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Norte do Marrocos tem a ‘Pérola Azul’ e Medinas para se perder


Marrocos é mais que camelos e deserto –e dá até para passar frio. O país ficou famoso no Brasil no início dos anos 2000, quando a novela “O Clone” recheou o vocabulário com “inshalá”, “muito ouro” e até mesmo influenciou a moda brasileira.

Mas assim como o Brasil não é só Rio de Janeiro e praia, há muito mais no Marrocos para se ver e vale pesquisar antes sobre o clima local para não encher sua bagagem de roupas leves (nós chegamos a pegar 6ºC no fim de novembro).


Informações práticas*:
  • Média preço almoço: 42,50 dirham (R$ 24,60)
  • Média preço jantar: 37,50 dirham (R$ 21,70)
  • Média preço de hospedagem: 300 dirham (R$ 173,50)
  • Deslocamentos: barco e ônibus
  • Visto: não é necessário para brasileiros, pois o carimbo na entrada dá direito a permanecer por 90 dias

* valores para novembro/dezembro de 2022 para duas pessoas


Chegar ao Marrocos

Antes de falarmos sobre o que vimos no país, um pouco de geopolítica –sim, isso influencia bastante o nosso roteiro. Nossa intenção de não chegar ou sair de países por via aérea caiu por terra quando soubemos que a Argélia havia fechado as fronteiras terrestres com o Marrocos. Tudo isso por causa do Saara Ocidental.

Não reconhecido pela ONU como um Estado independente, o território fica ao sul de Marrocos, que o reivindica como parte de seu país. A Frente Polisário requer a separação oficial do local, ocupado até 1975 pelos espanhóis.

Naquele ano, Madri cedeu o controle para uma administração conjunta entre Marrocos e Mauritânia, que entraram em guerra. O conflito encerrou com um cessar-fogo em 1991, segundo o qual Rabat é responsável por dois terços do território e o restante compõe a República Árabe Saaraui Democrática (RASD), conforme proclamado pela Frente Polisário e que é separada por um muro.

“Mas o que tudo isso tem a ver com a viagem de vocês?” A RASD é apoiada pela Argélia, enquanto o Marrocos defende ser dono do território, mas as fronteiras se mantinham abertas até meados de 2022. A situação mudou quando a Espanha saiu da neutralidade e passou a apoiar Rabat. Argel, em resposta, decidiu cortar relações, voos e ligações terrestres com o seu vizinho.

Isso nos forçou a sair da Argélia de avião –só depois descobrimos um barco que levava até a Espanha. Foi de lá que pegamos um ferryboat entre a cidade de Algeciras e o porto de Tânger Med por 17,50 euros (R$ 98) cada.

A entrada oficial no Marrocos (ou seja, o carimbo no nosso passaporte europeu, com o qual estávamos viajando) é feita diretamente dentro do barco e foi bem tranquila, apenas com a pergunta básica se era a primeira vez e o nome do hotel em que ficaríamos.


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Já ao pisar de fato no país tivemos um gostinho do que viria por aí. Queríamos pegar um ônibus para a cidade de Tânger, de onde iríamos para Tétouan, mas um taxista tentou nos convencer que com ele era mais barato, porque o ônibus não nos deixaria onde queríamos. Resumo: o ônibus era 7 dirham (R$ 4) e o táxi, 300 dirham (R$ 173). E paramos a uns 200 metros da estação de trem/ônibus.

Deste local, que mais parecia um shopping center –encontramos pela primeira vez em nossa viagem uma filial do McDonald’s e do Starbucks–, pegamos um ônibus (50 dirham/R$ 29) para uma viagem de 2 horas até Tétouan.

Antes, porém, tivemos nosso primeiro contato com um prato que nos acompanharia por todo o Marrocos, o tajine, um ensopado que pode ser de diferentes carnes. No caso, comemos um de kafta com ovo. Teve ainda salada de entrada e suco de laranja, tudo por 55 dirham (R$ 32).

Tétouan

Nossa intenção era nos hospedarmos dentro da Medina, assim como fizemos em outras cidades, como Tunis (Tunísia) e Constantine (Argélia). Aproveitamos para ver alguns hotéis pelo caminho, para termos uma ideia dos preços.

