O Uzbequistão vem ganhando cada vez mais a atenção dos viajantes —inclusive constou em algumas dessas listas de redes sociais sobre destinos que estariam em voga em 2025.
Depois de passar 10 dias por lá, descobrimos o porquê. A culinária é uma delícia (ainda que isso possa ser subjetivo), há cidades históricas com uma boa quantidade de atrações bem preservadas —os tons de azul são belos e variados—, é fácil se locomover de trem e os preços são convidativos. Para nós, tem a ainda o bônus de ser fácil encontrar cafés com Wi-Fi.
Informações práticas*:
- Média hospedagem: so’m 302,5 mil (R$ 135)
- Média almoço: so’m 155 mil (R$ 70)
- Média jantar: so’m 30 mil (R$ 13,50)
- Visto: brasileiros não precisam de visto
- Moeda: so’m (R$ 1 = so’m 2.190)
- Dica: Há uma boa malha ferroviária cortando o leste do país, e as passagens se esgotam rapidamente. Caso você pretenda viajar de trem, se organize para comprar o bilhete o quanto antes. O bom é que o site é intuitivo e aceita cartões internacionais.
* valores para maio de 2025 para duas pessoas
Passamos por três cidades no país, onde vimos como os diferentes impérios influenciaram sua história e formação. O desenvolvimento dos centros urbanos se aprofundou com a Rota da Seda, por onde passava o comércio entre o Oriente e o Ocidente.
O que conhecemos como Uzbequistão hoje já esteve sob o domínio dos turcos (a região, inclusive, era chamada de Turquistão), esteve no caminho das conquistas islâmicas, que levou a religião hoje seguida por 95% da população, fez parte dos impérios Mongol e Timúrida e já foi dividido em canatos, espécie de reinados.
Isso tudo antes de o Império Russo anexar o território no século 19 e depois transformá-lo em república soviética no século 20. Como falamos, há bastante atração turística e histórica para se explorar no Uzbequistão.
Samarkanda
Ainda sem saber muito sobre o que visitar no país, pretendíamos ir direto de trem da capital do Tajiquistão, Dushambe, para a do Uzbequistão, Tashkent. Ainda bem que só havia uma opção por semana, que não batia com a nossa agenda, e isso nos forçou a pesquisar a melhor rota. Descobrimos, então, que Samarkanda era um dos principais destinos uzbeques e que estava no nosso caminho.
Uma das cidades mais antigas continuamente habitadas na Ásia Central, a antiga capital do Império Timúrida (1370-1507) se desenvolveu em grande parte por sua localização na Rota da Seda —assim como a maioria dos centros urbanos da região.
Da época de Timur, também chamado de Tamerlão, ficou o Reguistão, que era o coração da cidade. O complexo inclui três madrassas, escolas voltadas para o ensino do Corão, mas que também cumpriam a função de universidades, com aulas de lógica, matemática e astronomia, por exemplo.














Um dos grandes destaques dessa época foi Mirzo Ulugbek, que dá nome a uma das madrassas do local, erguida de 1417 a 1420. Astrônomo e matemático, incentivou a proliferação do ensino na região. As outras duas construções são mais recentes e datam do século 17, pois substituíram outros prédios do complexo.
Do Reguistão sai uma rua exclusiva para pedestres que leva a outros grandes marcos da cidade, além de reunir um bom número de cafés, restaurantes e lojinhas de suvenir —um refresco para o calor de 40ºC que enfrentamos em maio. Já em frente ao complexo há uma estátua de Islam Karimov, que comandou o país de 1991, após o colapso da União Soviética, até sua morte, em 2016 (a Ásia Central não é muito fã da troca de governantes).
Pelo caminho estão ainda o mausoléu e a mesquita Bibi Khanym, construídos em homenagem à esposa de Tamerlão, Saray Mulk Khanym, e o bazar Siyob e suas variadas frutas secas, verduras e artesanatos. No fim da rua fica a necrópole Shah-i-Zinda e seus mausoléus construídos do século 11 ao 15 —dizem até que o primo de Maomé está enterrado lá.
Outra celebridade que encontrou seu descanso em Samarkanda é o próprio Tamerlão. Segundo uma lenda envolvendo o conquistador, na última vez em que tentaram abrir o seu túmulo, os alemães invadiram a União Soviética dois dias depois. Acabamos pulando esse passeio, mas, com tanta tensão atualmente, jamais arriscaríamos.






















