O Sudeste Asiático tem um passado recente cheio de conflitos, e muito se fala a respeito das duas décadas de guerra no Vietnã, mas pouco se divulga sobre as toneladas de bombas que os EUA lançaram no Laos, durante o conflito no vizinho, e sobre o genocídio orquestrado por Pol Pot e o Khmer Vermelho no Camboja. Em Phnom Penh, ao menos dois lugares apresentam ao turista esse triste pedaço da história.
Informações práticas*:
- Média hospedagem: US$ 23,06 (R$ 141)
- Média café da manhã: US$ 7,51 (R$ 48)
- Média almoço: US$ 6,48 (R$ 41)
- Visto: brasileiros precisam de visto
- Moeda: riel cambojano (R$ 1 = ៛ 651,60) e dólar dos EUA (R$ 1 = US$ 0,16)
- Dica: Como o país adota tanto o riel cambojano quanto o dólar dos EUA, vale a pena sacar notas novas e altas para futuros vistos.
* valores para dezembro de 2024 para duas pessoas
Para início de conversa, a França, essa mesma que invadiu e colonizou uma grande parte do oeste da África, ficou de 1862 a 1954 na Indochina, uma porção da Ásia que hoje engloba territórios do Laos, Vietnã, China e Camboja.
Ao deixarem a região asiática, vários grupos políticos iniciaram guerras civis para assumirem o poder de seus países, caso do Laos (monarquistas x comunistas) e do Vietnã (comunistas do norte x capitalistas do sul). Este conflito, aliás, reproduziu a tensão da Guerra Fria, pois, enquanto a União Soviética apoiava as forças do norte, as do sul eram financiadas pelos Estados Unidos.
Diferentemente dos vizinhos, o Camboja viveu um período de calmaria após a saída dos franceses, e o príncipe Sihanouk controlou o reinado até 1970, quando houve um golpe de estado sustentado pelos Estados Unidos.
O monarca dizia ser neutro diante dos conflitos na região, mas tolerava dentro do país a presença de militares do Vietnã do Norte. A ditadura que assumiu o comando do território cambojano logo entrou numa guerra civil contra os comunistas do Khmer Vermelho. Entre ataques dos Estados Unidos ao território mirando os vietnamitas e brigas internas, morreram cerca de 250 mil pessoas de 1965 a 1973, segundo estimativas.
Com a vitória em 1975, Pol Pot passou a comandar a nação e eliminou direitos civis e de propriedade, proibiu crenças religiosas e perseguiu minorias. Como defendia uma utopia rural, ele forçou uma enorme migração das cidades para o campo, e pessoas de todas as idades, inclusive crianças pequenas, passaram a trabalhar na lavoura.
O líder cambojano também queria extinguir qualquer presença ocidental no território e, por isso, orquestrou uma caçada a intelectuais, prendendo quem tinha graduação, falava um segundo idioma ou até usasse óculos.
Em Phnom Penh, o Museu do Genocídio Tuol Sleng exibe resquícios dessa perseguição. A história do prédio é bastante simbólica, pois era uma escola quando foi transformada na Prisão S-21. Em algumas salas de aula, paredes de tijolo ou de madeira foram erguidas para aprisionar opositores do regime, assim como outras foram palco de tortura.
No pátio, a antiga estrutura com cordas em que crianças se exercitavam passou a servir de forca. Em vários corredores, há telas com arame farpado para evitar o suicídio de detentos. Das mais de 20 mil pessoas que passaram por ali, apenas 12 ––8 adultos e 4 crianças–– sobreviveram.








Nos prédios, algumas salas expõem apenas uma cama, a barra utilizada para conter os pés do preso e uma foto de um cadáver que passou por ali. Outros cômodos têm murais com imagens de detentos e estruturas com crânios e ossos de quem morreu no lugar.
Outro endereço na capital que também aborda o regime do Khmer Vermelho é o Centro de Genocídio Choeung Ek. O antigo cemitério chinês deu vez a galpões onde pessoas eram torturadas e assassinadas. Para economizar em munições, os soldados matavam as vítimas com golpes de porrete, machete e outras ferramentas agrícolas.
Quando o governo de Pol Pot caiu, em 1979, a população revoltosa invadiu o lugar e pôs abaixo as construções a fim de aproveitar o material para suas casas. Hoje, murais e um áudio-guia contam a história do que se passou ali, e há covas onde foram encontrados restos mortais dos prisioneiros. Há ainda um memorial com crânios de vítimas do genocídio.






Segundo estimativas, de 1975 a 1979, de 1 a 3 milhões de pessoas, o que chega a 30% da população de então, morreram de fome ou em campos de extermínio como esses dois, em Phnom Penh. Há relatos de assassinatos de famílias inteiras. A morte de uma parte considerável dos habitantes do Camboja afetou o seu desenvolvimento até hoje: dos 11 países do Sudeste Asiático, a nação tem o 3º pior PIB per capita, segundo a paridade de poder de compra, perdendo apenas para Timor-Leste e Myanmar.
Após quatro anos no poder, Pol Pot foi removido do comando pelo Vietnã, que invadiu o território e passou uma década no controle do Camboja. Só em 1993 o país teve eleições livres. O Khmer Vermelho ainda tentou manter suas atividades como uma guerrilha, mas muitos líderes desertaram e assinaram acordos de paz. E apenas a partir de 2006 algumas figuras importantes do partido foram julgadas e condenadas à prisão perpétua por crimes contra a humanidade. Pol Pot morreu antes disso, em 98, sem pagar pelas atrocidades que cometeu contra seu próprio povo.
O que mais tem para ver em Phnom Penh?
A capital do Camboja não se resume a história, e a cidade oferece outros passeios. O mais comum é um cruzeiro pelo rio Mekong, que deixamos para lá porque já havíamos navegado por esse mesmo rio quando entramos no Laos a partir da Tailândia.





Há também mercados noturnos, com barracas de tudo que é tipo de comida local e barata. Não visitamos nenhum, mas recomendamos o de Siem Reap, cidade no norte cambojano famosa por ser endereço do maior templo religioso do mundo, o Angkor Wat.
A capital do Camboja é um bom ponto de partida (ou de passagem) para os vizinhos Vietnã e Tailândia, assim como para o litoral. Fizemos um bate e volta para Koh Rong Sanloem, uma ilha de belas praias e lindos pontos de mergulho.















Deixe um comentário