Apesar de a Tailândia ter filmes que consagraram suas belas paisagens, como “A Praia” e “007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro”, o Vietnã deve ser o país do Sudeste Asiático que mais teve cenários eternizados em produções de Hollywood. Também pudera, já que a nação foi palco de uma guerra sangrenta contra os Estados Unidos ––e eles adoram fazer um longa sobre os grandes combates em que participaram. Em Ho Chi Minh, a maior cidade vietnamita, é possível aprender mais sobre o conflito (leia mais abaixo).
Informações práticas*:
- Média hospedagem: US$ 12,62 (R$ 79)
- Média café da manhã: ₫ 180.000 (R$ 44)
- Média almoço: ₫ 210.000 (R$ 51,50)
- Média jantar: ₫ 204.860 (R$ 51,50)
- Visto: brasileiros precisam de visto
- Moeda: dong vietnamita (R$ 1 = ₫ 3927)
- Dica: Além de sleeping bus confortáveis, também é possível viajar pelo Vietnã de trem. Vimos na internet, mas não podemos confirmar, que comprar o bilhete na estação sai mais barato do que comprar no site da estatal ferroviária ou no 12Go, um agregador de passagens muito usado no Sudeste Asiático.
* valores para dezembro de 2024 para duas pessoas
Curiosos em ver a história de perto, chegamos à nossa primeira parada no país, Ho Chi Minh, após cruzarmos a fronteira com o Camboja. O trânsito conturbado da cidade faz uma década morando no centro de São Paulo parecer fim de ano no interior do Brasil. Tem tanta moto por lá ––pesquisas apontam 7,6 milhões, diante de 9,5 milhões de habitantes–– que é comum motociclistas circularem também pelas calçadas.
Amigos deram a dica, que comprovamos ser verdade, de, ao atravessar a rua, seguir num ritmo constante, para que o condutor saiba para onde desviar. Em outras palavras, é o famoso dito “não é cego, tá me vendo”.
O centro da antiga Saigon ––em 1976, após a vitória do Vietnã do Norte no conflito, ela passou a homenagear o líder comunista, que viveu de 1890 a 1969–– é vibrante e abriga muitos hotéis, restaurantes e cafeterias voltados aos turistas. Por lá fica o War Remnants Museum (Museu dos Vestígios de Guerra), onde, por ₫ 40 mil (R$ 10), pode-se aprender sobre o conflito no território.











O acervo do prédio apresenta a história por meio de imagens em seções dedicadas ao conflito em si, ao uso de armamento químico pelos EUA, a como a população foi afetada e a manifestações pelo mundo pelo fim da guerra. Algumas fotos são muito fortes, e frequentemente não há aviso sobre isso. Então, prepare-se. O famoso registro de uma garota nua correndo, enquanto chora, pela estrada está lá também.
Do lado de fora, réplicas de celas e uma guilhotina, herança da colonização francesa e usada pela última vez em 1960, mostram o que acontecia com os vietnamitas capturados. No pátio, estão estacionados helicópteros, aviões e tanques dos EUA, país que passou a enviar tropas de combate em 1965 e deixou o território em 1973, quando perdeu a guerra. A partir de então, o confronto ficou entre os asiáticos e acabou dois anos depois, com a tomada de Saigon.
Um dos passeios mais consagrados na cidade são os Cu Chi Tunnels, a cerca de 40 km do centro e de onde muitas agências de turismo vendem pacotes. Contratamos um a ₫ 300 mil (R$ 76,50) por pessoa, com direito a guia, transporte e ingresso do lugar, e avaliamos que o investimento valeu a pena. A caminho da atração, paramos numa confecção de pinturas “sơn mài”, que peças de madeira adornadas com madre-pérola e casca de ovo, itens comuns por aqui.








