GOSTA DE LEITURA DE VIAGEM? TEMOS LIVROS SOBRE ÁFRICA+ORIENTE MÉDIO E ÁSIA+OCEANIA

Trilha para o Acampamento-base do Everest, ou EBC, foi aventura desafiadora


Caminhar 120 km em 11 dias, subindo de 2.860 metros de altitude, em Lukla, para 5.364 m, no Acampamento-base do Everest, entre subidas e descidas em diferentes tipos de terreno, não é uma tarefa fácil. Podemos dizer que enfrentamos no Nepal a aventura mais desafiadora de nossa viagem de volta ao mundo.

Para essa empreitada para o EBC (Everest Base Camp, na sigla em inglês), fomos bastante inspirados por dois casais, o @realizeomundo e o @destinodecasal. Quando o primeiro compartilhou sua experiência com a gente, vimos que era possível sonhar com a trilha, mesmo que não tenhamos o perfil de nos enfiar no meio do mato, como eles. Passamos a avaliar o trekking seriamente e uma conversa com a segunda dupla, tão urbanos como nós, nos deu mais vontade ainda de encarar o desafio.

Com o Everest em mente, passamos a organizar nosso roteiro para que estivéssemos no Nepal na primeira quinzena de março, no limiar da alta temporada do 1º semestre, de abril e maio —setembro e outubro também costumam ter bastante procura de estrangeiros. Assim, cruzamos a fronteira da Índia com o Nepal na véspera do Holi Festival, uma celebração muita famosa entre os hindus na região.

Chegamos à capital, Katmandu, e logo procuramos as agências de viagem com quem havíamos orçado preços nos dias anteriores, pelo WhatsApp. No fim, contratamos alguns serviços da Adventure Master Trek: passagens aéreas de ida e volta para Lukla, a cidade onde se costuma começar a trilha, e o guia que nos acompanharia.

As empresas na cidade oferecem vários passeios pelo Nepal e, quanto ao EBC, há pacotes fechados, com passagens, hospedagem, alimentação e taxas incluídos —há também agências de brasileiros, como a @souldetriptrips. Optamos por contratar apenas um guia para, principalmente, reservar as hospedagens e nos auxiliar caso tivéssemos algum sintoma do mal de altitude.

É possível também pedir um carregador (ou porter), que leva nas costas até 10 kg de bagagem de cada cliente, atendendo até duas pessoas. Como estamos há 2,5 anos nesse mochilão pelo mundo, avaliamos que teríamos condições de transportar nossos próprios pertences —ainda mais que viajamos para a trilha com 8,16 kg (Pati) e 11,26 kg (Faraó), bem mais leves do que os usuais 16 kg e 19 kg, respectivamente.

Além de fecharmos negócio com a agência, também aproveitamos os dias em Katmandu para comprar ou alugar roupas e equipamentos para a trilha. Mesmo que estejamos viajando com peças para o calor do Sudeste Asiático e para o frio da Rússia, não carregamos itens para até -20ºC. O bom é que há lojas oficiais de marcas famosas, na rua Tridevi Sadak, e não oficiais, na região da Thamel Marg, voltadas para quem pretende subir as montanhas nepalesas.

Com as roupas compradas e alugadas, fomos ao mercado atrás dos lanches, entre bolachas, barras de cereal e castanhas, além de lenços umedecidos, vaselina e pastilha para dor de garganta. Arrumamos as mochilas para a trilha e deixamos os demais itens no hotel, o Flying Yak Kathmandu, onde a Adventure Master Trek atua. A ideia era ficar lá ao voltar do EBC, e é comum que as hospedagens na capital guardem os pertences dos trilheiros.

Dia 1

Há dois aeroportos de onde partem aviões a Lukla: em Katmandu e em Ramechhap, a 130 km e cerca de 5 horas de carro. Nos informaram que o governo costuma limitar os voos entre a capital e o EBC na alta temporada, já que o fluxo de voos para lá aumenta, assim como os trechos internacionais.

Ao comprar as passagens de ida e volta, optamos pela primeira partir de Katmandu, para chegarmos de táxi em cerca de 30 minutos, e a segunda com destino a Ramechhap, já que era mais barata. Os valores de toda a trilha estão detalhados aqui.

Nosso voo atrasou duas horas e, em vez de decolarmos às 9h30, saímos às 11h40. Viajamos num minúsculo avião com apenas 17 vagas por 20 minutos, num voo que testou nossos limites de medo. A Pati, que desenvolveu um temor por voar na última década, estava apavorada. Em meio a algumas lágrimas e sacolejos, aterrissamos em Lukla, um dos aeroportos mais perigosos do mundo. A pista, por exemplo, é muito pequena e inclinada para ajudar a diminuir a velocidade de quem pousa.

