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Em Myanmar, vimos templos, praia, poucos turistas e vários reflexos da guerra civil


Myanmar é um dos países menos visitados do Sudeste Asiático, apesar de guardar lugares incríveis para conhecer e ter um povo simpático e receptivo. Isso tem um motivo bem claro: o golpe de Estado em fevereiro de 2021 que resultou em uma ditadura e em uma guerra civil, que derrubou o número de visitantes de 4,36 milhões em 2019 para 370 mil em 2023.

Se engana, porém, quem acha que o país esteja proibido para turistas. Apesar de ser necessários alguns cuidados, é possível explorar as maravilhas vistas por pouquíssimos olhos estrangeiros hoje em dia.


Informações práticas*:
  • Média hospedagem: US$ 33 (R$ 152,50)
  • Média almoço: MMK 23.250 (R$ 29)
  • Média jantar: MMK 20.500 (R$ 25,50)
  • Visto: brasileiros precisam de visto
  • Moeda: kyat (R$ 1 = MMK 796)
  • Dica: A cotação oficial aponta que US$ 1 equivale a 2.100 kyats, mas é possível encontrar no mercado paralelo, em Yangon, por 4.300 kyats. O governo, porém, está tentando erradicar a prática, prendendo cambistas. Wise, Revolut e Nomad não atuam no país, então é bom levar notas de dólares ou euros para trocar por kyats.

* valores para fevereiro de 2025 para duas pessoas


Yangon

Com uma população de 5,7 milhões em sua região metropolitana, Yangon é a maior cidade do país e já foi capital de 1948 a 2006, quando o governo mudou a sede para Nay Pyi Taw.

Não são muitos os passeios por lá, mas o Museu Nacional (10 mil kyats/R$ 12,50) vale a visita. No prédio, sabemos mais sobre a evolução da escrita de Myanmar, que tem um alfabeto tão interessante quanto difícil, a formação do país desde as cidades-Estados até a unificação dos reinos e aspectos culturais, como vestimenta.

O lugar ficou devendo apenas na história contemporânea, mas dá para entender por que ficou de fora. O Reino Unido controlou a região de 1824 a 1948 e, além de destituir a monarquia local, interferiu nos ritos religiosos. Muitos myanmarenses se organizaram em guerrilhas, mas os colonizadores tinham poderio militar maior, a ponto de retaliar os camponeses que apoiavam os combatentes.

A independência durou pouco mais de uma década, pois em 1962 houve um golpe de Estado. A primeira ditadura, de Ne Win, durou 24 anos, até 1988. Na sequência, veio outro levante militar, e Than Shwe ficou no comando até 2011. O período de democracia civil não durou muito, pois em 2021 aconteceu outro golpe militar, com Myint Swe assumindo o controle –atualmente, é Min Aung Hlaing quem governa o país.

Com o mais recente golpe, a presença de militares nas ruas é constante, e há inclusive algumas vias fechadas. No mercado aonde fomos para trocar dinheiro a uma cotação mais vantajosa, o governo fez uma limpa alguns dias antes, e só conseguimos o câmbio em uma loja de joias, feito por uma senhorinha, por debaixo dos panos.

A presença, porém, não impacta nos passeios, pois em nenhum momento fomos abordados. Assim, aproveitamos para conhecer dois templos –e só não passeamos mais por lá pois ficamos doentes. Fomos conferir o Sule Pagoda (10 mil kyats/R$ 12,50), cuja lenda diz que sua construção foi há mais de 2.600 anos. Mais recentemente, o lugar foi centro de revoluções e protestos em 1988, 2007 e 2021.

Como muitos templos que vimos nas andanças por Myanmar, ali também há muito dourado. Mais impressionante ainda, no entanto, é o Shwedagon Pagoda (20 mil kyats/R$ 25), o mais sagrado do país. Segundo a lenda, ele é um pouquinho mais recente, tendo sido erguido há 2.500 anos.

Ir a esses templos é interessante para ver a população local professando sua fé, além de monges turistando. Não entendemos muito da crença budista, mas há altares para diferentes dias da semana, referente ao dia do nascimento do fiel, e vimos pessoas lavando a estátua ali presente.

Outro ponto de visita é o templo Chaukhtatgyi Buddha, onde fica o maior Buda reclinado –sim, maior mesmo que aquele famoso na Tailândia. Pena que nossa saúde não colaborou para irmos conferir de perto.

Por fim, Yangon tem vários shoppings, com lojas de marca e muitos cosméticos e é muito fácil se deslocar com o Grab –pagando sempre em dinheiro, pois os cartões internacionais de débito (Wise, Revolut etc.) não funcionam.

Falando em dinheiro, vale perguntar na hospedagem por uma agência de confiança para trocar, tanto para conseguir uma boa cotação (algo em torno de US$ 1 para 4.300 kyats) como para não cair em pequenos golpes. Nós fomos ao mercado Bogyoke Aung San, recomendado pelo @destinodecasal, mas uma limpa feita pela polícia prendeu os cambistas dali.

Bagan

Se os templos em Yangon já impressionam, Bagan consegue ser ainda mais surpreendente e única. A cidade e antiga capital do Reino de Bagan, que durou de 849 a 1297, hoje abriga mais de 2.000 templos, resquícios daquela época que chegou a superar 10 mil construções do tipo. O reino foi o primeiro das regiões que mais tarde constituiriam o que hoje conhecemos como Myanmar.

