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Entramos na Índia, por ar e por terra, a partir de Myanmar, Bangladesh, Nepal e Maldivas


Atualizado em 29 de abril de 2025

Nessa volta ao mundo, tentamos viajar o máximo possível por terra ––esse objetivo já nos gerou histórias inusitadas como três em uma moto para cruzar a fronteira entre Guiné-Bissau e Guiné, no meio da floresta. Agora, na Ásia, o formato da Índia nos fará entrar e sair várias vezes do território para visitar os vizinhos: Bangladesh, Nepal, Sri Lanka, Maldivas e Paquistão.

Entrada a partir de Myanmar

A primeira entrada, no entanto, não foi a partir de um país colado, e sim da nosso 11ª e derradeiro membro do Sudeste Asiático, Myanmar. Como a nação tem voos para relativamente poucos destinos internacionais (12, para sermos precisos), subimos num avião entre Yangon e Calcutá, pertinho do Bangladesh.

Antes de chegarmos ao aeroporto na maior cidade myanmarense, fomos parados em uma barreira do Exército, e o militar nos perguntou o destino. Foi a primeira vez em que um representante da ditadura vigente nos abordou em Yangon. Antes disso, só na estrada para Bagan.

O aeroporto segue o costume asiático de só permitir pessoas que tenham viagem marcada, pois o funcionário pediu para ver as passagens aéreas. A equipe da Myanmar Airways International foi bastante ágil e prestativa, a ponto de imprimir, sem pedirmos, nosso eVisa da Índia ––sim, mesmo com quase três anos na estrada, cometemos o erro de achar que o e-mail de confirmação do documento indiano era o suficiente.

A oficial de imigração, assim como na chegada a Myanmar, foi rápida e não fez perguntas, nem pediu o eVisa impresso, como aconteceu quando deixamos o Vietnã.

A área de embarque do aeroporto é enorme, com muitas lojas abertas, mas vazias. O onipresente carpete e alguns estandes fechados dão um ar de anos 1980 ao lugar.

Como o turismo de ocidentais foi afetado pela guerra civil, éramos os únicos não-asiáticos no avião. Viajamos com alguns monges e integrantes de uma excursão ––os muitos bonés brancos davam essa impressão. O voo, de 2 horas, não tinha entretenimento de bordo, mas, ao menos, ofereceu uma farta (e apimentada) refeição.

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Ao pousarmos no Aeroporto Internacional Netaji Subhas Chandra Bose, em Calcutá, recebemos um pequeno formulário para preenchermos ––fica a pergunta de por qual motivo não o entregaram dentro do avião–– com os tradicionais dados de passaporte, voo e hospedagem.

Foi esse último campo, inclusive, que gerou inquietação entre os agentes de imigração. Colocamos o endereço de um apartamento, alugado pelo Airbnb, e eles disseram não conhecer a plataforma.

Achamos muito curioso, porque, já que ela é bem difundida na Europa e nos Estados Unidos, pensávamos que também seria no país mais populoso do mundo ––a China perdeu a posição em 2023. Sem falar que Calcutá é a terceira maior cidade indiana e deve ser a porta de entrada de muitos estrangeiros. Depois de uma não tão rápida explicação sobre o site, eles aceitaram o endereço.

Com o carimbo em nossos passaportes europeus ––italiano da Pati e polonês do Faraó––, pegamos nossas mochilas e saímos da área de desembarque. Ainda no saguão, o primeiro desafio: achar um ATM para sacar rupias indianas.

Um funcionário nos indicou o segundo andar, mas um militar não nos deixou passar, já que não tínhamos passagens aéreas —e nem adiantaria, pois não estava em funcionamento. Pois então. Encontramos, finalmente, um caixa eletrônico do lado de fora do prédio, e lá pedimos um Uber para o apartamento do não tão conhecido Airbnb.