Bukhara
Depois de mergulhar na época do Império Timúrida em Samarkanda, embarcamos num confortável trem até Bukhara, em uma viagem de cerca de duas horas e meia (so’m 153 mil/R$ 67,50). Há uma opção mais rápida, mas já estava esgotada.
Assim como Samarkanda, Bukhara teve seu desenvolvimento ligado à época de Tamerlão e à Rota da Seda. Foi ainda epicentro da cultura persa —Rudaki, pai da poesia persa, nasceu e cresceu na cidade.
Outra similaridade é ter sido um dos canatos do Turquistão, de quando datam algumas de suas principais construções, como a mesquita Magoki Attori, na região de Lyabi Khause, uma agradável praça com um lago artificial, e o minarete Kalon.











O minarete, aliás, também é chamado de Torre da Morte, por ser o local de execução de criminosos, de onde eram atirados. Ironia é ele estar em um complexo que inclui uma madrassa e uma mesquita de mesmo nome. Com 288 domos sustentados por 208 colunas, o enorme templo tem capacidade para 12 mil pessoas. Tanta grandiosidade levou tempo para ser construída: começou no século 11, mas foi terminar só no 16.
O passeio por Bukhara incluiu ainda as madrassas Chor Minor (que, comparada com as do Reguistão, é bem sem graça), Ulugbek (que data do século 15) e Abdulaziz Khan (nome do cã de Bukhara, construída no século 17), e o bazar Toki Zargaron, erguido no século 16 e cujo nome pode ser traduzido como Domo dos Joalheiros.
Já no fim da cidade antiga está a citadela Ark de Bukhara, um forte anterior a toda essa história, erguido no século 5. Na mesma região fica ainda a mesquita Bolo Haouz, finalizada no século 18, com uma agradável praça na frente. Caso queira garantir uma vista do alto para observar toda essa história, é possível subir na na Torre de Bukhara (o que acabamos não fazendo).
Esse grande passeio pode ser feito tranquilamente a pé, mas há carrinhos de golfe circulando por lá, o que facilita e agiliza o tour. Nós optamos por gastar nossos sapatos e tiramos um dia para ficarmos mais tranquilos aproveitando o café, a cerveja e a boa comida do Coffee House. Afinal, tínhamos um trem noturno (so’m 242 mil/R$ 106,50) para embarcar em direção à capital, Tashkent.







Tashkent
Se a história de séculos atrás norteou nossos dias no interior uzbeque, na maior cidade do país, com quase 3 milhões de habitantes, nos dedicamos ao passado mais recente, da União Soviética.
Lá, visitamos o Museu das Vítimas da Repressão Política (so’m 22,5 mil/R$ 11,50), um prédio não muito grande com várias fotografias sobre as agruras sofridas pelo povo uzbeque, com destaque para o período em que o território foi controlado por Josef Stalin e seus sucessores. Infelizmente, não havia informações em inglês, apenas em russo —uma ironia fina, dado o nome do lugar, não?




O prédio e o Memorial das Vítimas da Repressão, um monumento a poucos metros dali, estão dentro do parque Alleya Pamyati, uma área bastante arborizada e cortada pelo canal Akkurgan. Um refresco para dias quentes.
Uma herança desse período pode ser observada nas estações de metrô da capital. Assim como as de Moscou, muitas delas são ornadas com diferentes temas, de esportistas a combatentes. Não chegam a ser tão grandiosas como as da principal cidade russa, mas valem muito a visita. O bom de ser um meio de transporte é que você pode saltar de um vagão, observar o entorno e embarcar no próximo trem, tudo com o mesmo bilhete, pago com cartão na catraca.








Tashkent, obviamente, não é só história. Há várias cafeterias e restaurantes a preços convidativos. Também passeamos por muitas ruas arborizadas, e algumas outras que era puro asfalto, nos lembrando as de São Paulo. Uma região, porém, que nos agradou bastante foi a da rua Saligokh. Andamos por ali na hora do almoço, em meio a muitos quiosques de fast food, sorvete e jogos, como de arco e flecha.
Os inúmeros varais com lâmpadas nessa região dão sinal de que o lugar deve bombar mesmo é a partir do fim de tarde, quando o dia está mais fresco. Como concentramos nossos passeios de manhã, ficamos cansados e com preguiça de continuarmos fora de casa até de noite, quando a vida costuma acontecer em países muçulmanos —e em outros também, vide o Brasil e a Europa. Pelo menos fica a vontade de voltarmos ao Uzbequistão para observarmos de perto como a população local aproveita o espaço público.





















Deixe um comentário