Cairo abriga as mais famosas atrações turísticas do Egito —as pirâmides de Gizé e a esfinge—, mas o sul do país também tem muita história para encantar o viajante. Afinal de contas, com o tanto de faraós que governaram o território, era preciso espalhar seus sarcófagos, tesouros e hieróglifos por aí, não?
Após passar alguns dias na capital, entre pirâmides —tanto as 3 mais famosas quanto as primeiras a serem erguidas— e museus, viajamos de avião até Assuan. Todos os passeios e hospedagens estavam inclusas no pacote da Memphis Tour, que contratamos para nosso período no Egito ao lado dos pais e do irmão da Pati.
Transposição de templos em Assuan
A cidade em si oferece, além de uma agradável orla à beira do rio Nilo, ao menos dois passeios históricos interessantes, que fizemos em uma tarde. Começamos pelo obelisco inacabado, sobre o qual nada se sabe. A obra em uma pedreira de granito vermelho, no entanto, ajudou a entender como eram feitos esses gigantes de uma peça só.
Eles são cortados com fogo e água, para dar o choque térmico que irá explodir a pedra. Depois, com um outro tipo de rocha, se faz o seu contorno e acabamento. Uma rachadura no meio do obelisco, porém, estragou a peça, que nem chegou a ter inscrições para identificar para qual faraó ou em que época foi feita.

Na sequência, partimos para a barragem de Assuan, construída na década de 1970 em colaboração com russos e americanos. A obra evita as enchentes do Nilo em Cairo e garante agricultura o ano inteiro —algo de extrema importância em um país desértico.
Por fim, terminamos o dia na ilha Angelica, onde visitamos o templo de Philae. O complexo helênico —com características gregas e egípcias— na verdade ficava na ilha de Philae, mas a construção da barragem deixaria o local quase todo submerso, então ele foi levado para onde está hoje.




No dia seguinte, saímos de Assuan e rumamos de carro até Abu Simbel, próximo à fronteira com o Sudão. Foram cerca de 4 horas de estrada, e por isso precisamos partir às 4h para termos tempo de aproveitar o espaço, sem torrar num sol escaldante, e ainda voltar para o almoço.
Mas o que guarda Abu Simbel, para madrugar e adentrar o deserto por tanto tempo? Dois grandes templos, construídos no século 13 AEC para Ramsés 2º e sua esposa preferida, Nefertari.
O mais surpreendente é que os imensos prédios foram transferidos morro acima nos anos 1970, pois o local original ficou submerso após a construção de uma represa e o lago Nasser ser formado —ele é um dos maiores exemplares artificiais do mundo.
Enormes estátuas guardam os dois templos e, na frente do prédio dedicado a Nefertari, há 4 reproduções de Ramsés 2º e apenas 2 representações da esposa do faraó. No prédio dele, há outras 4 estátuas com seu semblante do lado de fora.


De volta a Assuan, entramos num cruzeiro para navegar pelo rio Nilo. Como a foz fica ao norte, subimos o país em direção a Luxor —na verdade, descemos, já que o rio corre para o norte, região chamada de Baixo Egito. O requintado barco, além de ter 2 banheiros e 1 sala no quarto, ainda oferecia piscina e grande bufê durante as refeições.
No percurso, paramos em dois momentos. No primeiro, em Kom Ombo, visitamos um templo dedicado aos deuses Horus (falcão) e Sobek (crocodilo). No antigo hospício, os pacientes passavam por tratamento de choque, pois tinham que conviver com crocodilos. Hoje em dia, vemos apenas múmias desses animais.
Depois do almoço, a parada foi em Edfu, onde havia outro templo para Horus, construído pelo pai de Cleópatra no século 1º AEC. Como todas as demais obras daqueles tempos, esta também é gigantesca.






As muitas tumbas de Luxor
Em Luxor, uma das cidades mais conhecidas pelos brasileiros, há diversas atrações históricas. Do lado oeste, onde o sol se põe, ficam os passeios ligados aos mortos. É nesta margem que está localizado o deslumbrante Vale dos Reis, onde é possível visitar a tumba de vários faraós.
Eles escolheram esse lugar porque as pirâmides, enormes que são, chamavam muito a atenção de saqueadores. Assim, ali poderiam deixar seus restos mortais escondidos e ainda aproveitar a geografia local, que lembra uma série de pirâmides.
A vida, porém, não é fácil nem mesmo para os faraós, e grande parte das tumbas foi saqueada com o passar do tempo. A única que conseguiu passar incólume aos roubos foi a de Tutancâmon, já que sua entrada permaneceu soterrada por muitos anos.








Visitamos 5 das tumbas: a de Tutancâmon, onde está a múmia do faraó adolescente, que ficou no poder por uma década e pouco fez, e de 4 Ramsés: o 1º, o 4º, o 6º e o 9º. A nossa alegria é ter um amigo que se chama Aramis 2º, pois estamos diante do início de uma dinastia!
E, entre tantos túmulos de parentes, é claro que traríamos fofoca de família. Os faraós se casavam com várias esposas e, naturalmente, tinham uma vasta prole. Ramsés 3º ficou sabendo que um de seus filhos queria matá-lo e, antecipando o golpe, assassinou o rebento. A mãe dele, por vingança, realizou o plano e deu fim à vida do faraó. Sem surpreender ninguém, Ramsés 4º, ao assumir o trono, eliminou a madrasta. Detalhe: mãe e filho foram sacrificados com óleo quente, enquanto o soberano foi envenenado.
A visita seguinte foi ao grandioso templo de Hatshepsut. E aqui vai outra história: descendente natural do faraó Thutmos 1º, ela não poderia governar o Egito, uma sociedade patriarcal. Assim, se casou com o meio-irmão e ambos comandaram o país. Quando ele morreu, ela se tornou regente enquanto seu enteado era menor de idade. Hatshepsut acabou assumindo como faraó, tendo que usar roupas masculinas e molhar a mão de sacerdotes para que a aceitassem na função.



Luxor guarda ainda outros marcos históricos, estes do lado leste, para os vivos, como o templo de Karnak, um grande complexo construído entre 1.800 e 400 AEC. A parte mais antiga é a interna, o santuário. Pode-se ver que tantos séculos de trabalho resultaram em imensas e inúmeras colunas, várias esfinges e muitos desenhos nas paredes representando a vida dos deuses e dos faraós.
Na cidade também há o templo de Luxor, onde foram erguidos 2 obeliscos. Eles foram dados de presente ao governo francês, mas apenas um foi levado para Paris e agora orna a praça da Concórdia. Como custou caro e deu trabalho, a França achou mais fácil deixar o segundo monumento na África. Houve uma troca de gentilezas e o país europeu deu um relógio e um luxuoso lustre, e ambos podem ser vistos na Citadela, em Cairo. O primeiro item, porém, deixou de funcionar assim que chegou ao continente.






























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