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Fronteira Bangladesh-Índia

A saída do Bangladesh para a Índia foi tão tranquila quanto a entrada, uma semana antes. Mas, curiosamente, houve uma grande mudança no lado indiano.

Há muitas empresas de ônibus que operam dentro do Bangladesh, inclusive com venda on-line. Encontramos virtualmente uma com a linha Daca-Calcutá, o que seria perfeito para nosso roteiro. Diferentemente do Brasil, porém, não há rodoviária, e os veículos saem dos escritórios das agências. E, no site dessa companhia, não encontramos o endereço de partida.

Por sorte, no Google apontava que a empresa ficava perto de nosso hotel, no centro da capital. Uma coisa que a África nos ensinou, e que a Ásia confirmou, é que as informações virtuais nem sempre correspondem às do mundo real. Perguntamos nas lojas da região, e nada de alguém saber do que estávamos falando.

Assim, tivemos que dividir a viagem e pegar um ônibus até Benapole, na fronteira, para, em Petrapol, buscarmos um veículo com destino a Calcutá. No centro de Daca, havia uma grande garagem da Green Line, e foi lá mesmo que compramos a passagem de saída (1.400 takas/R$ 67,50 por pessoa) do Bangladesh.

Após esperarmos o ônibus num grande e refrigerado saguão, partimos pontualmente às 7h20 e chegamos a Benapole às 12h. Já sabíamos que havia uma taxa de saída do Bangladesh, mas a nossa informação estava bem desatualizada. Agora, em março de 2025, custou 1.060 takas (R$ 51) por pessoa —ainda bem que tinha sobrado um pouco a mais do que isso na carteira. De qualquer forma, o prédio da fronteira é cercado por algumas casas de câmbio.

Muitos militares bangladeses estão dentro do edifício, e ainda assim é difícil alguém indicar o caminho da burocracia. Um homem de roupas civis e um radinho na mão nos abordou e e nos conduziu pelos corredores. Após alguns instantes entendemos que era um oficial superior, pois nos fez sentar para preenchermos um formulário enquanto levava os passaportes para o agente carimbar.

Novo prédio de imigração do lado indiano

Com tudo certo, partimos para o lado indiano, e foi aí a primeira surpresa do dia. Quando passamos por ali, uma semana antes, fizemos todo o trâmite num prédio pequeno e antigo. Agora, resolvemos tudo numa construção faraônica, que mais lembra um ginásio, de tão amplo que é. No entanto, ainda tivemos que percorrer a antiga base para chegar lá.

O lugar estava tão novo que servimos de treinamento para um jovem funcionário. Após preenchermos um pequeno formulário —que estava empilhado numa discreta mesa ao lado da cafeteria e sem ninguém por perto para informar que era obrigatório pegar—, um oficial nos cadastrou no sistema enquanto ensinava o novato o trâmite.

Como não deve ter muito estrangeiro cruzando essa fronteira, é natural aproveitarem a oportunidade. Ainda mais que estávamos com um eVisa, documento aceito, pela primeira vez, apenas em aeroportos. Já o tínhamos estreado quando pousamos em Calcutá, vindos de Myanmar, então agora estava liberado cruzar qualquer divisa terrestre.

Nossos passaportes europeus geraram curiosidade nos funcionários, pois perguntaram como uma italiana e um polonês se conheceram. Respondemos que na faculdade, o que é verdade. Só não contamos que foi no Brasil, já que isso poderia gerar mais dúvidas ainda. Por causa das aulas ao novato, o processo demorou mais do que o comum, em torno de 30 minutos.

Ao sair do prédio da fronteira, outra surpresa: não tinha ônibus para Calcutá. Num primeiro momento, desconfiamos bastante do fato, pois chegamos assim a Petrapol na semana anterior. Perguntamos a várias pessoas e, sem entender o motivo dessa falta de veículos, apelamos ao plano B.