Assim que pousamos, encontramos Jit, o guia que nos acompanharia pelos próximos dias, e almoçamos, já que o café da manhã tinha sido antes das 7h30, quando partimos para o aeroporto. O 1º dia do trekking já nos apresentou o que viria pela frente: descida e subida em um terreno irregular. Por 2h58min, o fôlego foi colocado à prova e percorremos 7,68 km entre Lukla (2.860 m) e Phakding (2.610 m).

No destino, entendemos a dinâmica de alimentação e hospedagens da trilha. Os hotéis em que ficamos costumam cobrar Rs 1.000 (R$ 44) por quarto com duas camas de solteiro, e o banheiro e o chuveiro —cobrado à parte— são compartilhados. O valor é relativamente baixo, e eles ganham na comida, já que o hóspede janta e toma café da manhã ali. Se comer fora, a diária aumenta —vimos lugares cobrando Rs 3.500 (R$ 153,50).

Dia 2

Se na véspera o caminho foi relativamente tranquilo, agora o corpo sofreu. Andamos 11,39 km em 7h19min até Namche Bazaar (3.440 m), e esses quase 800 metros de altitude que subimos nos exigiram bastante. O morro logo antes de chegar à cidade nos deixou extenuados, e a geografia ali não ajuda, pois foram muitos degraus até o hotel.

Pelo menos, durante o dia, passamos pela Hillary Bridge, um dos símbolos da trilha do Acampamento-base do Everest. Ela homenageia o neozelandês sir Edmund Hillary, que, ao lado do nepalês Tenzing Norgay, foram os primeiros humanos de que se tem registro a chegarem ao topo da maior montanha do mundo (8.848 m), em 1953.

Dia 3

Na primeira aclimatação da trilha, deixamos nossas mochilas no hotel em Namche Bazaar e fomos ao Museu do Sherpa, dedicado a Tenzing Norgay, o herói nepalês, e à região, pois apresenta a fauna e a geografia nacional.

Na sequência, caminhamos em direção ao Everest View Hotel (3.962 m), onde bebemos um inflacionado café de frente à maior montanha do mundo. Infelizmente, o tempo estava encoberto e vimos apenas contornos. Ao todo, andamos 5,91 km em 4h40min. 

No hotel onde nos hospedamos, aproveitamos para lavar a cabeça no terceiro e último banho por alguns dias. Nos recomendaram evitar duchas de água quente a partir dos 4.000 m de altura, já que a pressão da altitude, aliada ao esforço do corpo para aquecer o corpo em um ambiente frio —é comum que os chuveiros fiquem do lado de fora do prédio—, podem fazer a sua imunidade baixar e facilitar o surgimento de algum sintoma do mal de altitude. Pelo sim, pelo não, passamos a nos limpar com lenços umedecidos.

Dia 4

Retomamos a trilha e tivemos a primeira visão clara do Monte Everest. Diferentemente do Monte Fuji, no Japão, que se destaca em meio a uma grande planície, o protagonista nepalês é cercado por outras montanhas. A perspectiva e a distância dão a impressão de que os vizinhos são maiores. De qualquer forma, lá está o majestoso ponto mais alto do mundo.

Avisados por Jit, sabíamos que passaríamos por alguns vilarejos até o almoço, assim como encararíamos uma forte descida no meio de uma floresta. O problema era a sequência: um grande morro a céu aberto, sem paradas. Por isso comemos no fim da manhã e, de sobremesa, ganhamos uma sofrida subida até Tengboche (3.867 m).

Um pouco antes de chegarmos lá, tomamos um susto, pois o guia avisou que não tinha mais vaga na hospedagem e teríamos que seguir até o vilarejo seguinte, cerca de 1 km depois. A falta de fôlego para subir a montanha fez bater um leve desespero ao pensar que o trajeto seria maior ainda.

No fim, em Tengboche, Jit foi ao hotel e descobriu que ainda tinha quarto livre. Assim, o trajeto do dia de 9,64 km foi percorrido em 7h19min. Lá fica um mosteiro enorme, mas o momento de oração dos religiosos já tinha acabado quando o Faraó visitou o lugar.

Dia 5

Para a nossa alegria, após um dia pesado de caminhada, tivemos um trajeto mais tranquilo, mesmo que tenhamos percorrido uma distância maior, de 10,75 km, em 6h22min até Dingboche (4.410 m). O dia já começou com uma descida para a saída de Tengboche, seguida de um caminho com uma subida lenta e gradual.

Para chegar ao local do almoço, há um trecho mais inclinado, mas pelo menos foi o único. Por outro lado, a altitude começou a demonstrar seus efeitos, dificultando a respiração mesmo em trechos mais planos e qualquer subidinha começava a se tornar mais difícil.

