Quando começamos a planejar nosso roteiro dessa primeira temporada da nossa volta ao mundo, pensávamos em terminar a viagem no Líbano e, avaliando melhor a geopolítica, Israel. Mas quis o destino e o conflito entre o governo israelense e o Hamas que refizéssemos nossos planos, finalizando, assim, nosso giro no Kuwait.
Pelo pouco que caminhamos por lá, nos deu a sensação de ser um país que faz a transição entre os ricos vizinhos do Oriente Médio, com seus prédios modernosos, e os que guardam sinais de anos de guerra, por suas construções em decadência. Frisamos que essa é uma impressão baseada em imagens de documentários ou redes sociais, pois não visitamos, ainda, nações árabes que são ou foram recentemente palco de conflitos, como Iraque, Iêmen e Líbia.
Informações práticas*:
- Média hospedagem: 20,70 dinares (R$ 351)
- Média almoço: 2,23 dinares (R$ 36)
- Visto: é necessário para brasileiros e precisa ser tirado em embaixada; europeus podem obter eVisa ou na chegada
- Moeda: dinar kuwaitiano (R$ 1 = 0,06 dinares)
- Dica: Caso reserve quarto com seu cônjuge, tenha a mãos a certidão de casamento, pois pode ser necessário apresentar no checkin.
* valores para janeiro de 2024 para duas pessoas
Chegamos à capital, Cidade do Kuwait, pelo Aeroporto Internacional do Kuwait, vindos de Manama, no vizinho Bahrein, e tomamos um belo chá de cadeira, pois os oficiais de imigração são bem desorganizados quando o turista quer fazer o visto na chegada —é possível também obter o eVisa.
Enquanto a Pati, com seu passaporte italiano, ficou isenta de pagamento —descobrimos isso ali— e foi liberada em cerca de 40 minutos, o Faraó, portando seu documento polonês, precisou de 1h40 para regularizar sua entrada no território.
Se você é descendente de poloneses e quer saber se é possível ter sua cidadania reconhecida e o passaporte europeu, o Eduardo Joelson faz esse serviço burocrático. Em 2019 o Faraó o contratou e conseguiu rapidamente a documentação. Caso você o procure por meio da gente, ganhamos 5% de comissão.
Assim como em Manama, na capital kuwaitiana pegamos um ônibus para nossa hospedagem, já que a cidade não possui metrô —saudades de Doha e de Dubai. Dentre os hotéis que apareceram para nós nas plataformas, tínhamos que escolher entre os mais baratos, com diárias a partir de US$ 65 e a cerca de 10 km do centro, e os mais caros, perto dos arranha-céus e com preços tão altos quanto os prédios do entorno.
Nas nossas pesquisas, vimos que havia uma grande quantidade de ônibus na cidade, e por isso escolhemos o endereço mais longe. Em muitas cidades por onde passamos, o fraco sistema de transporte público nos fazia gastar em táxi ou Uber, e assim o barato da hospedagem saía caro com o deslocamento.
Ficamos no Continental Suite Farwaniya, um local que nos surpreendeu por seu inédito pedido: nossa certidão de casamento. Em quase 15 meses de viagem, passando por várias hospedagens em países de maioria muçulmana, inclusive Medina, uma das cidades sagradas para o islamismo, nunca haviam nos cobrado esse documento. Por sorte, o passaporte italiano da Pati traz, em um campo separado, o sobrenome do marido, e assim pudemos usá-lo para confirmar nosso matrimônio, o que é exigido pela legislação kuwaitiana.
Uma curiosidade: por termos adquirido o reconhecimento de nossas cidadanias europeias depois de oficializarmos nossas bodas, temos certidões de casamento em português, italiano e polonês. A dúvida que fica é se o recepcionista teria aceitado alguma delas.
A hospedagem não valia o preço que pagamos (20,70 dinares/R$ 351), mas o que esperar do país com a moeda mais valorizada do mundo, não? Ao menos tínhamos café da manhã, com opções árabes e ocidentais, e Wi-Fi. Além disso, no último dia, o recepcionista, ao saber que nosso voo seria apenas à noite, ofereceu gentilmente o late checkout, para ficarmos algumas horas a mais no conforto do quarto antes de irmos ao aeroporto.
Para chegar ao centro, há ônibus de várias linhas e empresas diferentes, entre os veículos comuns e aqueles vermelhos semelhantes ao de Londres, com 2 andares. Obviamente que pegamos este tipo, para sentar no alto e ver mais do caminho.
