Ao viajarmos pelo interior da Mongólia, parecia que estávamos em um grande tour por papéis de parede de computador, pois vimos enormes dunas de areia no deserto do Gobi, montanhas verdejantes e vastas planícies, e uma ou outra iurte —barracas redondas dos nômades mongóis— espalhada por lá. Um forte contraste com a capital, Ulan Bator, cheia de carros e jovens descolados.
Informações práticas*:
- Média hospedagem: 118.500 tugriks (R$ 185,50)
- Média café da manhã: 38.850 tugriks (R$ 60)
- Média almoço: 27.900 tugriks (R$ 43,50)
- Diária pacote: 459.982 tugriks (R$ 719,50)
- Visto: não é necessário para brasileiros
- Moeda: tugrik (1 tugrik = R$ 0,0016)
- Dica: É difícil explorar o interior da Mongólia por conta própria, de transporte comum ou carro alugado. Há muitas agências/hostels que oferecem variados pacotes, e fica mais barato quanto mais pessoas viajarem junto.
* valores para maio de 2024 para duas pessoas
Chegamos pela Transmongoliana à maior cidade do país e que concentra metade da população e logo buscamos alternativas para viajar pelo interior. Já sabíamos que o mais comum, para aproveitar melhor as paisagens bucólicas, seria alugar um carro ou fechar um pacote com agências. Avaliamos ir de ônibus até Dalandsadgad e lá buscar alguma solução mais barata, mas tentamos antes negociar com algumas empresas.
No hostel onde ficamos, o funcionário nos falou que levaria dali alguns dias três dinamarquesas para o Gobi por US$ 150 cada a diária. Nós, que nos planejamos para gastar US$ 75 ao dia, logo desconversamos. Outra agência nos ofereceu um pacote de seis dias a US$ 75 a diária por pessoa, com hospedagem, motorista e gasolina.
No fim, fechamos acordo com a Golden Gobi um pacote de sete dias a US$ 65 a diária por pessoa, incluindo motorista, o Bagui, e combustível. A hospedagem ficaria por conta da barraca que alugamos ali, a US$ 6 por dia. Para baratear nossos custos durante a viagem, a proprietária nos prometeu orientar Bagui, caso fosse impraticável acampar, a buscar alternativas mais em conta para dormirmos.
Assim, no dia seguinte à nossa chegada a Ulan Bator, partimos para uma semana de chacoalhadas e muitas horas dentro de uma Toyota Land Rover pelo ermo e belo sul da Mongólia.
No primeiro dia, visitamos a Baga Gazryn Chuluu, um parque (5.000 tugriks/R$ 8 por pessoa) onde pudemos subir numa pequena montanha para termos uma bela vista. Na sequência, Bagui nos levou a um outro monte em que havia água fresca dentro de uma pedra.
No fim da tarde, ele fez algo que seria comum durante nossa convivência: parou numa iurte para comermos. Os mongóis se mostraram muito hospitaleiros, pois não importava a hora do dia, sempre ofereciam chá e alguma comida. Depois, ele escolheu um lugar mais protegido do vento, ao lado de uma pequena montanha de pedras, e nos ajudou a montar a barraca.





No segundo dia, nos deslocamos por uma grande área arenosa com o objetivo de chegarmos ao Tsagaan Suvarga, uma grande falésia diante de um imenso vale de pequenos montes. Como Bagui nos disse que ventaria muito, nos sugeriu dormirmos no acampamento (60.000 tugriks/R$ 94) de uma família conhecida dele. Durante nossa jornada pelo sul da Mongólia, vimos que muitos nômades erguem iurtes a mais para pernoites de turistas. Foi o caso ali –mas não ventou.
O terceiro dia começou com a busca por uma região com inscrições rupestres. O motorista não sabia o caminho e, quando o GPS parou de funcionar, foi perguntando para os poucos moradores da região. A área era de difícil acesso e não possuía fiscalização, mas alcançamos os Monumentos Culturais da Montanha Del Uul. Entre as pedras no chão, plaquinhas apontavam onde estavam os desenhos antigos, como animais e homens caçando. Infelizmente, algumas pichações modernas.





À tarde, tivemos nosso primeiro e único banho em Dalandsadgad. A proprietária da agência nos falou que as duchas seriam nos dias 3 e 5 —se pensar que nos banhamos logo antes de deixarmos Ulan Bator e assim que voltamos, seria 1 banho a cada 2 dias. Nada mau. A ducha pública (5.000 tugriks/R$ 8 por pessoa) estava sem luz, mas insistimos e apelamos para as lanternas do celular. A água, por sorte, estava bem quente.
No fim do dia, dormimos gratuitamente na iurte extra de um conhecido de Bagui. Ficava ao lado de um complexo cercado com várias casas e prédios que pareciam uma escola.
O quarto dia começou numa paisagem verdejante, muito diferente dos caminhos arenosos até ali. Chegamos a uma região com grandes montanhas e Caminhamos cerca de 2 km entre alguns bois muito peludos e rios congelados. O vento frio completava o cenário europeu do cânion Yolyn Am.



