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No Bangladesh, imperam o trânsito caótico e a curiosidade das pessoas


Viajar pelo Bangladesh foi rememorar os 12,5 meses de África. Não pelo trânsito caótico, porque esse não tem competidor à altura —ok, quase chegam lá Cairo, no Egito, e Ho Chi Minh e Hanói, ambas no Vietnã. O que nos lembrou a primeira temporada dessa volta ao mundo foi o olhar curioso das pessoas. Ao gravar um vídeo ou mexer no celular na calçada, virávamos o centro das atenções.


Informações práticas*:
  • Média hospedagem: ৳ 3.188,50 (R$ 156,50)
  • Média almoço: ৳ 660 (R$ 32,50)
  • Visto: brasileiros precisam de visto
  • Moeda: taka (R$ 1 = ৳ 20,37)
  • Dica: O Uber funciona muito bem e, além de carro, é possível escolher moto e CNG, o tuktuk. Mas nenhum aceitou pagamento pelo aplicativo, apenas em dinheiro vivo.

* valores para março de 2025 para duas pessoas


Esse país da Ásia não tem recebido muitos turistas ultimamente, principalmente brasileiros, já que é necessário recorrer a uma embaixada para tirar o visto.

Sem falar que houve uma nada amistosa troca de cadeiras no governo recentemente, quando a então primeira-ministra Sheikh Hasina renunciou ao cargo em meados de 2024 e os militares colocaram no lugar Muhammed Yunus, conhecido como “banqueiro dos pobres” e Nobel da Paz de 2006. Isso tudo depois de muitos protestos e ao menos centenas de mortes de manifestantes.

Ao menos, o turista tem liberdade para viajar pelo território, ao contrário do vizinho Myanmar, já que lá certas regiões são proibidas para estrangeiros, por causa da guerra civil entre os rebeldes e as forças armadas da ditadura militar.

Aproveitamos essa liberdade para irmos, assim que cruzamos a fronteira entre Índia e Bangladesh, a Khulna, a terceira maior cidade do país, no sul. O objetivo era arranjar um passeio para o Sundarbans, uma das maiores florestas de mangue do mundo, num território compartilhado entre os dois vizinhos.

Os barcos costumam sair de Mongla, a cerca de 50 km de Khulna, e há roteiros de um dia só e os mais extensos, de duas ou três noites. Procuramos o menor e mais barato, que envolve duas paradas, normalmente Koromjal e Andarmanik.

Há várias agências turísticas na região do porto, mas os preços estavam acima do nosso orçamento: o mais barato custava ৳ 7.000 (R$ 343,50) por pessoa, com as taxas do parque. Uma alternativa seria irmos por conta até Mongla e lá negociar direto com um barqueiro, mas, por ser Ramadã, um importante período para os muçulmanos (91% dos bangladeses seguem a religião), poderia ser difícil encontrar quem fizesse o passeio.

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As duas partes da série ‘Aventuras Sem Chaves’ trazem relatos e muita informação das viagens por África e Oriente Médio e por Ásia e Oceania

Tentamos, então, unir o útil ao agradável: ir de barco até a capital, Daca. Assim, faríamos um necessário traslado e, ao mesmo tempo, contemplaríamos a vida do interior, mais ou menos como nossa experiência no Laos, quando passamos dois dias num rio entre a fronteira com a Tailândia e Luang Prabang.

Lemos relatos sobre o The Rocket, um enorme barco da época da colonização britânica, mas os funcionários das agências de turismo disseram não ser possível viajar pelos rios. Mesmo que eles sejam muito importantes para a economia do país.

Para aumentar nossa frustração, já que fomos para Khulna com esses dois passeios em mente, o trecho em que andamos por lá mostrou muito trânsito e comércio informal, sem respiro aos ouvidos ou olhos. Pode ser que a cidade tenha parques e praças, porém não os vimos.

A conturbada capital

Para pegar ônibus para Daca, outra lembrança da África. Na região das empresas, muitos homens nos abordaram perguntando nosso destino. Aprendemos no outro continente que, normalmente, eles te levam a uma agência e, em troca, pedem gorjeta.