Na área, cerca de 250 km de túneis, escavados por agricultores para armazenar armamentos contra os franceses na Primeira Guerra da Indochina, serviram de abrigo e de deslocamento aos vietcongues, guerrilheiros socialistas que viviam no Vietnã do Sul, na luta contra o governo local e os militares dos EUA. Em menor número, eles adotaram estratégias como armadilhas e contraespionagem para fazer frente ao poderio bélico estrangeiro.
Hoje, o visitante pode entrar nos túneis por algumas das estreitas aberturas que propiciam sentir quão claustrofóbico é o mundo lá embaixo, inclusive com dois caminhos subterrâneos, de 50 e de 100 m. O tour inclui vislumbrar a confecção de calçados com sobras de pneus e também a preparação da mandioca, alimento importante para os guerrilheiros.
Duas paradas merecem destaque: o estande de tiro, onde o turista pode comprar munições e testar a mira, e a seção que reproduz armadilhas. Os vietcongues eram criativos neste setor, e muitas envolviam buracos na terra para esconder artimanhas com ferros ou bambus. Cada explicação de Lam, nosso guia, era acompanhada de caretas dos espectadores, pois imaginávamos a dor sentida pelas vítimas.
Hoi An e Da Nang, no centro do Vietnã
Subimos o país num sleeping bus em direção a Da Nang, onde queríamos ficar uma semana curtindo a praia e escrevendo o próximo volume de nosso livro, o “Aventuras Sem Chaves”. A chuva, porém, não gostou dos planos e foi nossa parceira em quase todos o período. Uma pena, pois estávamos a um quarteirão da orla.
A região próxima ao mar é um ótimo destino para nômades digitais ––inclusive, fomos para lá influenciados pelo Matheus de Souza, escritor, autor da newsletter Passageiro e nosso amigo, que já havia indicado Koh Phangan, na Tailândia––, pois há inúmeros restaurantes, cafeterias e casas de massagem, tudo lado a lado.
Num dia de pausa na chuva, alugamos uma moto por ₫ 120 mil (R$ 29,50) e fomos às Marble Mountains (₫ 40 mil/R$ 10), ou Montanhas de Mármore, formações rochosas com várias estátuas e templos, produzidos pela pedra que dá nome ao lugar. Pode-se subir por elevador (₫ 15 mil/R$ 3,50), mas as escadas gratuitas não são tão longas, pelo menos quando comparamos com as da Muralha da China, que enfrentamos para economizar alguns dólares.









Na sequência, viajamos para Hoi An, a 17 km, para passear pelo agradável centro. As muitas alfaiatarias mostram que o lugar é um point para quem procura um terno novo. Lá também estão lojas de suvenir e camisetas com estampas engraçadinhas, e nós, com mochilas milimetricamente pensadas para a neve da Rússia e o calor da Indonésia, ficamos na vontade.
O centro da cidade representa a mescla de influências dos estrangeiros que aportaram por lá nos últimos séculos, como portugueses, chineses e japoneses. Atualmente, o que mais se vê são turistas europeus. Não ficamos até a noite, mas sabemos pelas redes sociais que os barcos protagonizam o passeio noturno.














Como adoramos praia, achamos que tomamos a melhor decisão ao nos hospedarmos em Da Nang e organizarmos um bate e volta para Hoi An. Ambas oferecem muito conforto e preços baixos, mas o mar pertinho nos conquistou. Mas, como só pegamos chuva, teremos que voltar à cidade para saber como é a praia com um clima agradável. Com certeza retornaremos felizes.
A Guerra do Vietnã
A Guerra do Vietnã (1954-1975), como nos é ensinado na escola, ou Guerra Americana ou Guerra contra os Americanos para Salvar a Nação, nomes dados por aqui, deixou suas cicatrizes na região, porque, além do lugar que sediou o conflito, houve bombardeios nos vizinhos Laos e Camboja.
Enquanto o primeiro tem a marca de ser o país mais bombardeado do mundo, quando se leva em conta a relação de explosivo por habitante, o segundo sofreu um golpe de Estado patrocinado pelos EUA porque o rei permitia a entrada de militares do Vietnã do Norte no território.
Esse conflito foi influenciado por um outro, contra os colonizadores franceses, que ocupavam a região desde a década de 1880. De 1946 a 1954, foi travada a Primeira Guerra da Indochina e, após a vitória dos asiáticos, houve uma separação do território entre a República Democrática do Vietnã, ou Vietnã do Norte, governado por Ho Chi Minh e os comunistas do Viet Minh, e o Estado do Vietnã, ou Vietnã do Sul, sob controle do imperador Bao Dai.
Em tese, uma votação definiria um futuro único das duas porções, mas os EUA, com medo do avanço socialista no mundo, passaram a apoiar o Sul, que em 1955 se tornou República do Vietnã, presidida por Ngo Dinh Diem. A União Soviética, por sua vez, deu suporte ao Norte. Assim como em conflitos africanos como os de Angola, Moçambique e Namíbia, essas potências estrangeiras replicaram a Guerra Fria na Ásia e muito armamento, suprimentos e, principalmente, tropas foram enviados para a área.















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