Se o dia começou com paisagens que lembravam o período na Suécia, em janeiro deste ano, quando escrevemos nosso livro, terminamos diante de uma comprida montanha de areia, que nos levou de volta ao Marrocos, quando viajamos pelo deserto do Saara.
Com o vento forte, dormimos num acampamento de iurtes (50.000 tugriks/R$ 78). Na manhã seguinte, no quinto dia, o objetivo era subir a grande montanha de areia, com 185 km de comprimento e de 5 a 20 km de largura. Não sabemos dados da altura, mas era praticamente impossível alcançar o topo. Fizemos nosso melhor, é claro, e devemos ter chegado à metade, no máximo.
De lá, fomos para o vilarejo onde tomaríamos o segundo banho da jornada. Porta fechada, infelizmente. Depois do almoço, visitamos o Bayanzag (10.000 tugriks/R$ 15,50 por pessoa), onde há registros de assentamentos neolíticos. Também encontraram fósseis de dinossauros por lá.





Após três noites dormindo em iurtes e apenas uma na barraca, falamos para Bagui que queríamos acampar —o bolso reclamava dos gastos. Ele até tentou arranjar vaga grátis num acampamento, mas negaram. Como o relevo dali não favorecia proteção contra o vento, montamos tudo ao lado do 4×4, numa tentativa de barrar as intempéries da natureza. Uma forte tempestade na madrugada, infelizmente, nos deixou 2 horas acordados e com muita areia.
O sexto dia foi o que mais tempo passamos dentro do carro. Dirigimos por 3 horas num grande descampado até encontrarmos o primeiro ser humano. Por falar nisso, em toda a jornada pelo sul mongol, foram poucos os quilômetros em estrada de asfalto. Em muitos trechos, o caminho era bem delimitado, mas em outros tantos nos guiávamos por fracas marcas de pneu. O motorista ali precisa ser excelente.

No meio da tarde, após Bagui se bater muito entre montanhas verdejantes, encontramos a iurte de seu amigo de longa data. O casal tinha muitas cabras e vacas, principais criações que vimos na viagem, e nos ofereceu três tipos de queijo.
Assistimos, como num programa culinário de TV, sem saber o prato final, à mulher preparar e sovar massa, aplainar até formar grandes panquecas e assar no forno que costuma ficar no meio da tenda, para aquecer todo o ambiente. Então ela amontoou os discos, os fatiou como uma pizza, uniu tudo e cortou em finas tiras. Jogou numa grande panela com carne e finalizou o tsuivan, um prato típico da Mongólia.
Após longas horas de estrada e poucas de sono, acreditávamos que seríamos hospedados em outra iurte, mas nos indicaram o chão e ali arrumamos todos os apetrechos usados nos dias anteriores, como mantas e sacos de dormir. Se queremos hospedagem grátis, não há do que reclamar.
Na manhã do sétimo e último dia, enquanto eles repetiam o prato da noite, acrescido de leite, comemos biscoitos normalmente oferecidos aos visitantes. De lá, rumamos para a capital. Comprovamos o que muitos falaram sobre o trânsito de Ulan Bator e demoramos muito para chegar à hospedagem, mesmo sendo num sábado.
A moderna Ulan Bator
A Golden Gobi, além de agência de viagens, é um hostel. Quando lá estivemos para organizar a viagem, deixamos reservado o quarto para nosso retorno. Há os compartilhados, mas optamos por um individual, com banheiro, por 118.500 tugrik (R$ 185,50) a noite, com café da manhã.
O centro da cidade é bem moderno e agitado, com muitas cafeterias, shoppings, mercadinhos e pessoas transitando. Há relatos de muita poluição, então sua percepção pode variar de acordo com o período do ano. Agora, em maio, não sentimos a sujeira, apenas frio.




O prédio do Parlamento é enorme e fica em frente a uma grande praça. Testemunhamos até fotos de casamento diante do edifício, que conta com uma gigante estátua de Genghis Khan. Ali perto estão o Museu Nacional da Mongólia e o Museu de Genghis Khan (30.000 tugrik/R$ 39), o grande líder do império mongol. São sete andares de muita história, mas, infelizmente, os vários textos não têm versão em inglês. É possível ler por meio de QR Code, o que pode ser cansativo.
Há outros museus na cidade, mas, como estávamos vindo de uma grande sequência de trabalho e viagem na Transiberiana/Transmongoliana, com vídeos diários no Instagram e no YouTube, e ainda emendamos na expedição no sul mongol, preferimos descansar e aproveitar a modernidade de Ulan Bator e seus muitos cafés.















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