Como ficamos distante do moderno centro turístico, vimos a transição de casas e prédios baixos em tons pastéis para os altos edifícios de vidros azuis. Ainda assim, o centro da capital do Kuwait guarda em seu miolo algumas áreas mais degradadas, reforçando esse nosso sentimento de um pé no futuro e outro no passado.
As atrações, assim como Bahrein, repetem um pouco do que já vimos: souk, mesquita e museu. A Cidade do Kuwait, porém, guarda suas particularidades.
O souk al Mubarakiya é uma delícia de andar, mas não reúne apenas lojas de tecidos e suvenir, sendo bem parecido com os mercadões brasileiros, com tendas de frutas e legumes, carnes e peixes e aquelas que vendem tudo o que é tipo de bugiganga. Para reforçar ainda mais a similaridade com o Brasil, diversos restaurantes estavam em sequência em uma das saídas. Comemos um fatayer —aquela pizza meio dobrada— no que parecia mais barato.







A Mesquita do Kuwait, infelizmente, estava fechada por ser domingo, e não foi possível visitá-la. Já o Museu Nacional nós até tentamos, mas não havia lugar para esperar que ele reabrisse, às 16h30. Chegamos a aguardar um pouco sentados no meio-fio que dava para o estacionamento, mas o funcionário da limpeza nos tirou de lá. Entre os monumentos históricos há ainda a Sadu House, que fica ali do lado e, segundo consta no Trip Advisor, seria a primeira casa de alvenaria do país.
Ficamos curiosos por saber mais sobre o passado desse território, cuja história é muito atrelada ao que hoje é o Iraque, já que formavam uma mesma nação até o fim da Primeira Guerra e que foram separados por influência do Reino Unido, de quem o Kuwait se tornou um protetorado até 1961. O país teve décadas de bonança com a descoberta e a exploração do petróleo, mas, infelizmente, se tornou palco de ataques terroristas e guerra no fim do século, quando o governo iraquiano invadiu o vizinho.
Mesmo sem muitos atrativos, o centro da Cidade do Kuwait é bem agradável de andar e, em alguns momentos, chega a lembrar Nova York. Gostamos também das muitas redes de cafeterias espalhadas e fomos pela primeira vez na Caribou que, apesar do nome, é americana.
No retorno para o hotel, fizemos aquela tradicional passagem pelo mercado, para produzir conteúdo para as nossas redes sociais. Neste momento, comprovamos como a Cidade do Kuwait se assemelha a outros países árabes —fora todo o resto— em um quesito: há bolsões exclusivamente frequentados por homens.
Em nossa volta pelo centro, apenas em um momento, na entrada do souk, passamos por um local assim, mas o mercado era muito frequentado por mulheres (locais, as turistas são poucas). Nessa região perto do hotel, porém, as casas de shisha, chamado de narguilé no Brasil, eram tomadas por homens, que, sim, ficaram olhando para nós como se fôssemos alienígenas.
Como falamos, apesar de no dia da saída nosso voo ser apenas de noite, fizemos um late checkout e ficamos no hotel, por considerarmos que tínhamos visto o principal da Cidade do Kuwait e que o deslocamento não valeria a pena. Almoçamos nossa penúltima refeição árabe no aeroporto, onde escolhemos o Costa Coffee para passar a tarde.
O aeroporto possui um shopping, e realmente há muitas lojas. As opções de alimentação, porém, são mais raras. Além disso, o terminal nem de longe espelha a modernidade dos locais assim em vizinhos como Arábia Saudita e Bahrein. A única semelhança, desta vez com o Qatar, é que há coisas que você não pode fazer, como ficar parado com o carrinho. Isso só é permitido nos guichês de checkin e nos cafés.
Depois de muitas horas por lá, despacharmos nossa bagagem e fomos para a área de embarque. O controle da bagagem de mão feito pelo aeroporto é rígido, tanto no quesito peso e tamanho, como na revista. Tiraram tudo da mochila do Faraó —e olha que depois de quase 15 meses viajando tinham várias coisinhas por lá. Como quem não deve não teme, ele mostrou tudo e depois guardou. Outro ponto deste momento é que todos precisam ligar o notebook. Resquícios de um passado recente de atentados terroristas.
A revista minuciosa contrasta com a facilidade em sair do país. Eles ficam com o papel do visto, carimbo e tchau, até uma próxima. Na sala VIP, jantamos nossa última refeição árabe —adeus pastinhas de grão-de-bico (húmus).
É claro que o último país da última temporada não ia querer se livrar tão facilmente da gente. Nosso voo atrasou mais de 2 horas, o que gerou certa apreensão, pois tínhamos uma conexão. Mas como o Faraó falou em diferentes momentos da viagem, no fim tudo dá certo.















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