Fomos num tuktuk compartilhado (50 rupias/R$ 3,50 por pessoa) até Bangaon, a 6,4 km da fronteira, e, de lá, pegamos um trem (20 rupias/R$ 1,50 por pessoa) para Calcutá. Ele nos lembrou bastante dos comboios da CPTM, em São Paulo. Ainda demos sorte de viajarmos sentados pelas duas horas até o destino final.

Fronteira Nepal-Índia

Após ficarmos 11 dias caminhando pela trilha do Acampamento-base do Everest, pretendíamos voltar do Nepal à Índia, no fim de março, pela mesma fronteira por onde entramos na metade do mês, Raxaul/Birjung, mas a oferta de transporte nos fez alterar o destino, e cruzamos a divisa por Sonauli/Belahiya. Desse modo, encaramos a burocracia entre nações nas únicas duas bordas em que estrangeiros podem passar.

Em Katmandu, a capital nepalesa, nos disseram que os Tata Sumo —4×4 compartilhados muito usados pelo país— para Birjung saíam da rodoviária New Bus Park. Lá, porém, avisaram que o ponto de partida era em outro lugar, mas, se quiséssemos, poderíamos ir para Belahiya, a outra fronteira.

Tivemos que avaliar as opções rapidamente e, entre ir ao novo endereço em busca de um transporte ou garantir já os assentos e partir o quanto antes, ficamos ali. Não foi a decisão mais acertada.

Em vez de um Tata Sumo, embarcamos numa van (रु 1.250/R$ 57,50) que não demorou para encher e sair, às 9h10. Assim como na chegada ao Nepal, enfrentamos vários trechos esburacados, quando, no início da tarde, a estrada ficou com um ótimo asfalto. Crentes de que seria assim até o fim da viagem, nos frustramos quando voltamos a encarar um péssimo caminho em obras, com direito até a um engarrafamento. Em dado momento, o veículo desligava sozinho e o motorista só conseguia dar a partida quando os passageiros desciam para empurrar. Pois é.

Foram 12 horas para percorrer os 340 km de distância, e chegamos a Belahiya às 21h20. Batemos na porta de alguns hotéis e achamos um com quarto a रु 2.000 (R$ 92), e ainda tinha um restaurante dentro.

Fronteira entre Belahiya e Sonauli

Na manhã seguinte, cruzamos a fronteira. No vazio prédio nepalês, o funcionário foi ágil e não fez perguntas. Ao sairmos, cruzamos por um grupo de religiosos tailandeses. Como indianos não precisam de visto para entrar no país, a região é bem movimentada.

Para entrar na Índia, demos nossos dados para um militar preencher um grande caderno e, na sequência, andamos 600 m até o prédio da imigração. No caminho, vimos como Sonauli é uma cidade pujante, com muitas lojas e movimento de pessoas. Até ficamos com medo de perder o edifício do governo, mas algumas placas no meio da avenida informavam a distância restante.

Um outro grupo de tailandeses lotava o prédio, e o trâmite foi semelhante às nossas demais entradas na Índia, com o preenchimento do formulário e cadastro de digitais.

De Sonauli, pegamos um ônibus às 10h até Gorakhpur (₹ 200/R$ 14,50 por pessoa), aonde chegamos às 12h45. Depois, compramos um trem para Varanasi (Banaras, como também é chamada), por ₹ 90 (R$ 6) por pessoa.

Não nos acertamos com a passagem do comboio e pagamos por um modelo simples. Como já esperávamos havia mais de uma hora, um funcionário da estação nos orientou a embarcar em outro.

Foram 5 h apertados e vendo o senta-levanta de pessoas que estavam em poltronas vendidas a outros passageiros. Era, inclusive, o nosso caso, já que nos acomodamos onde estava vago, até os donos dos lugares chegarem. Quando nos prontificamos a sair dali, eles falaram para continuarmos e ficaram em busca de cadeira para si.

Voo entre Maldivas e Índia

Pretendíamos fazer um bate e volta do Sri Lanka para a Índia, para de lá fazer o mesmo para as Maldivas, antes de cruzarmos a fronteira terrestre com o Paquistão.