Dia 6

Na segunda aclimatação da trilha, enfrentamos o maior desafio de todos: chegar ao topo do Pico Nagarjuna (5.100 m). Era a primeira vez que atingiríamos a marca dos 5.000 m, algo fundamental quando o objetivo do trekking é chegar aos 5.364 m do Acampamento-base do Everest.

Já no início a empreitada se mostrou exigente, e a subida foi constante, lenta e gradual, pois parávamos a cada 10 passos, se muito, para recuperar o fôlego. Foram vários os momentos em que avaliamos desistir, porém sabíamos da importância de alcançar os 5.000 m: o corpo precisa se adaptar à altitude, o que facilita —ou dificulta menos— os próximos dias de trilha. Para mostrar quão desafiador foi o dia, andamos 4,8 km em 7h14min.

Dia 7

De Dingboche, rumamos para Lobuche (4.940 m), num trajeto bem mais tranquilo que o da véspera, já que, desta vez, percorremos um bom trecho numa grande pradaria. O vento, entretanto, estava tão forte quanto no dia anterior. Toda a paisagem pela qual passamos, do início ao fim da trilha, é estonteante. Nesse dia, andamos 8,46 km em 6h9min.

Mas nem tudo é altiplano, e enfrentamos uma grande subida depois do almoço. No topo está um memorial a alpinistas que perderam a vida na tentativa de escalar o Everest.

Entre as homenagens recentes e antigas, há uma que se destaca: Scott Fischer. Ele e outras 11 pessoas morreram na grande tragédia de 1996, quando uma tempestade pegou de surpresa algumas expedições que tentavam alcançar o topo do mundo. A história desse momento é contada em detalhes no livro “No Ar Rarefeito”, de Jon Krakauer —o mesmo autor de “Na Natureza Selvagem”—, e no filme baseado nessa obra, “Everest”, de 2015.

Dia 8

Acordamos com neve e temperaturas baixas, um alento para quem estava suando em bicas nos primeiros dias. E ainda bem que estava frio, pois a subida até Gorakshep (5.164 m) foi extremamente extenuante. Até o Faraó, que menos sofreu na questão de fôlego, precisou parar constantemente para recuperar o ar. Esse desafio nos fez alterar os planos do dia.

O roteiro comum é que, nesse dia, se visite o Acampamento-base do Everest e, na manhã seguinte, o Kala Patthar (5.644 m), de onde é possível contemplar as montanhas do entorno. Raj, o proprietário da agência que contratamos, sugeriu fazer o oposto, pois o entardecer no segundo ponto e o amanhecer no primeiro proporcionam belos cenários.

A falta de ar para chegar a Gorakshep nos motivou a tentar alcançar o EBC após o almoço e abdicar de Kala Pattar. A vida é feita de escolhas e sabíamos que o caminho até lá seria desafiador. Assim, mal comemos e já tomamos o rumo do ponto mais alto do mundo. Saímos do vilarejo com um céu lindo e tiramos algumas fotos no trajeto, mas, ao chegarmos ao destino, vimos uma grande nuvem se aproximando e fechando o tempo.

O sentimento de chegar ao Acampamento-base, no oitavo dia de uma trilha pesada, é indescritível. Em muitos momentos a Pati achou que não conseguiria terminar a empreitada, mas o Faraó, um otimista inveterado, nunca duvidou dos dois.

Assim que o tempo realmente fechou, voltamos ao vilarejo e caminhamos um bom trecho contra a neve. Ao todo, andamos 10,63 km, entre chegar a Gorakshep e ir e voltar do EBC, num total de 7h46min.

Dia 9

Tudo que vai, volta, e na manhã seguinte tomamos o rumo de Lukla. Percorremos uns 2 km com neve no chão e, por causa do céu nublado, percebemos que não conseguiríamos avistar as montanhas ao amanhecer. Foi uma sábia decisão termos ido ao EBC na véspera.

O início foi bem pesado, com muito sobe e desce entre pedras grandes, mas depois o trajeto ficou mais tranquilo para nós. Em vez de dormirmos em Dingboche, passamos a noite em Pheriche (4.371 m), um vilarejo bem perto de lá. Foram 12,14 km em 5h34min, no que seria o dia mais leve do retorno.

Dia 10

Se levamos seis dias para subir (além de outros dois voltados à aclimatação), foram três para descer. Ou seja, o caminho de volta para Lukla foi bem pesado. Chegamos a Namche Bazaar após 19,49 km, percorridos em 8h34min. 

Infelizmente, não podemos dizer que “para baixo todo santo ajuda”, pois encontramos tantas subidas quanto descidas. Pelo menos pudemos voltar a tomar banho, algo pelo qual ansiávamos fortemente.