Dentro da Medina, infelizmente, não conseguimos encontrar o local que havíamos pesquisado pela internet e, então, voltamos a um dos prédios por onde passamos: hotel Panorama, a 300 dirham (R$ 173).

No dia seguinte, após um farto café da manhã (o primeiro de muitos que teríamos pelos hotéis marroquinos), desbravamos uma parte da cidade, que tem vários espaços verdes e com bancos, ideais para ver a vida local.

Próxima à Medina fica a igreja da Nossa Senhora das Vitórias (fechada no momento em que passamos) e a praça El Feddan, um espaço bem amplo, de onde se pode observar as casas brancas morro acima.

Na praça El Feddan é possível observar as casas brancas morro acima

A Medina de Tétouan é labiríntica, e é bem comum que alguém te aborde ou te acompanhe enquanto fala. Primeiramente, um senhor puxou conversa enquanto andávamos e, depois de vários metros, quis nos levar ao lugar onde se concentravam os coureiros. Desconfiados, saímos de perto.

Em outro momento, um segundo senhor nos abordou e, quando soube que éramos brasileiros, falou em português de seus amigos do Brasil e de Portugal. Decididos a dar mais chance aos encontros que a vida pode nos proporcionar, resolvemos prolongar o papo.

Ele, então, nos levou a sua loja, com tapetes e colchas que os artesãos de sua região produzem. Antes, o idoso nos levou ao terraço, para termos uma ampla vista da Medina. Depois, nos ofereceu chá e mostrou inúmeras peças da loja, mas não ficou nada contente por não levarmos nada –afinal de contas, não temos chaves para uma casa, certo?

Já que saímos sem um tapete, que tal visitar a loja de medicina natural? E lá fomos nós com o idoso até outra tenda. Desta vez, porém, compramos três vidros de óleo de argan (80 dirham/R$ 46).

O homem ainda começou um passeio pela Medina, mostrando o local onde se tingem tecidos –nos lembrou de “O Clone”– e um cemitério. Ressabiados de aonde mais iríamos, antecipamos nossa saída dessa parte histórica. No fim, fomos incentivados por ele a deixar uma gorjeta pela excursão.

Nosso guia informal nos levou ao local onde se tingem tecidos em Tétouan

Por ficar no norte do Marrocos, mais próxima à Europa, essa região tem forte influência espanhola –muitos comerciantes nos abordavam em espanhol, inclusive. Há várias fachadas de prédios com arquitetura semelhante a Málaga e Sevilha.

Como é muito difícil encontrar bebida alcoólica no norte da África, assistimos à vitória do Brasil em cima da Suíça, pela primeira fase da Copa do Mundo, em uma casa de chá. Pelo menos o refrigerante era gelado e o café, forte. E nossos companheiros marroquinos ainda dividiram churros com a gente.

Chefchaouen

Depois de Tétouan, nosso destino era Fès, mas decidimos fazer uma parada na “Pérola Azul” do Marrocos, a cidade de Chefchaouen (talvez você encontre como El Aiún), indicação de nossa amiga espanhola.

Em meio às montanhas no norte marroquino, a Medina de Chefchaouen tem seus prédios todos pintados de azul, o que a torna muito diferente de todas as outras pelas quais passamos.

A cor é atribuída aos refugiados judeus do século 19, mas também há informações que indicam ser um bom repelente de mosquitos além de ajudar a controlar a temperatura interior, deixando a casa mais fresca.

A Medina de Chefchaouen é conhecida por suas paredes pintadas de azul

Outro destaque positivo para o local é o fato de transitar tranquilamente sem pessoas te abordando como guia ou para comprar algo, isso apesar de haver uma boa quantidade de turistas por lá. É possível apreciar os tecidos, as roupas, as cerâmicas e os souvenires sem o approach por vezes insistente dos marroquinos.

Passamos algumas horas pela cidade, que é bem agradável, mas é uma visita de um dia, segundo nossa avaliação, talvez estendendo com uma noite por lá.

Fès

A segunda maior cidade marroquina tem uma configuração diferente do que vimos, com a parte nova e a antiga distantes alguns quilômetros, o que nos impossibilitou caminhar entre a rodoviária e a Medina. Há, porém, muitos hotéis em ambas as regiões.