Chegamos à cidade após uma viagem noturna (mais detalhes abaixo) e ainda sofríamos as consequências da doença, então tentamos aproveitar o pouco que conseguimos –e já foi o suficiente para nos encantar. O ponto alto da cidade é o nascer e o pôr do sol, inclusive com passeio de balão nas primeiras horas da manhã (US$ 160 a US$ 250 por pessoa, segundo o @destinodecasal) –nós não nos aventuramos nas alturas, mas recomendamos o vídeo que eles fizeram.

Nós ficamos com o pôr do sol mesmo, e é comum algum pintor abordar para apresentar lugares fora do radar dos turistas e também mostrar sua arte. Aconteceu com a gente, e decidimos dar um apoio, já que a situação do país tem dificultado muito quem vive do turismo. Adquirimos uma das pinturas a 115 mil kyats (R$ 143) e ouvimos um pouco sobre os percalços enfrentados pela população local.

Aproveitamos para visitar o Htilominlo Pahto, construído entre 1211 e 1231. Os tijolinhos vermelhos à mostra dão uma cara diferente, mas os detalhes que restaram em gesso também chamam a atenção. Dentro há quatro Budas, um para cada entrada, e só se pode visitar o térreo. Também fomos ao Dhammayangyi e contemplamos seu formato piramidal. É o maior dos templos de Bagan, erguido entre 1167 e 1170.

Fechamos o dia encantados com o pôr do sol em um dos lugares que o pintor nos indicou. Era a cena que a Pati imaginava quando soube pela primeira vez da cidade: o céu pintado de diferentes tons de laranja, iluminando as pontas dos milhares de templos que formam o sítio arqueológico.

Ngwe Saung Beach

Nossa última parada em Myanmar foi no litoral, pois queríamos ver de perto alguma praia da extensa costa. Com a tomada de Ngapali pelos rebeldes em julho de 2024, nos restavam poucas opções, então partimos em direção a Ngwe Saung Beach, depois de fazer uma parada de uma noite em Yangon.

A faixa de areia é extensa, tanto em comprimento quanto em largura, o que dá uma sensação ainda maior de vazio. Há alguns vendedores oferecendo passeios a cavalo, de quadriciclo, de banana boat ou então de barco para conhecer algumas ilhas da região, com a opção de snorkeling.

Nós queríamos só curtir a areia e o mar da baía de Bengala e escolhemos a Soe Ko Ko (120 mil kyats/R$ 149 a diária), um pouco mais afastada do centrinho da cidade, para isso. A hospedagem é bem simples, com bangalôs de palha e um banheiro que deixa um pouco a desejar.

Em compensação, a comida é farta, barata e boa. E mesmo com a geladeira quebrada, a equipe dá um jeito de encontrar uma cerveja gelada para os clientes –consequência do conflito, já que a distribuição de bebidas e manutenção de equipamentos têm sido bem falhas.

De volta à praia, a água é azul e transparente, mas não chega a surpreender quem é do litoral do Brasil ou já viajou pelos demais países do Sudeste Asiático. Os vendedores, por sua vez, não ficam assediando os poucos turistas: tentam fazer sua venda e é isso.

O que encanta ali é o pôr do sol. Sim, mais um. Nos dois dias em que estivemos lá, fomos conferir e ficamos estupefatos as duas vezes. Foi um bom início de despedida.

O que mais fazer em Myanmar

Além de Yangon, Bagan e Ngwe Saung Beach (ou outra praia), há pelo menos dois pontos que turistas podem visitar e que valem a visita: Mandalay, que também já foi capital, e Inle Lake.

Em Mandalay, segundo o @destinodecasal, há um controle maior dos militares e mais ruas fechadas. Ainda assim, dá para visitar o último palácio real da mais recente monarquia myanmarense e outros pontos turísticos. Já Inle Lake, além de mais um pôr do sol de chorar para a conta, há pescadores para observar e passeios de barco para curtir.

Por fim, vale citar a capital. Não há muito para fazer, pois é como uma Brasília, planejada para ser a sede do governo. Mas pelo menos dá para ir conferir o local da famosa cena da influenciadora fitness dançando enquanto os militares tomavam o governo em 2021.

Como se deslocar em Myanmar

Provavelmente você vai chegar por avião, já que existe apenas uma fronteira terrestre permitida no eVisa e, com tantos lugares tomados por rebeldes, fica difícil saber se é seguro entrar desta forma. Em Yangon e Mandalay, é possível usar o Grab (carro por aplicativo local), colocando a opção de pagar em dinheiro –e é bem fácil trocar dólares ou euro no aeroporto.

Já entre cidades, é preciso atenção, pois estrangeiro não pode pegar qualquer ônibus. Há algumas empresas para o deslocamento de turistas, e se for comprar com a hospedagem, é bom se informar bem para não perder a passagem. Por garantia, nós adquirimos on-line, pelo site Oway Travel & Tours, que dá para pagar no cartão –a cotação não é tão boa, mas pelo menos ficamos tranquilos.

Com os longos deslocamentos, os dez dias em Myanmar passaram voando. Foi o suficiente, porém, para nos encantarmos com o país e seu povo e gerar aquela vontade de voltar num futuro próximo.

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