O Azerbaijão e a Armênia mantêm uma relação tensa há décadas e isso influencia, entre outras coisas, na fronteira fechada entre eles. Por isso, ao viajar pelo Cáucaso, é necessário pensar muito bem na rota, e o melhor jeito é colocar no meio do caminho a neutra Geórgia.
Assim, após alguns dias em solo azerbaijano e de uma aventura que teve até carro alugado pelo interior georgiano, pegamos um trem para chegarmos ao solo armênio.
O comboio da юкжд (IOKJD) parte a cada dois dias, às 22h45, e leva de Tbilisi a Ierevan, as capitais da Geórgia e da Armênia, respectivamente. Pode-se comprar as passagens pela internet (֏ 18.435/R$ 274,50) e os tíquetes eletrônicos são aceitos pelos funcionários da companhia.
O complexo da estação de trem de Tbilisi é grande e, de certa maneira, desapontador. Há várias lojas de roupas, amplas e bem iluminadas, nos primeiros andares, mas, ao chegar ao saguão, encontramos quiosques fechados e a sensação de que nenhum trem aparecerá ali.
A sinalização para a plataforma não é clara, e ficamos um bom tempo no lugar errado, à espera do trem que vem de Batumi, na costa do mar Negro, antes de seguir viagem para o país vizinho. Por sorte ele ficou cerca de uma hora na estação e eu, encucado com a demora, fui perguntar aos funcionários.
Assim como nos trens da Transmongoliana, rota que liga Rússia, Mongólia e China e pela qual viajamos em março e abril de 2024, neste caucasiano há diferentes vagões e optamos pela cabine com dois beliches. Com a gente, estavam um japonês e um armênio, mas este acabou mudando de lugar antes de partirmos.
Cada vagão conta com dois funcionários, e a ferromoça mais experiente do nosso, uma senhora muito simpática, não falava nada de inglês. Como eu estava relembrando minhas antigas aulas de russo, de anos atrás, para nossa viagem pela Ásia Central, em maio e junho, consegui me comunicar com a mulher.
Além de ganharmos as roupas de cama —lençol, fronha, capa de cobertor e toalha de rosto—, recebemos uma sacola com kit de higiene (escova e pasta de dente, lenço umedecido, chinelo descartável e pente), água, copo com chá e café solúvel e sanduíche, que deixamos para o café da manhã do dia seguinte.
Fronteira Geórgia-Armênia
Deixamos Tbilisi às 22h40 e à 0h35 chegamos à fronteira entre Geórgia e Armênia. Para evitar confusão, o controle de passaporte foi feito por vagão. Três oficiais georgianos trabalhavam numa espécie de contêiner e o que me atendeu perguntou, em inglês, se brasileiro precisava de visto para o território armênio, ao que respondi que somos isentos. Em segundos ele carimbou o passaporte e pronto.
Voltamos ao vagão e o trem partiu à 1h37, para parar no lado armênio às 2h. Desta vez, porém, os oficiais entraram no trem. Contei pelo menos seis agentes, em duplas, e, enquanto um manejava uma máquina portátil para digitalizar os documentos, o outro conferia os passaportes e fazia perguntas.
Quando o sujeito viu meus carimbos do Azerbaijão, comentou com o outro e me perguntou o motivo de visitar a Armênia. Quando respondi que era a turismo, questionou o destino. Falei que ficaríamos apenas na capital, Ierevan, e ele quis saber o endereço do hotel, o que forneci na sequência.
Percebi que o funcionário que manejava a máquina digitalizou, além das páginas com nossos dados pessoais, as que tinham os carimbos azerbaijanos. O japonês, que estava na mesma cabine que a gente, estava voltando da Geórgia para pegar um voo para casa, e nada foi perguntado a ele.
Lemos relatos de que os oficiais armênios costumam encrencar com quem passou pelo Azerbaijão e, por isso, nos preparamos para responder a muitas perguntas. No fim, foi muito tranquila essa passagem. Mas, até onde sabemos, quem faz o caminho contrário enfrenta bem mais problemas com a imigração azerbaijana.
Após uma hora de espera, seguimos viagem às 3h e chegamos às 9h ao nosso destino. A estação de trem de Ierevan é menor do que a de Tbilisi, mas, pela manhã, parecia mais animada. Ela tem ligação com o metrô e há várias lojas e lanchonetes no entorno, assim como caixas eletrônicos. Por falar nisso, foi uma saga achar um que aceitasse nosso cartão Master e, após uma boa caminhada pela região e mais de cinco tentativas, encontramos o ArmEconomBank.















Deixar mensagem para fabellucci Everton Cancelar resposta