Ao descermos do ônibus urbano em um ponto próximo a um estacionamento, um jovem nos abordou e disse que o caminho que havíamos escolhido –uma rua larga que margeava um grande muro por muito tempo–estava fechado. Para mostrar a “hospitalidade marroquina”, ele se dispôs nos guiar, passando por inúmeras e labirínticas vielas.

Após uns 15 minutos de caminhada ao anoitecer, com nossas mochilas nas costas, chegamos a um dos hotéis que havíamos selecionado anteriormente. Estava lotado, disse quem nos atendeu. Decidimos seguir por conta própria, mas nosso guia insistiu em nos acompanhar, aumentando mais ainda nossa irritação.

Paramos em outro hotel (fora de nossa lista), a Riad Ouliya, cuja decoração mostrava que o local estava acima do nosso orçamento. E era verdade: o quarto custava entre 400 dirham (R$ 231) e 600 dirham (R$ 347). Falamos que nosso bolso permitia pagar 300 dirham (R$ 173), e ele topou. O café da manhã sairia 50 dirham (R$ 29). Mesmo com uma negociação favorável, quisemos pesquisar mais hospedagens.

Na saída do prédio, porém, o nosso “guia” estava nos esperando. E continuou nos acompanhando, mesmo que não falássemos nosso destino. Ele só parou quando entramos numa viela, e retornamos quando outros jovens afirmaram, categoricamente, que estava fechada. Não acreditamos neles, mas não quisemos pagar para ver.

Como estava extremamente difícil nos livrar do guia, voltamos para a Riad Ouliya e lá ficamos. Para quem não sabe, uma riad é uma casa ou palácio de vários andares com um pátio interno, ladeado pelos quartos. O local também funciona como restaurante, mas os preços estavam bem acima do nosso orçamento. Depois de algumas horas da nossa chegada, resolvemos arriscar sair do prédio para jantar, já crentes que o guia teria ido embora.

As riads têm um pátio interno ladeado pelos quartos

Na manhã seguinte, resolvemos continuar com a pesquisa de hotéis, porque sabíamos que poderíamos encontrar algo mais barato. E deu certo, pois achamos o Moroccan Dream Hostel, com quarto e banheiro por 200 dirham (R$ 109). O prédio é também casa do dono, que o comprou há três anos e o reforma desde então.

Os gerentes das duas hospedagens nos disseram que muitas pessoas abordam os turistas e se apresentam como guias, para depois cobrar dinheiro tanto do visitante quanto do hotel, restaurante ou loja para onde ele levou a vítima. A prática é proibida no Marrocos e gera até prisão. Por isso os falsos guias fazem o estrangeiro sair das ruas grandes, onde há câmeras, para andar nas vielas, sem vigilância. Isso minou nossa vontade de interação com os locais, já que sempre achávamos que havia um golpe.

Devidamente/novamente hospedados, encaramos o desafio de andar pela Medina, que, segundo a Unesco, é uma das maiores do mundo árabe. Temos o costume de passear com o Google Maps offline, mas ele estava tão perdido quanto nós em Fès. Após descobrirmos que alguns caminhos levavam a ruas sem saída, passamos a andar apenas pelos souks, bazares com várias tendas.

Com essa estratégia em mente, achamos uma loja onde reservamos nossa expedição para o deserto do Saara (em breve aqui) e um pequeno restaurante cheio de marroquinos, com cuscuz a 30 dirham (R$ 16), o menor preço até agora.

Infelizmente, por causa do medo constante do golpe e das vielas labirínticas, aproveitamos muito pouco a Medina. Pelo menos teve, no hostel, interação com franceses enquanto assistimos a trechos dos jogos entre Polônia e Argentina e Argentina e Arábia Saudita.

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Uma resposta para “Norte do Marrocos tem a ‘Pérola Azul’ e Medinas para se perder”.

  1. Avatar de Nina Rosa Lima Medeiros
    Nina Rosa Lima Medeiros

    Que experiência maravilhosa vocês estão tendo e eu também. Sigam com a proteção de Deus.

    Curtido por 1 pessoa

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