Se você se lembra da propaganda de um cartão de crédito, lá dos anos 2000, que mostrava um homem descendo uma montanha de snowboard e migrando para uma prancha de surfe, talvez essa seja a imagem que você tenha da Nova Zelândia –era a que tínhamos, pelo menos.
Claro que não pensávamos em nos aventurar dessa forma (até porque falta um pouco de talento), mas queríamos desbravar esse país de montanhas nevadas, praias, muito verde e ovelhinhas. Para isso, no entanto, descobrimos que era preciso tirar o escorpião do bolso e alugar um carro, já que o transporte público para os cantos mais remotos nem sempre é fácil. Decidimos, então, ter nossa primeira experiência em uma campervan, da Travellers Autobarn.

Campervan x Motorhome
Antes de seguirmos para a viagem em si, uma pequena explicação: uma campervan é uma van modificada, podendo ter banheiro ou não, mas minicozinha e cama são itens quase obrigatórios. Por isso, é mais compacta. Muitas possuem placas de energia solar, mas não são o suficiente para manter um notebook ou um aquecedor ligados. Já um motorhome é grandão e mais completo, realmente uma casa sobre rodas.
Frio e ovelhas
Começamos nosso roteiro (mapa abaixo) de nove dias e oito noites a partir de Christchurch e demos uma volta pela ilha sul. É possível alugar a campervan em Auckland e devolver em Christchurch, explorando assim as duas ilhas, mas fica bem caro, pois é preciso incluir o valor da balsa (US$ 35 por pessoa, mais cerca de US$ 280 da van).
Nosso primeiro destino foi Hokitika, passando pelo famoso Arthur’s Pass. Essa passagem é famosa por atravessar as montanhas do sul, mas, sinceramente, não achamos nada demais. O que é incrível mesmo são as paisagens –e as estradas cheias de curva dão uma certa adrenalina. Foi um dia inteiro, com várias paradas, para chegar até lá a partir de Christchurch.
A cidade em si é o padrão do que vimos na Nova Zelândia e que nosso seguidor Willy, residente do país há oito anos, definiu bem: parece que tudo parou nos anos 1950. A arquitetura lembra o interior dos Estados Unidos (é o que dizem) e tudo é vazio e calmo. Tão calmo que lojas e cafés fecham às 15h. Ficamos quase 30 dias por lá e não nos acostumamos a esse horário.
Lá perto, porém, fica a exuberante Hokitika Gorge. Em uma trilha fácil de pouco mais de uma hora, vimos de diferentes ângulos o rio de azul turquesa rodeado por rochas e muito verde.






Beirando o mar, seguimos para Franz Josef, vilarejo mais próximo do famoso glaciar de mesmo nome. Para nós, o interessante não foi ver essa formação natural em si, pois só a admiramos de longe. Há passeios guiados para chegar mais perto ou apreciar de um helicóptero, mas nem precisamos falar que são caros. O que chamou a atenção foi como o glaciar retrocedeu quilômetros de sua formação nos anos 1950.
Hora de cair na estrada e seguir para Wanaka, como sempre com muitas paradas. A cidade é maior do que as anteriores, mas sua principal atração é uma árvore em um lago. O nome é um resumo do bom humor neozelandês: “Aquela árvore de Wanaka”. E é isso mesmo, uma árvore num lago cuja imagem pode ser plano de fundo para várias frases motivacionais.

Demos uma espiada nela de manhã e partimos em direção a Queenstown, onde fizemos uma parada estratégica de dois dias. Pular de cidade em cidade tem seu preço (não só literal), então precisamos abrir mão dos Milford Sounds, lindos fiordes no extremo sul do país. Por outro lado, pudemos desfrutar um pouco mais do destino popular por ser um point para quem gosta de esportes na neve.
Apesar do movimento intenso –afinal, era período das férias de julho e alta temporada de esqui–, Queenstown tem o mesmo funcionamento das demais cidades: tudo fecha muito cedo. Com o adicional de que, a partir de 15h, boa parte dela já não tem sol devido às montanhas em volta. Pensa num frio.
Ainda assim, foi bem gostoso flanar pelas ruas e observar a vida local. Por ficar à beira de um lago, há várias pessoas aproveitando para passear ou fazer uma boquinha na orla. A combinação com as montanhas forma aquela paisagem que nós gostamos bastante.
Por lá, descobrimos um brasileiro de Campinas que serve churrasco –e ficamos felizes em ver que tinha um certo movimento. Também experimentamos o gigante hambúrguer do conglomerado Ferg. Além da lanchonete, há um pub e uma padaria, alguns dos poucos lugares abertos após as 16h.