Dia 11

Talvez por ser o último trecho da trilha, ou pelo fato de que já estávamos caminhando por 10 dias, mas esse trajeto foi bem exigente. Por pouco perdeu em quilometragem e esforço para a véspera: andamos 18,28 km em 8h26min. Foi um quilômetro a menos em um tempo semelhante.

A derradeira subida, antes de Lukla, nos fez tirar esforço e vontade de sabe-se lá onde, porque foi desafiadora. Mas finalmente conseguimos chegar e descansar o corpo, ainda mais sabendo que não precisaríamos caminhar no dia seguinte. Aproveitamos para lavar a cabeça novamente (na primeira suíte) e comer carne, algo que não fazíamos desde o início da trilha. 

O consumo de proteína animal não é recomendado, pois o mais perto que se alcança de carro é Salleri e, a partir dali, só se transporta itens nas costas de porters ou animais (mulas, iaques e suas cruzas com bois ou vacas). Desse modo, a carne pode levar dias até os vilarejos mais altos. Com receio de como a comida é transportada, preferimos não arriscar e concentrar nossa alimentação em arroz, macarrão ou momo (a variável nepalesa do dumpling) com vegetais, além de sopa de alho.

Dia 12

Se passamos 11 dias caminhando alguns quilômetros por dia, na viagem de Lukla a Katmandu foram várias horas sentados. O começo do trajeto até que foi fácil, pois pegamos um voo de cerca de 25 minutos. E, assim como no pouso, na decolagem a emoção foi forte. A pista inclinada que ajuda a diminuir a velocidade do avião também faz ficar mais rápido para partir.

Aterrissamos em Ramechhap (1.218 m), onde buscamos um transporte para a capital. Motoristas de vans abordam no portão os recém-chegados e é preciso prestar atenção no fluxo dos passageiros, já que o veículo deixa o local quando fica cheio, no mesmo sistema adotado nas viagens na África

Acertamos com um sujeito por Rs 2.000 (R$ 87,50) por pessoa e, quando vimos, éramos só nós dois na van. Após um tempo, ele entrou em acordo com outro motorista e fomos transferidos de veículo. Felizmente, foram necessários apenas quatro passageiros para que iniciássemos a viagem —outros subiram pelo caminho. 

Percorremos os 130 km em 5h30min, numa estrada cheia de curvas e com poeirentos trechos em obras. Em Lukla, a empresa aérea até nos ofereceu mudar de destino, num acréscimo de US$ 38 (R$ 223) por pessoa —a passagem para Katmandu custou US$ 217 (R$ 1.274,50) e para Ramechhap, US$ 183 (R$ 1.075)—, mas não achamos que a taxa a mais valeria a pena. Afinal de contas, “não tínhamos compromisso”, um mantra repetido na trilha diariamente pelo Faraó para quando nos pressionávamos para andar mais rápido.

O que fazer em Katmandu

Na volta da trilha, nós só queríamos descansar —e também precisávamos colocar a produção de conteúdo em dia. Isso significa, infelizmente, que pouco desbravamos Katmandu. Mas separamos uma seleção do que há para fazer por lá.

Na região da Thamel Marg, além das muitas lojas de roupas que já falamos, há variadas opções de restaurantes, cafés e bares. Os menus incluem desde culinária nepalesa até pizza, hambúrguer, comida indiana e árabe.

Outra atração da capital são os templos. Os mais conhecidos são o Pashupatinath e o Swayambhunath, conhecido pelos macacos que circulam por lá —é bom, porém, evitar levar comida na bolsa para não ser roubado por eles. Por fim, a praça Durbar e o Museu Nacional completam a lista de pontos turísticos.

Para nós, porém, o melhor do país estão nas montanhas —seja o Everest ou as tantas outras por lá espalhadas.

Você conhece nossos livros?

Aventuras Sem Chaves – Parte 1

Uma jornada de 14,5 meses por 43 países de África e Oriente Médio contada em relatos e crônicas recheados de dicas e informações

456 páginas | lançado em mar.24 | Editora Comala | 1ª ed.

Aventuras Sem Chaves – Parte 2

A segunda etapa de uma volta ao mundo, passando por 34 países de Ásia e Oceania em 15,5 meses, ilustrada em belas imagens

436 páginas | lançado em dez.25 | Sem chaves | 1ª ed.


Dicas Sem chaves

Já pensou em receber dicas fresquinhas na sua caixa de e-mail toda semana? Inscreva-se na nossa newsletter e conte com informações de quem já viajou por mais de 70 países por África, Ásia e Oceania, além de outros 30 entre Europa e América! Por menos de R$ 3 por semana, receba um conteúdo informativo, participe de uma live mensal exclusiva e ainda ganhe desconto nos nossos produtos e serviços!


Deixe um comentário