do Sul, mas não conseguimos, enquanto estávamos em Cape Town ou Joanesburgo, nos organizar para viajar à ilha. Assim que seguimos nossa jornada eu já considerei perdida a oportunidade de visitar Madagascar durante nossa primeira temporada. Ainda bem que a Pati manteve suas esperanças.
Alguns conflitos políticos (no Sudão e no norte da Etiópia) e falta de informações (Sudão do Sul e Djibuti) diminuíram nossas opções de destinos nesta jornada pelo continente. Além disso, o aniversário da Pati foi o argumento final para comprarmos uma passagem de avião do Quênia a Madagascar (US$ 664,50/R$ 3.787).
Aeroporto de Nairóbi
O Aeroporto Internacional Jomo Kenyatta, em Nairóbi, é um pouco afastado do centro da cidade, mas a Uber opera na capital, o que facilita a organização —e o bolso, já que o preço cobrado não é inflacionado por você ser estrangeiro— do viajante. Chegamos em 30 minutos ao nosso destino, na manhã de uma sexta-feira, apesar de alguns trechos congestionados.
Se você está acostumado aos aeroportos brasileiros, prepare-se, pois há revistas a mais, e por vezes questionáveis. A primeira é a mais incomum, já que, enquanto o carro passa por uma estrutura que lembra um pedágio, os passageiros precisam desembarcar e entrar num prédio com raio-x. O estranho neste caso é que não precisamos levar toda a nossa bagagem.
Após essa revista, embarcamos novamente no carro para andar mais alguns minutos até chegar ao prédio do aeroporto —há no caminho uma cancela, onde o motorista retira seu tíquete.
No terminal 1, tivemos que apresentar as passagens, no celular, para poder entrar no prédio —logo, não é possível ir ao aeroporto apenas ver os aviões decolarem ou pousarem, como algumas pessoas fazem no Brasil.
Com nossa entrada liberada, precisamos passar por outra máquina de raio-x, onde funcionários eram mais atentos. Entre idas e vindas por causa dos apitos, tiramos inclusive os calçados. E eu, tonto, ainda me esqueci que estava com moedas no bolso.
Finalmente dentro do terminal, despachamos nossas mochilas nos guichês sem filas da Kenyan Airways —estão incluídas nas passagens 2 malas de 23kg por pessoa. Como já tínhamos feito o check-in online, o processo foi bem rápido.
Um detalhe importante: a atendente nos pediu os vistos de Madagascar —já estávamos com o eVisa aprovado e impresso, mas há a possibilidade de tirar o visto na chegada— e a passagem de saída do país —também já comprada, mas apenas no celular.
Bilhetes em mãos, fomos direto, e separados, ao guichê de imigração. A oficial me perguntou poucas coisas, como o motivo de ter ido ao Quênia, enquanto quem atendeu a Pati nada quis saber. Após uma rápida conferência do passaporte, veio o carimbo de saída. E outro raio-x, por onde novamente tivemos que passar descalços.
Finalizada a burocracia, chegou a hora de aproveitar a riqueza da sala VIP, um oferecimento do irmão da Pati, que nos liberou cartões adicionais. Isso porque tivemos problemas com nosso cartão da XP e a parceria dele com a Dragonpass: não conseguimos acessar salas VIP quando voamos da França pra Tunísia, da França pra Espanha (quando não pudemos cruzar a fronteira entre Argélia e Marrocos) e do Benim ao Gabão.
Ainda nos restaram 2.300 xelins quenianos (R$ 85), mas a casa de câmbio dentro do aeroporto, obviamente, não tinha uma boa cotação. Infelizmente, os livros à venda custavam mais do que tínhamos no bolso, e olha que procuramos com afinco —sem falar que os preços estavam todos em dólares. No fim, gastamos em chocolate no duty-free, que viriam a derreter na nossa jornada.
Essa parte do aeroporto queniano possui uma ótima infraestrutura, como cafés, livrarias e lojas de lembrancinhas, além de cadeiras confortáveis. E, para nossa alegria, não foi mais necessário passar por raios-x ou conferências, diferentemente das muitas checagens de quando saímos da Argélia.
O voo da Kenyan Airways foi sem emoções, e o entretenimento de bordo contava com vários filmes. Até almoço foi servido, mesmo que, na nossa vez, só tivéssemos a opção de escolher entre frango e vegetais. Há boatos de que antes ofereciam também carne vermelha.
Aeroporto de Madagascar
Após três horas, em que pudemos ver o topo do monte Kilimanjaro, o ponto mais alto da África, na Tanzânia, e também Zanzibar, chegamos a Antananarivo. Circulamos pouco pelo pequeno Aeroporto Internacional de Ivato antes de chegar ao controle de imigração.
Como já tínhamos o eVisa aprovado, entramos na fila de quem tinha passaporte local, enquanto outros estrangeiros se dirigiram à fila de turistas. No guichê, juntos, o oficial pediu nossos documentos e a ficha que o comissário de bordo nos entregara durante o percurso. Na dúvida se deveríamos ou não preenchê-la, já que tínhamos o eVisa, colocamos à mão dados nossos e do voo.
Rapidamente, o agente colocou as informações no computador e imprimiu um selo, o visto oficial. Na sequência, tivemos que ir a outro guichê, onde um oficial carimbou e assinou o passaporte, nos liberando a seguir adiante. Ainda tivemos que entregar a uma funcionária outra ficha, com dados de vacina contra Covid, antes de ir para o saguão onde estavam nossas bagagens.
A mochila da Pati já estava na esteira, à nossa espera. A minha, porém, ainda demorou um bocado até dar o ar da graça. Aquela velha tensão de quem despacha bagagem. Com tudo certo, saímos para o espaçoso saguão do aeroporto, sem sermos aleatoriamente selecionados pela alfândega.
Na área comum, encontramos caixas eletrônicos de dois bancos diferentes e guichês de telefonia celular, além de aluguel de carros e uma livraria. Obviamente, também esbarramos com taxistas oferecendo seus serviços —do lado de fora prédio, há um balcão onde uma mulher informa o preço tabelado da corrida, em que o mínimo é 70.000 ariaris (R$ 77,50).















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