Reenergizados, continuamos nosso périplo em direção ao Mount Cook, o ponto mais alto do país, com 3.724 metros. No caminho, enfrentamos uma densa neblina, que mais parecia cena de um fime de terror. Qual não foi nossa surpresa quando a forte cerração se abriu como num portal e, ao fundo, surgiu a pequena montanha. Hollywood mandou um abraço.
Dormimos por lá, no camping mais plural que vimos em terras neozelandesas, com poucos viajantes brancos e muitos que pareciam ser indianos ou chineses.
Na manhã seguinte, nos aventuramos em uma das muitas trilhas do Mount Cook. Há aquelas que duram cerca de oito horas, mas optamos por uma das mais curtas, de 30 minutos. O objetivo era ver um lago de azul intenso. A região tem poucas opções gastronômicas e almoçamos uma pizza que não valia os NZ$ 28 (R$ 96,50). No caminho para o próximo destino, ainda fizemos outra curta e escorregadia trilha, que levava a um lago, agora bem verde.
Passamos a noite próximo ao lago Tekapo e, na manhã seguinte, visitamos o observatório do Mount John. Enfrentamos o mesmo problema de dois dias antes lá no topo, quando ficamos diante de uma forte neblina. Como quem acredita sempre alcança, o tempo se abriu e pudemos ver a paisagem por alguns instantes. O café no observatório é bem charmosinho e sabe aproveitar a temática dos astros para decorar o ambiente e as bebidas.














De lá, rumamos em direção ao ponto onde começamos nossa viagem sobre rodas. No trajeto, pudemos saborear a “melhor torta da Nova Zelândia”, do Fairlie Bakehouse, em Fairlie. A grande fila deu mostras de que a propaganda era forte. Esse prato foi o que mais encontramos nos nossos dias no país, e ali, realmente, foi onde comemos a melhor torta.
O camping onde pretendíamos passar a última noite estava fechado e acabamos ficando na área metropolitana de Christchurch. O local estava cheio, mas não de viajantes. Pessoas sem condições de pagar aluguel de uma casa optam por viver em motorhomes ou trailers estacionados em endereços assim, com cozinha e banheiros compartilhados. Alguns veículos tinham até cerca e flores, mostrando que o proprietário estava por ali havia um tempo.
Antes de devolvemos nossa caranca na unidade da Travellers Autobarn em Chistchurch, limpamos a caixa da água usada, principalmente para lavarmos a louça quando estávamos com preguiça de levar e trazer das cozinhas dos campings.
Por falar nisso, mesmo que tenhamos utilizado a energia desses locais para ligarmos o aquecedor, enfrentamos tanto frio em algumas noites que apelamos para as bolsas de água quente na cama e até forramos a parede com os travesseiros extras –sem falar que dormíamos sobre um saco de dormir e com outros dois de cobertor.
Custos da campervan
Já adiantamos: não é barato. Essa viagem virou mais uma daquelas que consideramos tiros, pois exigem um alto investimento. Como queríamos explorar bem a Nova Zelândia e já tínhamos previsto uma permuta pela Worldpackers, que ajudaria a equilibrar um pouco os gastos, tiramos o escorpião do bolso e seguimos em frente. Abaixo, nossos gastos:
9 dias (8 noites) de campervan na Nova Zelândia
| Aluguel | NZ$ 621 (R$ 2.086,56) |
| Kit cozinha+roupa de cama | NZ$ 75 (R$ 252) |
| Seguro cobertura total | NZ$ 405 (R$ 1.360,80 |
| Taxa de pagamento | NZ$ 31,93 (R$ 107,29) |
| Campings | NZ$ 460 (R$ 1.545,60) |
| Gasolina | NZ$ 566,92 (R$ 1.904,85) |
Total: NZ$ 2.159,85 (R$ 7.257,10)
Média diária: NZ$ 239,09 (R$ 806,33)
Fora isso, tem a alimentação. Como muda muito de pessoa para pessoa, optamos por não incluir aqui. Particularmente, nós fizemos uma mescla de refeições preparadas na campervan e paradas em cafés e restaurantes.
Não vamos negar que é um custo elevado, ainda mais se levarmos em conta a nossa meta de US$ 75 (R$ 424,37) por dia. E pensar que, há pouco mais de um ano, estávamos em vans do tipo cruzando o continente africano. A diferença é que dividíamos o espaço com outras 20 pessoas.















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