Experientes e independentes, fomos por conta própria atrás das passagens. Um desses facilitadores, porém, grudou e nos acompanhou por dois endereços, servindo mais de papagaio do que outra coisa, pois repetia em inglês nossas perguntas aos vendedores. Pelo menos compramos os bilhetes (৳ 900/R$ 44), e ele foi embora.

Ao descermos em Daca, após 220 km e 3h45min, vimos que o trânsito de Khulna era fichinha perto dali. Afinal de contas, enquanto a outra cidade tem 1,3 milhão de habitantes, a capital abriga 10,4 milhões de pessoas. Se faltam semáforos, sobram viadutos para dar conta de tanto tuktuk e riquixá —um dos meios de transporte local, em que uma bicicleta, por vezes elétrica, ganha um anexo para colocar no máximo duas pessoas.

Nos hospedamos na região central, onde há bastante trânsito e comércio informal. É um desafio tanto atravessar ruas quanto conversar, pois buzinar é mais comum do que dar seta ou sinal de luz.

Pelo menos ficamos mais perto das atrações turísticas. O Museu Nacional (৳ 500/R$ 24,50) tem quatro andares e um acervo simples, mas informativo. Na seção geográfica, há animais empalhados ou réplicas, como do famoso tigre-de-bengala, natural dessa região.

Há uma ampla sala onde estão muitas fotos que narram a história da independência do Bangladesh. O Reino Unido começou a colonizar a região na metade do século 18 e, ao sair, em 1947, deixou o comando do território para o Paquistão. Inicialmente, aqui virou Bengala Oriental —até hoje há a província Bengala Ocidental na Índia, com Calcutá como capital— e, em 1954, passou a se chamar Paquistão Oriental.

Os bangladeses não gostavam do governo, já que os recursos ficavam com o território principal. Assim, protestos surgiram, inicialmente convocados por estudantes e, após muitos anos de conflitos, em 1971 houve a independência do Bangladesh. Os combatentes, chamados de freedom fighters, ganharam um status que perdura até hoje, já que 30% das vagas em cargos públicos são reservadas a seus descendentes, o que motivou as manifestações atuais e a queda da primeira-ministra, fato citado no início do texto.

Outro passeio legal em Daca é ir ao Forte Lalbagh (৳ 400/R$ 19,50), onde está a tumba de Pari Bibi, descendente de uma família importante e que morreu precocemente em 1678. No complexo, além do forte, há também uma enorme casa de banhos e um vasto e colorido jardim. Além de tudo, o lugar oferece sossego, pois as buzinas ecoam muito pouco por ali.

Visitamos também o Museu Ahsan Manzil, um belo palácio do século 19, mas o vimos apenas de fora. O caminho até lá foi cansativo, pois o trânsito pesado fez o tuktuk ficar parado tanto tempo que o motorista nos aconselhou a seguir a pé. O calor não ajudou nessa equação.

Nos organizamos para ir ao Museu da Liberação da Guerra, dedicado à independência de Bangladesh —há um prédio com temática semelhante voltado às forças policiais. Quando chegamos, descobrimos que as informações do Google Maps estavam erradas, pois fechava às 15h30 durante o Ramadã, e não às 18h.

Por um feliz acaso, mora em Daca o pai de um colega de escola da Pati. Silvio, adido agrícola do Brasil no Bangladesh, nos apresentou Gulshan e Banani, dois bairros abastados. Assim como nós, ele é adepto da caminhada exploratória, e andamos por várias ruas com calçadas largas e prédios requintados. Até tomamos café num lugar com nome curioso: Café São Paulo. Não encontramos, porém, outros falantes de português por lá.

Esses dois lugares dão uma outra impressão de Daca, apesar das buzinas constantes. Possuem vida própria, cheios de bares (sem álcool) e restaurantes, em especial após a reza de sexta-feira do Ramadã. Com essa boa impressão, deixamos Daca e o Bangladesh.

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