Ao pesquisar preços, no entanto, descobrimos que ficaria mais barato voar do aeroporto sri-lankês ao maldivo. O retorno ao território indiano, porém, não teria como evitar, e entramos por Bangalore (Bengaluru) para, na sequência, viajarmos para a capital, Nova Delhi.

O Aeroporto Internacional Ibrahim Nasir, em Malé, repete o procedimento de outros prédios do gênero na Ásia, do passageiro ter que apresentar o cartão de embarque e encarar um raio-x para entrar no lugar.

No check-in da IndiGo, o funcionário pediu os vistos indianos, mas não cobrou o bilhete de saída. O trâmite de imigração também foi sem sobressaltos, com nenhuma pergunta para ganhar o carimbo de saída. Assim, pudemos decolar às 15h50.

Nossa intenção, ao entrar pela última vez na Índia, era trocar os passaportes europeus pelo brasileiro, já que voltaremos a percorrer a Ásia por terra e o documento tupiniquim arranca mais sorrisos e simpatia do que o da Itália e o da Polônia.

O meu pedido de visto com o passaporte brasileiro, entretanto, foi negado —afinal de contas, eu ainda tinha um válido, segundo o governo, mas a Pati, como adicionou um sobrenome quando casou, passou incólume pelo sistema—, então tivemos que viajar com documentos desemparelhados. Fica bem mais fácil, para a gente, organizar as ideias quando estamos com nacionalidades semelhantes.

Imigração no Aeroporto Internacional Kempegowda, em Bangalore

Esse pedido negado nos deixou bem ressabiados, já que poderia ter algum aviso no sistema quando entrássemos na Índia. Ao pousarmos no Aeroporto Internacional Kempegowda, às 18h25, o agente pediu o visto impresso da Pati e perguntou se ela havia visitado o país nos últimos 90 dias, no que a resposta foi ‘sim’.

Na sequência, o oficial quis saber o motivo e as cidades e, diante da informação de que fizemos turismo em Calcutá e Varanasi, estranhou o fato de ficarmos tanto tempo em poucos lugares. Explicamos por cima que estivemos no Nepal e depois partimos para o Sri Lanka, torcendo para ele não questionar onde estavam os respectivos carimbos.

Com essa recepção aos documentos da Pati, fiquei ainda mais preocupado sobre minha situação. Muitos filmes de Hollywood, como a série protagonizada pelo personagem Jason Bourne, mostram como o sistema de imigração pode ser minucioso. Mas, por sorte, o oficial não fez perguntas e me liberou.

O voo seguinte, ainda pela IndiGo era dentro do território, então retiramos as bagagens, pegamos um shuttle para o terminal doméstico e despachamos novamente nossos pertences. Já experientes com o chato raio-x indiano, separamos todos os eletrônicos, como lanterna de cabeça e adaptadores, e ainda assim a Pati precisou explicar o que era o apetrecho que prende a câmera fotográfica à alça da mochila.

O terminal doméstico do aeroporto de Bangalore, assim como o internacional, é amplo e moderno, e a espera para o segundo voo do dia foi rápida.

A viagem para a capital começou às 21h45 e pousamos no Aeroporto Internacional Indira Gandhi à 0h35. Lá, uma situação recorrente e chata no país: para acessar o Wi-Fi do prédio, é necessário ter um chip indiano, o que atrapalha a vida do turista recém-chegado. Por sorte, estávamos com um eSim internacional da Airalo e conseguimos pedir o Uber para a hospedagem.

Aeroporto Internacional Indira Gandhi, em Nova Delhi

E aí enfrentamos a mesma dificuldade de quando chegamos a Calcutá, pois a espera pelo carro do aplicativo foi grande. Enquanto nenhum motorista aceitava a corrida, vários taxistas nos abordaram. Foram cerca de 20 minutos até alguém da Uber topar nos levar.

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