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Com fronteira entre Índia e Paquistão fechada por atentado, voamos por Omã


Índia e Paquistão têm uma histórica e conturbada relação, originada com o território compartilhado ganhando independência do Reino Unido, em 1947, e sua consequente divisão. Essa rusga fez da fronteira Wagah-Attari um espetáculo, pois os oficiais de ambos os lados organizam um espalhafatoso duelo diário, com direito à torcida na arquibancada. Estávamos ansiosos por assistir à apresentação, mas um atentado terrorista na Caxemira, dias antes de nossa travessia, fechou a única divisa aberta entre as duas nações e nos obrigou a recorrer a uma inusitada alternativa.

De Nova Delhi, pretendíamos ir de trem para Amritsar, a cidade mais próxima à fronteira. Com o atentado que matou deliberadamente 25 indianos e 1 nepalês, passamos a acompanhar as notícias diariamente para ver se teria implicações na divisa, enquanto pesquisávamos voos para chegar ao Paquistão.

Decidimos, por fim, fazer a travessia por ar. O problema é que já não havia viagens diretas entre os dois países, e agora, com o fechamento do espaço aéreo para companhias do vizinho, ficava mais reduzida a oferta de passagens.

A solução mais barata foi voar (US$ 174,50/R$ 1.041,50) para Mascate, a capital de Omã, país que visitamos em dezembro de 2023, e de lá seguir para Lahore (US$ 54,50/R$ 321,50), a cidade paquistanesa mais próxima da fronteira.

Voo Nova Delhi-Mascate

Nós, que acreditávamos que o voo entre Maldivas e Índia seria o último da segunda temporada, estávamos de volta ao Aeroporto Internacional Indira Gandhi, em Nova Delhi, apresentando passagem e passaporte para entrar no prédio.

O fato de Omã não cobrar visto de brasileiros que ficam até 14 dias no país facilitou nossa decisão de irmos para lá, assim como no check-in. Uma burocracia a menos para apresentar ao funcionário.

Na quarta e última saída da Índia, o oficial resolveu puxar papo e perguntar quais cidades visitamos e como um polonês conheceu uma brasileira —como o governo negou meu visto com o passaporte tupiniquim, usei o documento europeu no território.

Já acostumados com o rigoroso raio-x dos aeroportos indianos, tiramos todos os eletrônicos. Desta vez, porém, quiseram ver as máscaras de snorkeling, que vão na bagagem de mão. Vai entender os critérios.

O voo da Oman Air foi tranquilo e pousamos no vazio Aeroporto Internacional de Mascate após 3 horas. Lá, um inesperado revés.

Viajamos para a Índia e seus vizinhos como europeus porque o Bangladesh permite visa on arrival para poloneses e italianos, mas cobra um burocrático visto de brasileiros. A ideia, na última entrada no território indiano, era trocar de passaportes e transitar pela Ásia Central com o documento azul, pois talvez precisemos entrar novamente na Rússia, visa-free para nós, e porque as páginas começam a rarear.

Assim, fizemos o eTA (autorização eletrônica de viagem, na sigla em inglês) paquistanês com o passaporte brasileiro e eu esperava entrar em Omã já com ele, para a partir de então usá-lo sempre. Mas o oficial não estava nem aí para meus planos.

Como eu fiz o check-in como polonês, e meus dados estavam no sistema assim, eu não poderia “virar” brasileiro do nada. O sujeito perguntou o porquê da troca e, diante da minha explicação, ignorou minhas intenções. Isso fez as pouco mais de 24 horas em Mascate serem bastante tensas, pois passamos a temer uma nova recusa na troca de passaportes ao sairmos de Omã.

Voo Mascate-Lahore

Ficamos no mesmo hotel onde escrevemos uma parte do nosso primeiro livro, o “Aventuras Sem Chaves”, e aproveitamos para conseguir notas de dólares, já de olho no Afeganistão.

Quando voltamos ao aeroporto, fizemos o check-in com os documentos brasileiros, torcendo para que não exigissem o documento com o carimbo de entrada. Ali, mostramos o ETA impresso e também uma passagem falsa de saída do Paquistão. No fim, o funcionário e seu superior, simpáticos, nos deixaram passar. Agora, era hora de enfrentar a imigração. E deu trabalho.

Passamos separadamente e a Pati logo foi liberada. No meu caso, a oficial escaneou meu passaporte polonês e perguntou meu destino e a hora do voo, mesmo que essas informações estivessem no cartão de embarque diante dela, que eu já havia lhe entregado. Como não me encontrava no sistema, me encaminhou para o colega ao lado, que atendera a Pati.

Ele escaneou meu documento e fez as mesmas perguntas que a vizinha, e também quando eu havia entrado no país. Após várias tentativas de checar meus dados no computador e enquanto ligava para alguém, ele quis saber se eu tinha outro passaporte. Apresentei, então, o brasileiro.

Agora, ele conseguia achar a passagem em meu nome. O homem questionou, então, se eu estava com a brasileira que passara ali, e respondi que era minha esposa. Aí tudo fez sentido para ele. Mesmo irritado com a situação e reclamando bastante com a colega, o oficial carimbou meu passaporte polonês. Essa troca de documentos não deve ser nada comum por lá.


Se você é descendente de poloneses e quer saber se é possível ter sua cidadania reconhecida e o passaporte europeu, o Eduardo Joelson faz esse serviço burocrático. Em 2019 o Faraó o contratou e conseguiu rapidamente a documentação. Caso você o procure por meio da gente, ganhamos 5% de comissão.


Enquanto isso, a Pati me aguardava na longa fila do raio-x, aflita se eu conseguiria passar pela imigração e pensando em como poderíamos nos comunicar, já que o Wi-Fi no aeroporto só é liberado para telefones omanis. Enfim, passei por lá e nos unimos novamente.

O barato voo da Fly Jinnah saiu apenas às 2h50 e chegou depois de duas horas e meia ao Aeroporto Internacional Allama Iqbal, em Lahore. Teoricamente, eu não precisaria me preocupar, já que estava com passaporte e ETA com os mesmos dados, mas vai saber.

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A única fila de imigração para estrangeiros estava demorando, até sabermos que o sistema daquele guichê havia caído. Mudamos para outro e logo entreguei meus documentos. Tudo cadastrado e liberado rapidamente, sem perguntas. Na vez da Pati, deu ruim.

A agente levou mais tempo no sistema e perguntou para onde ela iria no país, ao que respondeu Lahore, Islamabad e Peshawar. Questionou, então, se ela iria a alguma das regiões especiais, o que foi negado. Por fim, carimbou o passaporte dela.

Enquanto pegávamos as bagagens na esteira, criamos uma teoria plausível para o estranhamento da oficial: a Pati tinha carimbos e passagens pela Índia no passaporte brasileiro. Era a única explicação, já que apresentamos os mesmos documentos e eu passei incólume.

Na saída do aeroporto, descobrimos que o cartão da Wise não funcionava nos dois ATMs disponíveis. Ainda bem que tínhamos dinheiro na Revolut, pois os caixas eletrônicos aceitaram. Sem Uber em Lahore, usamos o táxi tabelado para irmos ao centro da cidade e tentarmos aproveitar o Paquistão com menos preocupações burocráticas. Só tínhamos que nos atentar à tensão com a vizinha Índia.

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